Você é você!

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"No qual nosso herói e nossa heroína desperdiçam papel. E não poupam palavras também."


Difícil acreditar que essa saia justa está mesmo acontecendo. Eu pensei que depois de ontem, nunca mais teria que colocar os olhos em Howard Stark. Estava disposta a lutar contra o sentimento que o gênio infame despertou em mim e esquecê-lo a todo custo. Achei que com a distância seria menos complicado até. O que os olhos não veem, o coração não sente, certo?

Então, justo quando eu pretendia começar um dia novo, pronta para sair e bater perna à procura do próximo emprego, ele apareceu feito uma assombração. Bem na minha porta, bem na minha frente e praticamente invadiu o meu quarto.

Desconfio que estava fugindo de alguém no corredor, mas quem seria? Talvez da Sra. Fry, já que ela não permite visitantes do sexo masculino depois da recepção.

Ainda estou tentando decidir como me sinto sobre a surpreendente aparição diante de mim, quando Howard me confronta com uma expressão nenhum pouco satisfeita e muito irritante.

— O que diabos significa isso, Maria?

Olho para o envelope que ele atirou na penteadeira ao meu lado e reconheço o envelope amarelado um segundo depois.

Confusa com a tempestade em copo d'água que ele parece disposto a fazer, endireito a postura, ergo o queixo com a petulância que sei que o irrita bastante e respondo o óbvio:

— Isso, senhor, é a minha carta de demissão.

— Isso, senhorita, eu já percebi. — Ele tem o atrevimento de imitar meu tom de voz. Uma péssima imitação, aliás! — Embora eu não tenha lido uma palavra do que você escreveu nela, Jarvis me contou a novidade assim que acordei. Caso não tenha deduzido ainda, eu fiquei bem... perplexo. Tanto que precisei vir até aqui para te perguntar uma coisa que não sai da minha cabeça desde então. Por quê?

Pisco, um pouco desnorteada. Não esperava que Howard fosse ficar assim tão possesso.

— Não importa por que, eu já tomei a minha decisão e...

Por quê? — ele me interrompe, exalando insistência, o olhar cravado em mim com uma ferocidade que me perturba. — Por que você não quer mais trabalhar para mim, Maria?

Engulo em seco e decido dar uma resposta lacônica e nem por isso menos verdadeira:

— Porque eu não posso.

Para meu desespero, Howard não se contenta com ela e se mostra muito obstinado quando dá um passo à frente repetindo:

— Por quê?

Olho o quarto em volta sem focar em nada específico, sentindo-me encurralada e um tanto nervosa demais com a proximidade dele.

— Porque... Ora, porque você...

Howard expira com força e abre os braços. Tão perto.

— Porque eu...?

— Porque você é você! — disparo.

Meu ex-patrão me encara com ar surpreso. Depois, arqueia as malditas sobrancelhas e articula com um incômodo tom de deboche:

— Muito eloquente, Maria. Só que como esse é um fato imutável, não faz sentido como justificativa. Por isso, eu me recuso a aceitar o seu pedido de demissão.

Ele o quê?!

— Não cabe a você decidir nada.

Howard dá mais um passo na minha direção. Meu coração acelera numa resposta patética, assim como disparou ao vê-lo na soleira da porta há poucos minutos. Maldição...

Gênio Infame, Dama MordazOnde histórias criam vida. Descubra agora