Evolução das Espécies

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No qual nosso herói fica muito, muito descrente.

Ando de um lado para o outro da sala, sentindo o olhar inabalável de Jarvis me seguir a cada passo meu que atinge o assoalho em cheio.

Chegamos há pouco do desastroso encontro com Maria e seu irmão brutamontes, e eu ainda não consegui apaziguar a postura irritadiça que me acompanhou o caminho inteiro até aqui.

Odeio ter decepcionado Maria com meu momento de ciúme. Ao mesmo tempo, odeio que ela sempre exija tanto de mim.

O que eu fiz não foi louvável, mas também não foi tão grave. Foi?

— Que mulher difícil de agradar! — resmungo entre os dentes. — O que ela queria que eu pensasse afinal, hum?!

Paro no centro da sala, mãos na cintura e olhar desafiador na direção de Jarvis.

Ele abre a boca e fecha em seguida, exalando desconforto com a pergunta. Abre os lábios novamente. Por um momento, tenho certeza que enfim dirá algo, só que ele desiste no último instante e desvia o olhar para um ponto vazio do recinto.

— Como eu ia saber que o sujeito era só irmão dela? — insisto. — Eles estavam grudados um no outro!

Jarvis volta a atenção para mim de imediato e, dessa vez, resolve se manifestar:

— Sr. Stark, foi apenas um abraço emocionado entre irmãos que não se viam há um bom tempo. Nada mais natural.

— Não me diga! Agora eu tenho pleno conhecimento disso — resmungo com azedume. — Mas como eu ia imaginar que fosse esse o caso naquele instante infeliz? Eu não tenho bola de cristal, ora!

Meu mordomo e amigo hesita por um segundo. Apenas por um segundo.

— Com todo o respeito, eu não creio que confiança tenha qualquer relação com clarividência, senhor — argumenta num tom cauteloso, porém firme.

Estreito o olhar com insatisfação, só que a verdade é que, por mais que o comentário me incomode, também me faz vestir a carapuça. E ela serve direitinho, inferno!

Não tenho como argumentar contra isso, então só me resta concluir que...

— Você acha que eu agi mal.

No fundo, também acho. Não, eu tenho certeza. Meti os pés pelas mãos sim, mas quem nunca?

— Sendo franco, bem é que não foi. Sem dúvida, uma atitude desnecessária.

Ora! Também não precisa tripudiar!

— De que lado você está mesmo?

— Da civilidade e do bom senso sempre — Jarvis afirma com a diplomacia costumeira. — Além disso, mesmo que a Srta. Carbonell tivesse um amante, hipótese totalmente infundada na minha opinião, acredita mesmo que ela veria o sujeito em plena luz do dia e sabendo muito bem que o senhor estava a caminho para encontrá-la?

Não preciso nem pensar para responder a isso. É óbvio que Maria jamais faria uma coisa dessas. Posso conhecê-la há pouco tempo, porém já tive uma boa amostra do seu caráter e coração. Ela seria incapaz de me enganar; de enganar qualquer pessoa, aliás.

O problema é que, naquela maldita hora, a razão decidiu sair para umas férias e eu pensei justamente o contrário, pensei o pior do raio de sol e sinto que a minha postura denunciou que isso se passava na minha cabeça.

Derrotado, deixo-me cair no sofá. Longos segundos se passam até que admito num tom baixo:

— Muito bem, eu me precipitei. Porque fiquei... — Com medo, penso. — Cego.

E a cegueira momentânea foi consequência desse medo. Um medo primitivo que nunca senti antes. Porque nunca tive alguém com quem me importasse assim, de verdade, como me importo com Maria. Logo, nunca tive que me preocupar com infidelidade e rivais no meu caminho. Até Maria surgir e virar minha vida de cabeça para baixo...

Foi perturbador me sentir tão inseguro naquela escadaria diante dela. Exposto e à mercê de sentimentos tão novos.

