Capítulo 34

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Os olhos castanhos prestavam atenção em como Carol a olhava ansiando uma resposta e a daria, sem dúvidas. Confiaria aquilo à sua namorada, mesmo sabendo que se descobrissem a verdade ela apanharia muito.

— Como assim? – Carol indagou.

— Vai me dizer que é uma infiltrada do governo para acabar com a corrupção daqui? – Perguntou rindo baixinho e Bárbara suspirou.

— Não, Carol. – Ela disse rindo nervosamente.

— Antes fosse, assim eu desistiria dessa merda de missão e iria ter uma vida com você lá fora. – Falou.

— E então?

— Confio em você, mas precisa me jurar não contar nada a ninguém, por favor. – Ela pediu e Carol assentiu freneticamente, sentindo a curiosidade aflorar em sua pele através dos poros de seu corpo.

— Prometo. – Carol falou e Bárbara assentiu.

— Bem, quando eu entrei aqui eu estava arrasada pelo medo de meu avô me odiar. – Ela começou.

— Passei dias e mais dias de pânico com cantadas inapropriadas de detentas veteranas e, quando eu achava que não podia piorar, me avisaram que meu avô havia falecido. – Os olhos verdes se arregalaram ligeiramente antes da menor fazer uma pequena careta.

— Céus, deve ter sido um inferno. – Carol disse e Bárbara assentiu.

— Mas tenho muita sorte de sempre aparecer anjos na minha vida. – Ela disse com um sorriso triste em seus lábios.

— O que quer dizer? – Carol questionou confusa.

— Que a detenta que estava na minha cela se tornou minha amiga. – Carol paralisou seu olhar no de Bárbara. Maellen havia comentado sobre essa mulher com ela, se bem se lembrava.

— O que, hm, houve com ela? – Bárbara riu e a fitou.

— Te contaram, não é? – Carol corou levemente e assentiu.

— Mais ou menos. – Confessou com uma careta e Bárbara assentiu.

— Bem, seu nome era Megan e ela era a antiga líder. – Explicou. — Ela notava a constante luta que eu vivia com o assédio neste lugar e no dia que apareci com o olho roxo após três dias na detenção, ela ficou irritada, afinal havíamos nos tornado amigas.

— Por que foi para a detenção? – Carol perguntou curiosamente.

— Não deixaria que me tocassem facilmente e acabei brigando feio com uma delas. Ambas fomos para a detenção.

— Eu posso entender esse sentimento. – Ela disse e Bárbara sorriu, umedecendo os lábios.

— Sim, ainda lembro de você dizendo que eu poderia mandar minha "capacho" te arrebentar que mesmo assim eu não tocaria em você. – Bárbara falou rindo.

— O engraçado é que hoje eu faço questão de que toque. – Carol disse mordendo o lábio inferior e a maior suspirou.

— Não sei o que eu fiz para te merecer, mas não estou reclamando em absoluto. – Bárbara disse e Carol a puxou para um beijo rápido antes de a fitar com ansiedade.

— Mas e então? – Perguntou curiosamente.

— Bem, fomos nos tornando cada vez mais íntimas e resolvi lhe contar o porquê de ter vindo presa. Nessa época Megan começou a vomitar com frequência e a cuspir sangue constantemente e eu sempre a ajudava lavando seu rosto, a levando comida, sabe? – Perguntou retoricamente.

— Depois de levar mais uma surra aleatória ela me contou que tinha pouco tempo de vida. Tinha um câncer em um estágio avançado e me confessou que fui a única que se importou com ela em todo seu tempo de cadeia. – Bárbara disse, limpando a garganta. 

— Um dia estávamos no pátio tomando sol e ela cuspiu sangue em uma de suas tosses. Foi tudo muito rápido, no momento seguinte ela mandou eu bater nela.

Bárbara fitava a parede com um olhar nostálgico, perdida nas lembranças de infelicidade daquela trágica semana.

— Não aceitei, mas ela me implorou e disse que era para meu bem. Decidi a empurrar de leve, mas ela mesma se jogou com força contra a parede e me puxou, falando para eu fingir que a batia. Foi tudo confuso e me lembro de tê-la obedecido.

— Assim virou líder? – Carol indagou.

— Ainda não. Ela pediu para que eu a desafiasse no dia seguinte, mas eu não queria. Ela estava fraca e pálida, porém ela era teimosa. – Disse e fitou sua namorada.

— Assim conheci Thaiga, porque naquele dia Megan mandou Thaiga ir buscar alguns remédios para ela, porém quando voltava ouviu a conversa e Megan a fez jurar jamais contar nada a ninguém.

— E houve a falsa briga nesse dia?

— Sim, o sangue que ela cuspia fez tudo parecer mais real e ela gritou ter perdido o posto para mim diante de quase todas. – Bárbara falou antes de suspirar.

— Ela fez todas me temerem e pediu para uma de suas garotas me ensinar a lutar de verdade, porque apesar de ser a nova líder, e ter várias que estariam lá para mim na hora da pancadaria, ainda assim talvez eu precisaria lutar.

— Não sei o que dizer. – Carol disse abismada e Bárbara lhe deu um beijo casto.

— Ela me pediu para jamais conversar com ninguém, não mostrar vulnerabilidade, falar como se eu não tivesse medo de ninguém e jamais desmentir um boato sobre algo ruim que fiz. – Bárbara disse rindo com escárnio.

— Naquela semana ela faleceu e todo o presídio achou que eu a matei na cela enquanto dormia. Tenho certeza de que isso foi ideia dela. – Falou rindo tristemente.

— As únicas que sabem disso aqui dentro são três pessoas, além de você. – Carol a fitou com anseio.

— Milena e Thaiga eu já sei, mas quem seria a outra? – Carol questionou e Bárbara riu.

— Você não vai acreditar.

— Odeio essa merda de suspense. Você o faz desde que cheguei. – Carol reclamou e cruzou os braços, fingindo chateação. Bárbara a puxou mais para seus braços e riu com vontade.

— Quanto dengo, coisa linda. – Ela murmurou e Carol suspirou ao sentir um beijo de Bárbara contra a pele de seu pescoço.

— Diz, para mim, amor... – Carol pediu e Bárbara assentiu.

— Digo tudo o que quiser. – Ela disse sorrindo. E lá ia ela novamente, abrir seu coração e sua história completamente para Carol. Bem, completamente não, ela jamais contaria sobre o pequeno segredo que guardava com Milena.

O que vocês não me pedem rindo que eu não faço chorando né?

Presa Por Acaso | BabitanOnde histórias criam vida. Descubra agora