"No qual o nosso herói está no fundo do poço e deseja fortemente ir para o Alasca."
Não me orgulho de ter mentido sobre o destino dessa viagem repentina, ainda assim menti de maneira deslavada. Dei a entender que iria para a sede mais afastada das Indústrias Stark — logo, o destino óbvio seria a Califórnia — para trabalhar nos projetos da Reserva Científica Estratégica, só que eu não podia correr o risco de ser encontrado tão facilmente.
Algo me dizia que Jarvis ou Peggy poderiam ligar insistentemente no local, ou até mesmo irem atrás de mim em pessoa se não conseguissem contato, a fim de me convencerem a voltar para Nova York e reconquistar Maria.
Acontece que não estou com um pingo de paciência para esses dois bancando os cupidos. Ainda mais porque a dama mordaz em questão, claramente, já tomou sua decisão sobre nós dois. Foi como ela mesma disse ontem... Acabou.
Como posso cogitar reconquistar uma mulher que não ser reconquistada?
Confesso que, ainda assim, tive um fio de esperança ao ler a carta encontrada no lixo. Afinal, ela me ama.
Essa esperança ganhou força quando nos vimos na sala, vis-à-vis, e eu quase lhe disse como me sentia também.
Só que eu não tive tempo de confessar, já que Maria me interrompeu de uma maneira bem seca, cortando qualquer prelúdio de clima oportuno. Um soco no estômago teria doído bem menos do que ouvir aquele "Faça uma boa viagem, Sr. Stark."
Foi trazendo esse terrível sentimento de derrota na bagagem que cheguei à essa cidadezinha do Mississippi, cujo nome eu aprecio muito. Starkville. Dá para acreditar? Até parece que o lugar foi criado em minha homenagem! Meu humor quase melhora quando pondero sobre isso.
E melhora mais um pouco quando, do nada, eu torno a lembrar que... ela me ama.
Pena que eu estraguei tudo e que amor não é suficiente se eu não sei lidar com ele, certo?
Apesar de ter ficado nas nuvens ao ler a declaração de Maria, percebi que não era digno desse amor quando coloquei os pés no chão. Pensando assim, acreditei que um afastamento entre nós seria um mal necessário e arrumei as malas. Depois do que fiz a ela, eu lhe devia um pouco de espaço.
Tudo bem. Confesso que também senti medo da minha própria descoberta e precisei me afastar para processar esse meu amor por Maria.
Então, aqui estou eu. Enfurnado num hotel luxuoso, esparramado em uma cadeira diante da sacada, observando a manhã cinzenta e entediante lá fora. Ficando mais entediado ainda. Rindo momentaneamente quando penso no nome da cidade. Bebendo mais do que seria o apropriado para o horário. Indo ao céu ao lembrar que ela me ama e ao inferno quando me recordo de como tudo terminou.
Odeio essa palavra. Terminou. E os derivados igualmente deprimentes: acabou, é o fim. Odeio mais ainda o fato de que odiar não muda em nada essa situação toda.
Aproximo o copo dos lábios a fim de sorver um generoso gole de uísque e silenciar os pensamentos pelo menos por um tempo. Franzo o cenho ao notar que o recipiente já está vazio. Olho em volta, desconfiado de que um ser invisível tomou a última dose no meu lugar. Esfrego a nuca com força e tenho uma súbita vontade de arrancar cada fio de cabelo.
Resmungando algo que nem eu mesmo compreendo o sentido, apoio-me na cadeira para levantar e, meio trôpego, caminho até a mesa de centro na sala, sobre a qual uma garrafa pela metade faz companhia a outra vazia. Irritado por não conseguir acertar o interior do copo, decido tomar direto do gargalo.
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Gênio Infame, Dama Mordaz
FanfictionDepois de sofrer uma desilusão amorosa, Maria Carbonell prometeu que nunca mais cairia nas garras de mulherengos traidores. Agora, ela só quer seguir em frente de cabeça erguida. Cientista e empresário brilhante, Howard Stark não esconde de ninguém...