Teimosia

292 29 17
                                    

"No qual nosso herói e nossa heroína conhecem... Anthony."


Confesso que não entendi muito bem o que se passou essa manhã, por mais que repasse cada acontecimento em minha mente.

O reencontro com Howard, para o qual eu claramente não estava preparada, a maneira afetuosa e patética como o abracei por culpa de uma saudade absurda que eu também não previ que sentiria ao revê-lo, nossa conversa despretensiosa e, ainda assim, repleta de significado a caminho daqui, os olhares involuntários que trocamos, a presença magnética dele ao meu lado, tudo muito intenso e ainda sendo assimilado dentro de mim.

Quem o patife pensa que é para voltar de repente e virar meu mundo de cabeça para baixo de novo?

— Senhorita?! Srta. Carbonell?! Olá!

Ao ouvir alguém se dirigir a mim com um tom alto e incisivo, paro de tamborilar os dedos na mesa, desperto sobressaltada do momento de reflexão e ergo a cabeça de pronto para atender a mulher que está bem na minha frente.

— Perdão! — Endireito a postura e sorrio amarelo para a Sra. Morris, mãe de um dos pacientes do Dr. Strange. — Posso ajudar?

Ela responde com outra pergunta:

— Você poderia segurá-lo, por gentileza? Só para eu procurar o talão de cheques.

A Sra. Morris indica com a cabeça o bebê em seu colo, e só então eu compreendo que a pobre mulher está tentando abrir a bolsa ao mesmo tempo em que o filho choraminga e agita os bracinhos querendo toda a atenção da mãe.

Meninos... Desde o berço, geniosos e carentes.

— Claro! — Coloco-me de pé num pulo e dou a volta na mesa para auxiliá-la, envergonhada por não ter notado que ela precisava de ajuda antes. — Mil perdões mais uma vez, Sra. Morris, eu não reparei que a consulta já havia terminado nem que a senhora estava me chamando.

Estendo os braços para segurar o bebê que acaba de completar oito meses, aconchegando-o com cuidado junto a mim.

— Imagina, querida, não tem problema — ela responde de modo gentil, colocando a bolsa sobre a minha mesa para enfim abrir o fecho. — Não sentiu o tempo passar, então?

Lanço os olhos para o relógio que fica na parede atrás da minha mesa e confesso ficar um tanto abismada com o horário que encontro nele.

— Não — admito.

Da última vez que chequei, justamente quando a Sra. Morris havia acabado de adentrar a sala do Dr. Strange, eram onze horas e dez minutos. Agora, os ponteiros marcam meio-dia e vinte, e eu me pergunto como pude ficar tão absorta em pensamentos para perder tanto assim a noção do tempo à minha volta.

Dou-me conta de que sei muito bem a resposta para tal enigma, e por isso mesmo afasto a imagem do patife atrevido para um canto recluso da minha mente. Tranco-o a sete chaves lá. Ou tento.

Sorrio para o bebê em meus braços enquanto ele parece assimilar a troca de colo e estudar o que fará a respeito. Uma careta de desgosto, abrir o berreiro sem cerimônia ou simplesmente me esnobar com indiferença?

Murmuro carinhosamente para distrai-lo, assopro o ar fazendo barulho com os lábios e seguro sua mãozinha tão macia entre meus dedos, convencida de que, independentemente do que ele faça, nada irá abalar o que de fato é, uma criaturinha muito risonha!

Meninos... Geniosos sim, carentes sim, mas muito fofos também! São quase... hipnóticos!

O pensamento me faz rir e o pequeno paciente me observa com curiosidade inocente até que solta um gritinho agudo e... delicioso!

Gênio Infame, Dama MordazOnde histórias criam vida. Descubra agora