Hipótese Insana?

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"No qual nossa heroína sofre de insônia. Por causa do nosso herói."


Decidi aproveitar a falta de sono para continuar a leitura de Assassinato no Expresso do Oriente noite a dentro. Esperava que, ao chegar na última página, o cansaço do dia teria dado ao menos algum sinal em minhas pálpebras e seria fácil dormir. No entanto, nunca me senti tão desperta, tão viva e tão... inquieta quanto essa noite. E algo me diz que essa sensação nada tem a ver com Agatha Christie e seu poder narrativo.

Embora atenta à leitura e de ter sido muito agradável visitar a investigação de Hercule Poirot mais uma vez — perdi a conta de quantas vezes reli meu livro favorito ao longo dos anos —, uma parte da minha mente estava bem longe da história. Agora, ao passar os dedos pelo nome Howard Stark no autógrafo, percebo que essa inquietude é por causa dele.

Dele.

Não nego que tudo que aconteceu na biblioteca essa manhã mexeu comigo. Só não entendo direito como. Claro, primeiro eu fiquei com raiva por Stark pensar que eu senti ciúme daquela sirigaita em sua varanda e por ter afirmado que eu estou interessada nele. Depois, fiquei desnorteada com a proximidade física em alguns momentos e com o peso de suas palavras se repetindo dentro de mim. Cheguei a me questionar se o gênio infame não podia estar certo.

Será que senti ciúme? Será que estou atraída por ele?

Balanço a cabeça em negação, como se assim eu pudesse dissipar as perguntas da minha cabeça, como se assim eu nunca as tivesse cogitado.

Ainda essa manhã, na biblioteca, me senti exposta ao abrir o jogo com o Sr. Stark de maneira tão pessoal, ao lhe explicar por que preciso que ele mantenha distância de mim e por que não podemos ser amigos. Eu praticamente confessei que tenho medo de me apaixonar por ele e medo de sofrer em suas mãos por isso. Precisei engolir o orgulho e dizer com todas as letras para que ele enfim entendesse o meu ponto.

Por fim, fui acometida por algo muito semelhante a arrependimento. Não das coisas que lhe disse, mas talvez da maneira como as disse. Howard Stark ficou praticamente sem reação, muito sério, foi perturbador, e isso me fez pensar que tinha sido muito rude com ele.

Então, meu patrão me surpreendeu com o livro de presente, como uma trégua e um gesto generoso. E me senti ainda mais estranha, ainda mais exposta e, ainda assim, conectada a Stark de alguma maneira... forte.

Fecho o livro com violência, franzindo o cenho com a capacidade da minha mente de devanear tanto a respeito de um homem que não significa nada para mim. Estou fantasiando coisas que não existem, claro. Só fantasiando.

Deixo o livro no criado-mudo e apago a luz do abajur. Uma boa noite de sono é tudo de que preciso. Vai me ajudar a colocar a cabeça em ordem e não pensar em asneiras.

Não estou me apaixonando por Howard Stark. Algo assim seria muito estúpido de minha parte. Nem que ele fosse o último homem na face da Terra, nem que o universo dependesse da nossa união, eu não poderia me apaixonar por ele.

Aprendi direitinho a lição com meu ex-noivo, os homens não são confiáveis, mais cedo ou mais tarde, eles partem nosso coração. Faço uma exceção para o Sr. Edwin Jarvis, pois ele parece muito dedicado a Ana e duvido que a faria sofrer.

Tudo bem, talvez existam outros homens como o mordomo por aí. Homens dignos, apaixonados e leais. Mas o Sr. Stark não é um deles. Ele não leva nenhuma mulher a sério. E, com certeza, não serve para mim. Nem eu para ele. Somos incompatíveis. Definitivamente, incompatíveis.

Ajeito o travesseiro e despenco sobre ele, fechando os olhos e tentando esvaziar a mente. Pensar o menos possível ajuda o corpo a relaxar e o cérebro logo deve encontrar o caminho rumo ao sono profundo.

Gênio Infame, Dama MordazOnde histórias criam vida. Descubra agora