Cartas na Mesa

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"No qual nossa heroína explica por que hesitou, afirmando que não hesitou."

Se arrependimento matasse, eu já teria caído dura e fria no chão.

Eu devia ter imaginado que a oferta de trégua do Sr. Stark era boa demais para ser verdade, claro. E que ele não cumpriria a palavra sobre me respeitar coisa nenhuma. Flertar com todas as mulheres que vê pelo caminho parece ser uma patologia intrínseca no sangue dele, algo incorrigível que ele deve acreditar ser o seu maior charme. Ainda assim, eu não esperava que ele fosse tão despudorado e imbecil a ponto de ameaçar se despir na minha frente.

Que ódio!

Quando lembro do roupão se abrindo devagar e da sua expressão de confusão e desafio ao chegar perto do número final, meu sangue ferve. Sinto-me uma idiota por ter ficado tão horrorizada e, com isso, demorado um pouco a tomar consciência das minhas pernas para sair do quarto de uma vez. Uma pequena demora que inflou seu ego já enorme, dando um pretexto para tripudiar, alegando que eu fugi dele como uma coelhinha assustada.

Quanto mais penso na situação embaraçosa, mais o ódio aumenta, junto com uma necessidade urgente de me explicar.

Não que Howard Stark mereça qualquer explicação de minha parte, foi ele quem se comportou como um homem das cavernas, porém preciso fazer isso por mim mesma. Não posso lhe dar o gostinho de seguir acreditando que eu saí correndo porque senti qualquer outra coisa que não indignação e horror pelo seu atrevimento.

Ao longo do dia, eu tento me livrar dessa ideia, temendo que me explicar tenha justamente o efeito contrário sobre ele. Entretanto, cada vez que lustro a moldura dos inúmeros autorretratos de Howard Stark pela mansão, todos praticamente iguais e com um sorrisinho cretino nos lábios, me convenço que preciso fazer isso ou não terei paz interior.

Então, depois de espanar, lustrar, varrer e arrumar boa parte dos cômodos, guardo o uniforme para a jornada de amanhã, coloco de volta as roupas que vesti no começo do dia ao deixar o Griffith Hotel e sigo para o escritório do meu espirituoso patrão. Respiro fundo antes de dar duas batidas na porta.

— Pode entrar!

Ouço sua voz do outro lado da porta de madeira nobre.

Fecho os olhos por um instante, organizando melhor os pensamentos e me agarrando à decisão de colocar os pingos nos is. Em seguida, giro a maçaneta e entro. Pergunto-me se devo ou não fechar a porta atrás de mim. Opto por fechá-la, já que não quero que ele pense que estou desconfortável por ficarmos juntos num mesmo ambiente selado. Mesmo porque eu não estou nem um pingo.

A poucos metros de distância, atrás da mesa e de uma pilha de papéis, avisto o homem com quem preciso falar. Stark afasta os olhos da leitura por um instante, me vê, retorna aos documentos, porém logo os abandona de novo e me encara com certa surpresa. E... acho que com outra coisa também que não sei identificar o que é.

— Ah, é você. Aprendeu a bater na porta afinal. Quanto progresso.

Ele esboça um sorrisinho ao me alfinetar por esta manhã, e eu imagino como seria a sensação de atirar todos os papéis na cara dele. Talvez, amassá-los e fazê-lo engolir cada bolinha de papel. Com certeza, uma sensação maravilhosa.

Respiro fundo novamente e dou um passo à frente, decidida a não perder tempo. Quanto antes eu colocar as cartas na mesa, mais rápido poderei virar essa página e voltar à normalidade.

— A que devo a honra, Carbonell?

Limpo a garganta e mantenho o olhar nele enquanto começo de fato:

Gênio Infame, Dama MordazOnde histórias criam vida. Descubra agora