Tentando justificar minha reação, reassumo o ar defensivo e disparo acusações pelo ar:

— Só que ela também exagerou! Você viu aquele nariz empinado? O jeito recriminatório como me encarou? O sarcasmo nas palavras quando finalmente me apresentou o irmão brucutu? Eu sei que não fui muito maduro, Jarvis, mas você há de concordar que Maria tem uma péssima, irritante e desnecessária propensão para o drama! E isso me tira do sério e...

Paro de cuspir fogo quando noto o semblante de Jarvis estranhamente inquieto e um tanto lívido, como se quisesse muito me interromper para contar algo assaz importante. O olhar alarmado chega a me focalizar por um segundo, porém, depois... o olhar dele se volta para a entrada da sala.

— Ela está bem atrás de mim, não é? — suponho.

Como estou de costas para a porta, não pude ver Maria chegando. Que maravilha! Nada constrangedor.

— Precisamente, Sr. Stark. Com licença e... b-boa sorte.

Jarvis passa ligeiro por mim, cumprimenta a dama mordaz com um rápido aceno e nos deixa sozinhos.

Sozinhos com um silêncio massacrante.

Um pouco a contragosto, olho para Maria; e ela desvia o olhar de imediato. Para minha surpresa, não faz isso com a petulância que eu esperava. Na verdade, parece sem graça e um tanto acuada. E há outra coisa na sua postura também, algo que não consigo identificar o que é exatamente e isso me intriga.

Tudo o que sei é que Maria está diferente de uma hora atrás. E que não parece furiosa, como eu também esperava que estaria quando me reencontrasse. É esquisito, ela parece... cansada? Desanimada? Abalada?

Ainda estou tentando decifrá-la quando Maria me surpreende mais uma vez, caminhando devagar até o sofá perto de mim e se sentando nele. Ou está disfarçando muito bem a fúria interior ou é relativamente seguro me aproximar.

Mesmo desconfiado, decido arriscar e me acomodo ao seu lado. Não tão perto, claro. É como dizem, o seguro morreu de velho.

Observo-a de soslaio e, uma vez que Maria não dá qualquer indício de que irá explodir feito uma dinamite nos próximos segundos, arrisco mais um pouco. Uma ligeira aproximação, deslizando com cautela pelo estofado até sobrar uma distância mínima entre nossos ombros.

Ela não protesta nem faz qualquer menção de se afastar, porém as mãos ficam um tanto inquietas sobre o colo, amassando uma renda do vestido enquanto ela mantem a cabeça baixa.

Movido por um instinto, coloco minha mão direita sobre as dela. E fico tenso pois Maria interrompe o ilógico movimento dos dedos, transformando-se numa verdadeira estátua.

Então eu penso: é agora. Agora que ela vai despertar dessa suposta calmaria, colocar as garras de fora e mostrar realmente a que veio. Para me trucidar!

Ou... não.

Definitivamente não é o que acontece. Porque, ao invés de me repelir com um gesto abrupto, se colocar de pé e me fulminar com um de seus olhares indignados enquanto enfim me recrimina pela cena na frente do Griffith, Maria deixa os dedos resvalarem de maneira suave nos meus até que... entrelaça minha mão por completo.

O toque quente da sua pele na minha e o jeito tímido como o polegar desenha círculos carinhosos no dorso da minha mão me fazem piscar desnorteado.

Que tipo de jogo é esse? A menos, é claro, que não seja um jogo. É possível que ela esteja mesmo calma?!

Avalio a situação em que estamos e o que aconteceu mais cedo. Avalio o silêncio ainda não rompido e a postura estranhamente paciente da mulher ao meu lado. Por fim, deduzo que talvez — se eu não tiver perdido o juízo — Maria tenha resolvido me dar uma chance de me explicar.

Decidido a abraçar a oferta, expiro com força e vou direto ao ponto:

— Eu não devia ter tirado conclusões erradas só porque fiquei com... — Engulo em seco. Do que adianta negar? Melhor dizer de uma vez. — Ciúme, maldição.

Respiro fundo. Até que não doeu tanto no meu orgulho. Mentira, dói sim. Paciência. Vou em frente:

— Eu não sou um homem habituado a pedir desculpas, Maria, mas nesse caso... lamento como me comportei.

