Howard Irritante Stark

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No qual o nosso herói e a nossa heroína chegam a um entendimento. Em parte.


Tem alguma coisa errada comigo. E com Howard também, com certeza. Não pode ser normal duas pessoas fazerem... bom, aquilo tantas vezes seguidas. Com a mesma energia e entrega. O que nós somos, afinal? Um casal de coelhos insaciáveis?

Foi apenas saudade. Excesso de saudade. E uma generosa dose de desejo acumulado também.

Tento me convencer. Não funciona. Sei muito bem que foi muito mais do que isso.

Arrancando-me da reflexão, meu estômago protesta de repente. Ruidoso o bastante para que o patife irresistível, abraçando-me por trás, certamente possa ouvir.

Fecho os olhos com força numa careta e espero por seu riso debochado. Que não vem. Em vez da risada, sinto uma respiração mais profunda contra meu pescoço.

Franzo o cenho.

Será que Howard dormiu? Esgotou as forças, afinal?

Pelo visto sim, porque ele está totalmente imóvel junto a mim e não falou mais nada desde... Bom, desde a última vez que nos entregamos um ao outro.

Tal lembrança, recente e carregada de paixão, reverbera em meu corpo como uma última fagulha da fogueira que nos incendiou.

Respiro fundo e analiso o quarto à minha volta, tentando me distrair com qualquer outra coisa que não seja o corpo nu de Howard Stark junto ao meu embaixo do sedoso lençol.

Eu já estive nesse quarto antes. Claro que em outras circunstâncias e devidamente vestida. Nunca, mesmo quando estávamos juntos, eu havia ousado me embrenhar na cama dele como fiz hoje.

Sei que, pelo dito cujo, teria acontecido aqui há muito tempo. Só que me pareceu meio impróprio cogitar essa ideia na época. Já era muito ousado da minha parte permitir que Howard se arriscasse, entrando pela janela do meu quarto no Griffith em tantas noites para se embrenhar na minha cama.

Para mim, o quarto desse patife era como um território proibido. Um último limite e um resquício do meu bom senso. Transpor essa barreira elevaria nossa relação a um nível de intimidade e envolvimento que, refletindo agora, talvez eu não estivesse pronta para deixar acontecer na época.

Acho que, no fundo, eu tinha medo e alimentei a ilusão de que, mantendo os pés longe do seu quarto, eu ainda teria algum controle sobre meus sentimentos.

Se restava mesmo algum controle, agora não existe mais. Porque ultrapassei o limite final. Estou na cama de Howard. E vim parar nela por minha própria vontade...

Não só isso, o lugar foi ideia minha! Ah, e o pior! Alguma coisa me impede de sair daqui mesmo desconfiada de que posso me machucar se permanecer e confiar nele de novo.

A previsão me entristece, porém não se sustenta por muito tempo. Algo dentro de mim silencia o pessimismo e quer acreditar que, dessa vez, tudo seria diferente entre nós. Afinal, Howard já me deu provas de que se arrependeu daquele dia terrível em que me destratou por conta de um ciúme bobo e fez tudo desandar entre nós.

Ele está mais maduro desde que voltou de viagem e tornou a me procurar. Irritante como sempre, achando-se o homem mais engraçado do mundo como sempre, mas, sem dúvida, evoluído de algum modo. Além disso, foi extremamente carinhoso e me chamou de... meu amor há pouco, não foi? Isso deve significar alguma coisa. Ou não?

Será que só estou me iludindo? Será que Howard disse tal coisa apenas no calor do momento? Movido pelo desejo e nada mais? Será que pretende mesmo me reconquistar ou acabará dando-se por satisfeito com minha amizade, flertes descarados e eventual companhia na cama?

Gênio Infame, Dama MordazOnde histórias criam vida. Descubra agora