Banho de Água Fria

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"No qual nosso herói e nossa heroína discutem. Para variar..."


Eu só esperava uma coisa de Maria. Só esperava que ela fizesse uma única e bendita coisa por mim. Que me beijasse enquanto eu fingia despertar na poltrona. Bem simples.

Então, eu a puxaria para o meu colo e, juntos, iríamos descobrir aonde o delicioso beijo poderia nos levar...

Para minha total surpresa e desagrado, ela achou que seria uma boa ideia jogar um balde de água fria na minha inocente fantasia. Isso mesmo, Maria despejou água em cima de mim. Literalmente falando. Bem no meu rosto! Por pouco não me afoguei!

E quando eu, confuso com a atitude e tentando me enxugar um pouco, questionei o que diabos ela havia acabado de fazer, a dama mordaz veio à tona com espírito petulante renovado e teve coragem de zombar da situação, alegando que isso se chamava carma.

Ora essa!

— Carma? — repito a maldita palavra, enquanto encaro a mulher na minha frente sem entender patavinas. — Para ser carma, eu deveria ter feito alguma coisa para merecer. Certamente, não é esse o caso, raio de sol.

Maria ri sem humor, soando irritada e muito magoada ao mesmo tempo. O que não faz o menor sentido até ela dizer...

— Não era da Sra. Fry que você estava fugindo ontem. Pelo menos, não só dela, era?

O mundo simplesmente congela à minha volta e meu estômago afunda como se, de súbito, eu despencasse alguns andares.

— Não era só ela que você queria evitar a todo custo enquanto se esgueirava pelos corredores. Eram elas, Howard. Plural. As garotas que moram no Griffith e que tiveram o azar de cair na sua lábia de cretino. — Maria bate o pé com força no chão e olha para cima. — Argh! E pensar que eu sou uma dessas tontas agora!

Tudo bem, o banho de água fria faz certo sentido. Ainda assim, me vejo inclinado a fazer uma correção importante:

— Você não é uma delas.

Se Maria me escuta, não dá o menor indício disso. Ou, o mais provável, não acredita na sentença e, portanto, não me dá ouvidos de qualquer jeito.

— Você sabia exatamente como sair do Griffith sem ser visto porque já esteve lá antes. E me fez acreditar que não. Pelo o que ouvi, deixou uma fortuna para trás, uma pulseira de diamantes para cada mulher que conquistou. Imagino que não tenha sido um problema para um milionário cafajeste como você, é claro! Aliás, quando pretende entregar a minha pulseira? — Maria espalma a própria testa como se recriminasse a si mesma por tal pergunta. — Desculpe, esqueci que você não é homem o suficiente para fazer isso. Talvez eu deva procurar o Sr. Jarvis? É ele o encarregado por terminar os seus casos, não é?

Fecho a cara e endireito o corpo de maneira defensiva, detestando o rumo dessa conversa e o tom cínico das últimas frases. Eu só queria uma manhã romântica, oras! E é isso que recebo?

— Falando desse jeito, você me ofende e me magoa.

Nesse momento, o olhar de Maria cintila de fúria, fazendo-me recuar com um passo cauteloso.

— Mil perdões, Sr. Stark. Longe de mim ofender e magoar o homem que me usou.

Por um momento, não digo nada. Ainda desnorteado pelo tom duro e cortante da acusação em sua voz. Só quando assimilo o sarcasmo das frases cuspidas contra mim, consigo retrucar baixinho:

— É nisso mesmo que você acredita? Que eu te usei? Que eu fingi tudo aquilo?

Maria cruza os braços, mas não com o ar agressivo que sustentava antes. Nesse momento, é mais como se tentasse abraçar a si mesma, como se algo dentro dela doesse e fosse preciso buscar algum conforto enquanto se encolhe.

Gênio Infame, Dama MordazOnde histórias criam vida. Descubra agora