Ela permanece em silêncio por mais um tempo até que, enfim, diz baixinho:

— Tudo bem.

O problema é que não é isso que eu escuto. Pelo menos, não num primeiro momento.

Irritado, me coloco de pé com um pulo, o que causa um sobressalto na dama mordaz. Então, quem explode sou eu!

— Aaaaaah! Pela maçã de Isaac Newton, mulher! Eu errei, mas...

Eu paro. Só então escuto o que ela murmurou. A incredulidade surge inevitável. Esfrego a nuca.

— Espere um pouco, você acabou de dizer tudo bem?

Um sorriso fraco surge no rosto dela.

— Decepcionado?

Encaro-a, sentindo-me mais perdido do que nunca.

— Um pouco descrente, devo dizer. Eu pensei que você não tivesse gostado de como eu agi.

Maria endireita a postura e me olha de um jeito mais sério e incisivo.

— E não gostei mesmo.

Só que tal postura logo é abandonada e ela dá de ombros. Não consigo evitar uma nova onda de desconfiança. Como assim isso é o máximo de bronca que vou ouvir?!

— Por outro lado, eu entendo por que você se sentiu ameaçado e reagiu daquela maneira.

É o quê? Ela entende?

— Hein?

Sem ligar para a minha confusão, Maria continua o próprio raciocínio:

— Além disso, eu seria... Bem, hipócrita se ignorasse que, há pouquíssimo tempo, também cheguei a conclusões equivocadas sobre você. Eu te julguei pelas aparências e pensei que você só queria me usar. — Maria respira fundo, mais relaxada, mais estranha. — Então, se está arrependido e quer esquecer essa manhã desastrosa, nada me deixaria mais feliz do que colocar uma pedra no assunto e seguir em frente.

Estreito o olhar na direção dela. A esmola é demais para não desconfiar.

— Quem é você e o que fez com a Maria Rolo Compressor? Aquela que adora me massacrar por qualquer mal-entendido. Onde está?

Dessa vez, é ela quem me encara como se estivesse diante de um ser de outro mundo. Uma expressão ofendida surge.

— Eu sou tão terrível assim?

Sento ao lado dela mais uma vez e chego bem perto a fim de escrutinar seu rosto à procura de qualquer dica do que está por trás de tanta compreensão.

— Qual é a pegadinha, Maria?

Ela se aproxima do mesmo jeito, o olhar cravado no meu. Vejo firmeza neles quando ela pontua sem rodeios:

— Nenhuma, seu tonto. Eu só estou tentando ser razoável com você. E evoluir por mim mesma também.

— Evoluir? — indago, incerto se entendi direito.

— Exato.

Recuo um pouco porque não consigo pensar direito tão perto desses olhos. Se bem que a ligeira distância não ajuda muito agora. Minha cabeça continua a mil.

— Evoluir é bom — consigo dizer. Fico em silêncio por um tempo. E depois... — Não para todas as espécies, infelizmente. Algumas perdem características fabulosas e outras entram em extinção por não serem capazes de se adaptar e..

— Howard? — Maria me interrompe, há uma nota de diversão em sua voz. — Você está tagarelando?

Estou? Maldição, estou mesmo.

Endireito a postura e esclareço um tanto sem graça:

— Desculpe, eu costumo devanear sobre Ciência quando fico em choque. É o meu refúgio.

Ela ri, um som melodioso que toda vez mexe de um jeito bom comigo. É relaxante e hipnótico.

— Bom, pelo menos eu não menti para o meu irmão sobre isso, você é mesmo um homem excêntrico, Howard Stark.

Volto ao planeta ao ouvir tal desaforo.

— Falou para ele que eu sou maluco?! Quanta audácia!

Maria ergue um dedo em riste e corrige:

Excêntrico, não maluco.

Estou tentando decidir se isso faz alguma diferença quando ela muda o rumo da conversa:

— Sinto muito por ter sido rude com você na frente do Jimmy. Você tem razão nesse ponto; às vezes, eu exagero mesmo. É que quando percebi que você tinha desconfiado de mim, fiquei tão... furiosa.

