Tornozelos Perfeitos

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"No qual nosso herói se apaixona. Mas só pelos tornozelos da heroína."


Não sou do tipo de homem que acredita na existência de um deus supremo, mas enquanto admiro a beleza das beldades caminhando ao meu redor e mergulhando na piscina com seus maiôs coloridos, quase mudo de ideia. Se Deus existe, essa com certeza é sua grande obra-prima: a mulher.

Mas, como não sou um crente, vou chamar essa inteligência de A Natureza. E ela foi simplesmente perfeita com essa parte da criação. Está de parabéns e tem em mim um grande fã do primoroso trabalho.

Em cada mulher reside um encanto singular. Em cada olhar, uma chama desconcertante. No som de cada gargalhada e em cada sorriso há uma beleza distinta, todas elas são fascinantes do seu próprio jeito. É impossível resistir porque cada mulher é um convite ao flerte. Cada uma, um mistério diferente.

Meu vício? Decifrá-las enquanto temos inesquecíveis e prazerosos momentos juntos.

Por falar em inesquecíveis, parece que Jarvis se esqueceu de trazer mais bebidas para a minha reunião de trabalho, pois na mesa arrumada à borda da piscina, onde aliás estou sentado admirando a vista, só há garrafas vazias, taças e copos abandonados. Muitos com marca de batom.

- Jarvis! Traga mais whisky e gelo!

Sim, reunião de trabalho. Comigo mesmo e meu cérebro invejável. Estou refletindo sobre uma das minhas invenções há algumas horas, uma que espero um dia colocar em prática pois trata-se de algo complexo para a tecnologia atual. Um núcleo de paládio.

Mulheres bonitas contagiando o ambiente sempre me ajudam a pensar melhor. E, por mais incrível que possa parecer, consigo dividir a atenção do meu cérebro entre cálculos e curvas femininas. Ser um gênio tem dessas coisas, sou autossuficiente, além de um exímio amante.

- Jarvis! Você se perdeu, homem?!

Meu mordomo e grande amigo finalmente sai da casa e se aproxima equilibrando uma bandeja.

- Desculpe a demora, senhor. - Ele dispõe uma nova garrafa na mesa, um balde de gelo e recolhe a garrafa vazia. - Eu estava servindo mais uma xícara de chá para a Srta. Maria Carbonell.

- E quem é essa?

Jarvis me serve uma dose enquanto esclarece:

- Uma candidata à vaga de arrumadeira. Por incrível que pareça, alguém veio.

Giro o copo entre os dedos, tomo um gole e questiono de forma retórica:

- Você ainda acha que o meu anúncio foi impróprio, não é?

- Perdoe-me a sinceridade, senhor, mas impróprio seria um eufemismo. Estou certo de que a Srta. Carbonell concorda comigo, pois fez questão de deixar claro que sua motivação para ter vindo foi estritamente pelo salário e por não exigirmos experiência. Ela pareceu bem constrangida com o restante do seu texto.

Por um momento, imagino a expressão da tal candidata ao ler o anúncio da vaga de emprego no jornal desta manhã. Os lábios macios se abrindo em choque, os olhos arregalando-se em cada palavra, as bochechas deliciosamente coradas no final da leitura.

- Como ela é, Jarvis? - Tomo mais um gole da bebida e, antes que ele me responda, tenho uma ideia melhor. - Não, não me diga! Prefiro ver com os meus próprios olhos. É um bom momento para ela conhecer o futuro patrão, não acha?

Afinal, uma mulher que responde a um anúncio espirituoso daqueles merece alguma atenção.

- Na verdade, nós ainda não acertamos a contratação, senhor. A Srta. Carbonell me parece um pouco hesitante.

Gênio Infame, Dama MordazOnde histórias criam vida. Descubra agora