Ferraduras Novas

349 46 53
                                    


"No qual nossa heroína explica interpretação de texto ao nosso herói."


Graças a Deus, nunca estive numa guerra. Todavia, algo me diz que o laboratório de Howard se assemelha muito a um campo de batalha nesse momento.

O caos está espalhado por toda a parte. Na infinidade de aparelhos em funcionamento ao mesmo tempo e na quantidade impressionante de tubos de ensaio sobre o balcão abarrotado de papéis amarfanhados. O caos também está estampado em um desses papéis, arremessado em formato de bolinha e que veio parar aos meus pés assim que a porta do laboratório se abriu. E na própria imagem um tanto desgrenhada do homem que me encara de volta com nítida surpresa.

Apesar de desalinhado como se encontra, há algo de encantador em Howard Stark nesse instante. Algo que me leva a esboçar um sorriso inevitável para ele e — com toda a certeza — corar feito uma mocinha idiota.

Se, há certo tempo atrás, alguém me dissesse que eu seria tão apaixonada por esse traste, eu nunca acreditaria. No entanto, aqui estou eu, pagando minha língua e muito feliz por isso.

— É seguro me aproximar?

Howard não responde. Ainda parece surpreso com a minha presença. Inerte e um tanto chocado, talvez se encaixem melhor.

Apesar de estranhar essa sua postura, desvio da bolinha de papel no chão e dou alguns passos à frente enquanto recomeço:

— O Sr. Jarvis me disse que você está com dor de cabeça.

— Jarvis é um linguarudo intrometido.

Detenho o passo, meio assustada com o resmungo feroz do patife sobre seu mordomo e leal amigo.

— E de mau humor. Vejo que ele estava certo quanto a isso... — Penso um pouco e uma ideia atrevida surge. Sorrio com carinho para Howard. — Diga-me, você se sentirá melhor com um beijo?

Se o gênio infame já estava chocado antes, agora parece ter sido acometido por uma descarga elétrica exorbitante.

— O quê?!

Não era a reação que eu esperava. De fato, tudo que eu esperava era que ele não falasse nada, apenas ficasse bem animado com a sugestão, vencesse a nossa distância rapidamente e me tomasse nos braços com um beijo de tirar o fôlego.

Como os beijos que me deu ao longo da noite.

Droga... Sinto que estou corando de novo, ao mesmo tempo que uma palpitação já familiar acelera meu peito.

E sinto-me meio idiota por me ouvir explicando logo depois num ritmo afoito:

— Eu cheguei mais cedo, ainda tenho alguns minutos antes de iniciar o expediente, poderia muito bem te dar um beijo agora e...

E Howard não faz nada. Não muda de expressão, não me olha com aquele ardor que me faz derreter toda vez, tampouco vem até mim sem pensar duas vezes. Ele permanece exatamente aonde está, feito uma estátua de puro gelo, gerando uma atmosfera desconfortável entre nós.

Não, definitivamente não era isso que eu esperava encontrar essa manhã.

Quando enfim diz alguma coisa, também não é o que eu ansiava ouvir dele...

— Acho que não é uma boa ideia. Obrigado mesmo assim.

Obrigado mesmo assim?

O que diabos aconteceu com o patife? Talvez não esteja apenas com dor de cabeça e mal humorado, e sim muito, muito doente para recusar um beijo sem mais nem menos.

Gênio Infame, Dama MordazOnde histórias criam vida. Descubra agora