Pisco, mais desnorteado. Maria acabou de ceder mais um pouco ou estou delirando?

— Você sabia que, de acordo com a Teoria da Relatividade, o espaço-tempo consiste em...

— Pelo amor de Deus, homem. — ela segura meu rosto entre as mãos e é nítido que luta contra a vontade de rir. — Eu só não quero mais fazer tempestade em copo d'água. Eu sei que você esperava um embate no melhor estilo Howard e Maria, mas eu realmente não quero isso agora.

Eu deveria ficar mais que satisfeito com essas palavras, no entanto, ouço-me insistindo numa questão:

— Mas eu duvidei de você. Pensei que tivesse outro. Um maldito... amante.

Digo a última palavra com um resmungo cheio de amargura. Tenho raiva de mim por ter cogitado a ideia. E imaginar Maria nos braços de outro homem volta a atiçar o ciúme irracional.

Para meu alívio, ela me olha de um jeito carinhoso e tranquiliza de vez qualquer paranoia que ainda ronde minha cabeça:

— Bom, espero que você tenha entendido o absurdo de tal coisa. Eu não quero outro, patife.

Só você, é o que seus olhos dardejando nos meus afirmam, fazendo cada fibra do meu corpo relaxar por completo.

Sentindo-me confiante de novo, sorrio torto para Maria. Beijo a palma de sua mão. E depois sua boca porque não sou de ferro e já estava ansiando por isso desde que ela colocou os lindos tornozelos por aqui.

Ela corresponde devagar, com uma doçura que sela de vez a paz entre nós.

Com um braço, envolvo sua cintura e trago-a para mais perto. E ela vem. Aninha-se perfeitamente junto a mim. O calor nos envolve ainda mais.

No entanto, quando afasto os lábios para respirar e apoio a testa na dela, Maria abre os olhos e eu vejo algo neles. Algo que ela vinha disfarçando desde que cruzou a porta.

Eu havia desconfiado que ela estava um tanto abalada por algum motivo. Pensei que fosse por minha causa, mas agora... Acho que o buraco pode ser bem mais embaixo.

— Meu QI está detectando algo errado.

Maria balança a cabeça em negativa, porém vejo muito bem a nota de melancolia no gesto.

— Está apitando sem parar agora.

— Não seja bobo... — Ela ri com desconforto, uma clara tentativa de se esquivar. — Não é nada.

Penso um pouco e logo uma suspeita surge. Com certeza, nada é que não é.

— O que o seu irmão fez com você? — questiono e, pela expressão desolada de Maria, sei que estou no caminho certo. — Por que veio te visitar do nada? O que diabos te disse?

Ela não pronuncia qualquer palavra. Não acho que consiga formular uma resposta agora. Um leve tremor em seu queixo não me passa despercebido.

Diante disso tudo, meu sangue fica gelado nas veias e uma promessa irrompe com dureza da minha garganta:

— Eu vou acabar com ele.

E é então que algo impensado e insensível acontece. O queixo do raio de sol estremece de novo; dessa vez, porque ela ri.

Ri como se tivesse ouvido um tremendo absurdo ou uma piada das melhores, ri com nenhuma confiança no meu plano de defendê-la, o que atinge em cheio o meu brio.

Para piorar, Maria ainda contrapõe com um tom que traduz bem sua incredulidade:

— Não vai, não. Sinto em te dizer, mas não sobraria um fio desse bigode ridículo para contar história. Aliás, foi exatamente por isso que eu não contei a verdade sobre você. Jimmy não vai compreender tão fácil e eu fiquei com medo que ele te machucasse ali mesmo, no meio da rua.

Que desaforo!

— Assim você me ofende — deixo clara minha insatisfação, falando num tom seco. — Eu posso não ser um Capitão América, mas sei muito bem me defender, obrigado.

O problema é que Maria não acredita. E ri mais um pouco. Muito para o meu gosto. Até que faz um esforço para se controlar e arremata minha humilhação:

— Não dele, meu bem.

