Adeus, Howard

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"No qual nosso herói vai do céu ao inferno."


De todas as mulheres que eu beijei — e, sem querer me gabar, a lista é bem extensa —, nenhuma despertou algo sequer parecido com o abalo intenso que o beijo de Maria Carbonell espalhou em cada partícula do que sou. Mesmo agora, nossos lábios já separados há alguns instantes, a sensação continua aqui. Forte, calorosa e atordoante.

Eu senti o beijo arder nas minhas veias. Correndo no meu próprio sangue. Aquecendo minha pele por todo o caminho. E queimando bem no centro do meu coração aos galopes. Tanto calor provocou um contraditório arrepio por todo o meu corpo e uma pulsação dolorosa na virilha.

Foi um beijo... monumental, delicioso, algo que me colocou de joelhos diante de um sentimento totalmente novo para mim. O que tal beijo espalhou só pode ser definido como a mais pura felicidade.

É isso, eu estou feliz. Como nunca fui. Como nunca imaginei ser possível um homem ser. Plenamente feliz.

Modéstia à parte, tenho certeza que o raio de sol em forma de mulher também foi às estrelas ao provar dos meus lábios de mel. A avidez com que ela correspondeu a cada investida da minha boca, a maneira entregue como se agarrou ao meu corpo e o completo abandono com o qual me encara agora não deixam a menor dúvida. Maria experimentou a mesma emoção avassaladora e gostou demais do nosso primeiro beijo de verdade. E do segundo também.

É por isso que fico descrente e um tanto decepcionado também quando ela murmura num tom de aviso:

— Eu preciso ir...

— Não!

Numa reação automática de protesto, meus braços se estreitam ao redor do corpo curvilíneo que se encaixa tão perfeitamente ao meu. A sensação de tê-la colada a mim é simplesmente maravilhosa. Algo muito além da malícia, é acolhedor.

O calor de Maria irradia da pele, dos poros, através do vestido, e se mistura ao próprio fogo que arde no meu corpo de um jeito insano. Um tremor, que ela luta para conter ou disfarçar, reverbera por meus alicerces ainda abalados pelos poderosos beijos.

Estou arruinado, eu sei. Mas Maria não fica atrás, está igualmente perdida.

— Fique — proponho, um sussurro sedutor no pé do seu ouvido. — Fique comigo, raio de sol.

— E-eu... Eu não posso — ela responde, meio sufocada.

A voz ofegante mexe de um jeito curioso com a minha cabeça. O rosto avermelhado me lembrando que eu sou a causa do seu estado febril. Um sorriso orgulhoso me domina.

— Pelo menos você disse que não pode, e não que não quer ficar.

Ela pisca desnorteada e ri de uma maneira tensa, as mãos escorregando para os meus braços depois. Demoro a entender que Maria está tentando se desvencilhar de mim. Em resposta, tudo o que faço é envolvê-la com mais obstinação, pois ainda não estou pronto para deixá-la partir.

Droga... Acho que nunca mais vou estar.

— Sr. Stark, eu...

— Howard — corrijo firme e rápido, arqueando uma sobrancelha. — Você me chamou de Howard e, de agora em diante, eu só aceito que me trate assim.

Maria me olha sem dizer nada, sem protestar, sem qualquer argumento, o que é algo raro em se tratando dela. Com certeza, ela se lembra muito bem do exato momento em que jogou para o alto qualquer formalidade em relação a mim. Por isso sabe que é inútil negar que agora temos uma intimidade especial. Não dá para voltar atrás. Eu sou o Howard dela.

Gênio Infame, Dama MordazOnde histórias criam vida. Descubra agora