Plano Dissimulado

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"No qual o nosso herói percebe a complexidade de um plano supostamente simples."


Uma coisa é certa: Maria está mesmo com fome.

Embora esteja comendo a lasagna de modo civilizado, é perceptível que ela trava uma luta interna para não cair de boca no prato a qualquer momento e tenta mastigar mais devagar a cada garfada.

Ainda não acredito que essa mulher sem juízo estava em jejum quando nos encontramos mais cedo em frente ao Griffith. Se eu soubesse que Maria não havia tomado o café da manhã, teria feito algo a respeito naquela hora.

Mesmo que ela alegasse o quanto estava atrasada para o trabalho, eu tentaria convencê-la a acabar com o jejum em alguma padaria pelo caminho. Caso ela recusasse a oferta veementemente — coisa que, de certo, faria —, eu levaria algo para ela comer depois que lhe deixasse no consultório então.

Conformo-me com o fato de que, pelo menos agora, o problema está sendo resolvido e volto a atenção para o meu próprio prato.

Enquanto levo o próximo pedaço da deliciosa lasagna à boca, relembro a imagem que vi há pouco no consultório do Dr. Strange.

Não devia me surpreender que o raio de sol interaja com os pacientes do pediatra de vez em quando, talvez até com bastante frequência. Ainda assim, vê-la com aquele bebê... Anthony nos braços foi uma das experiências mais curiosas que já presenciei. Sem dúvida, eu não estava preparado para essa bela imagem que vislumbrei ao entrar em silêncio no consultório. Tampouco, preparado para a forte onda que me inundou por dentro. Foi como um choque. Um choque... sublime!

Acho que nunca poderei admitir isso em voz alta sem me sentir patético, porém, a verdade é que, naquele instante, uma parte de mim imaginou que aquele pequeno ser humano fosse nosso. Mais do que isso, cada parte de mim se alegrou com a possibilidade de Maria e eu encomendarmos o nosso próprio Anthony no futuro.

Cenário esse que me traz de volta ao momento presente, é claro. Precisamente, ao plano de reconquistar Maria sem que ela perceba que estou fazendo isso. Afinal de contas, devo dar um passo de cada vez para não assustá-la. Já foi um parto convencê-la desse simples almoço.

— Um parto...

Acabo rindo do pensamento.

— O que disse?

Pelo visto, pensei alto demais.

O raio de sol me encara de cenho franzido, esperando uma explicação para a expressão que me escapou sem querer.

Rapidamente, indico nossas refeições e contorno o deslize:

— Um prato delicioso, não acha?

Maria me analisa por mais um instante. Aposto que não entende por que eu riria de algo saboroso. No fim, deve deduzir que sou maluco e se limita a concordar:

— Sim.

Lembro de algo que o raio de sol me disse ao finalmente aceitar o convite para esse almoço e não posso deixar passar em branco...

— Ainda acha que essa situação é um sacrifício, coração?

Enquanto corta o próximo pedaço, Maria responde:

— Pela lasagna, não. Está mesmo uma delícia. Já pela companhia... não posso afirmar o mesmo.

Tenho vontade de rebater com um sonoro mentirosa, porém me contenho. Porque preciso me conter e não flertar com Maria nesse momento.

Gênio Infame, Dama MordazOnde histórias criam vida. Descubra agora