Indignado e com o orgulho ferido, ponho-me de pé e argumento com mais vigor:

— Ora! Eu não ligo se Jimmy Carbonell é um armário e me partiria ao meio! Ele te deixou triste e ninguém deixa o meu raio de sol triste.

Maria se levanta do sofá também, visivelmente afetada com essas palavras. Não está mais rindo de mim. Ao invés disso, lança um olhar muito dúlcido na minha direção. Com um passo, vence a curta distância entre nós e toca meu rosto com um carinho suave.

— Ah, Howard. Você é um idiota às vezes, mas, no restante do tempo...

Um rubor pinta de vermelho suas bochechas. Maria hesita de um jeito encantador, mexida com a  conclusão não verbalizada.

Conclusão esta que desperta meu interesse de maneira irresistível. De repente, quero muito ouvir o resto da sentença. Se ela pensa que vou deixar por isso mesmo, engana-se feio.

Arqueio as sobrancelhas e coloco as mãos em sua cintura, mantendo-a cativa, sem escapatória.

— No restante do tempo...?

Ela demora alguns instantes para deixar a hesitação para trás. Sorri de leve, o que causa uma ligeira palpitação no centro do meu peito.

— É tudo que eu preciso — revela, olhando-me com um sentimento intenso e serenidade ao mesmo tempo. — O homem perfeito pra mim.

Impossível não beijá-la mais uma vez ao ouvir tal confissão. Impossível não me perder nesses lábios de mel de novo. E impossível não experimentar a mesma certeza que ela. A certeza de que Maria Carbonell também é tudo que eu preciso, a pessoa que eu nem sabia que queria tanto na minha vida.

O calor do seu corpo e a suavidade profunda do beijo são tão inebriantes que quase dou o assunto em suspenso por encerrado. Quase.

Um esforço e consigo me afastar de sua boca. Se Maria está com algum problema, sofrendo por qualquer motivo, eu quero saber.

— O que ele fez? — retomo, com um olhar bem insistente. — Me diga.

Seja lá o que for, o raio de sol ainda prefere não me contar porque tudo o que fala com ar triste é:

— Não importa. A essa altura, Jimmy já deve estar a caminho de casa para desfazer tudo.

Esse é o momento em que eu deveria perguntar “tudo o quê?”, entretanto, ouço-me praticamente comemorando:

— O Armário Humano foi embora?!

Então, a dama mordaz cruza os braços e me analisa com uma de suas expressões mais irritantes.

— Ora, ora. Alguém parece aliviado.

Disfarço como posso, empertigo-me bem e tento contornar a situação com naturalidade:

— Bem, no fundo eu não queria partir para a violência. Ele é seu irmão, afinal. E eu, um cavalheiro. Melhor assim.

— Melhor assim — Maria repete com ar insolente e um sorriso mal contido.

Ergo um dedo em riste e ressalvo com determinação:

— Mas se fosse necessário esfregar a cara dele no chão e dar uns bons sopapos para que te pedisse desculpas, pode ter certeza que eu faria!

— Ou morreria tentando.

— Ou morreria ten... — Dou-me conta da provocação e reajo de pronto: — Atrevida.

Ela comprime os lábios e ergue as mãozinhas em rendição como se não tivesse debochado de mim mais uma vez.

Antes que eu pense numa boa réplica, Maria me dá um beijo terno no rosto e conclui de um jeito mais sério:

— Obrigada, Howard. De verdade.

Ela aperta minha mão por um instante a mais. Depois, deixa a sala a fim de começar mais um dia de trabalho.

Sozinho com meus pensamentos, fico dividido. Alegre por termos acertado os ponteiros e sem o atrito que eu esperava. Aliviado pelo irmão brutamontes dela ter partido. E inquieto, já que tenho a impressão de que o problema que Jimmy trouxe ao visitar a irmã, seja ele qual for, ainda pode vir a me assombrar no futuro.

Gênio Infame, Dama MordazOnde histórias criam vida. Descubra agora