"No qual nossa heroína ri para o nosso herói, e ele acredita que o fim do mundo está próximo."
Quem diria que o magnata mulherengo, Howard Stark, fosse subir no meu conceito? Apenas um pouco, é claro. A leve admiração que passei a sentir por ele, depois de ouvir a história de Ana Jarvis sobre o que ele fez por ela e pelo marido, não é tão digna de nota assim.
Enquanto me cercava de perguntas na sala sobre aquele bendito sorriso que simplesmente me venceu no jardim ao vê-lo na varanda, o playboy metido pareceu julgar minha mudança de comportamento mais importante do que realmente é.
Ora, não sei para que tanto escarcéu! Só por que reconheci que existe certa nobreza dentro dele?
O mais esquisito disso é que uma parte de mim ficou feliz por perceber que o Sr. Stark se sentiu bem só porque agora eu não o desprezo por completo. É quase como se o sujeito valorizasse a minha opinião para alguma coisa. E não há nada que me deixe mais lisonjeada do que ter a minha opinião levada em conta. É quase como se eu fosse importante para ele de algum jeito...
O que é um tremendo absurdo, diga-se. Howard Stark não nutre qualquer estima por mim. Sou apenas um par de pernas que não se rendeu aos seus encantos — supondo que ele possua mesmo algum — e, por isso, um mínimo sorriso e uma resposta menos atravessada de minha parte já foram suficientes para que ele entendesse como uma pequena vitória.
Em pé perto do sofá e próximo de Ana e do Sr. Jarvis, ele acompanha atento o Dr. Mills — um sujeito de uns cinquenta anos, cabelos levemente grisalhos e expressão simpática — finalizando a consulta de emergência.
Ninguém parece ligar para o fato do Sr. Stark ainda estar vestido com o robe que adora tanto. Um benefício do dono da casa, com certeza.
Como eu já havia previsto, foi um exagero fazer um médico — certamente, alguém muito ocupado — se desabalar até aqui para me examinar.
Tudo bem que eu bati a cabeça numa pedra ao rolar pelo chão feito uma fruta madura e cheguei a desmaiar, mas, após um minucioso exame e perguntas de praxe, o médico constatou que não foi tão grave quanto pareceu ao trio à minha volta. O ferimento na têmpora foi superficial, o hematoma irá desaparecer nos próximos dias e tive apenas uma leve concussão.
Nada que o analgésico receitado pelo doutor e um dia de repouso em minha cama não resolvam. Além disso, ele providenciou um curativo e me recomendou trocá-lo após algumas horas. De resto, estarei nova em folha muito em breve.
Estranho quando percebo um incontido sorriso surgindo no rosto do Dr. Mills, ao que ele prontamente se explica:
— Em todos esses anos de medicina, eu nunca atendi uma pessoa que foi atropelada por um flamingo.
Rio um pouco e acabo entrando na brincadeira:
— Pois saiba que foi a primeira vez que algo assim me aconteceu também. Aliás, o flamingo em questão com certeza está envergonhado pelo acidente. No geral, ele é muito dócil comigo.
Assim que o Dr. Mills fecha a maleta, se despede com um sorriso e um gentil desejo de melhoras, Jarvis o acompanha até a saída. Possivelmente, para acertar os honorários e levá-lo até o portão.
Ergo-me um pouco, de forma a ficar sentada no sofá ao invés de estirada feito uma enferma nas últimas. Só então reparo que o Sr. Stark mantém um olhar intrigado na minha direção.
— Bernard é dócil com você?
Sem entender por que isso é importante, devolvo com outra pergunta:
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Gênio Infame, Dama Mordaz
FanfictionDepois de sofrer uma desilusão amorosa, Maria Carbonell prometeu que nunca mais cairia nas garras de mulherengos traidores. Agora, ela só quer seguir em frente de cabeça erguida. Cientista e empresário brilhante, Howard Stark não esconde de ninguém...