ᴀᴄɪᴅᴇɴᴛᴀʟᴍᴇɴᴛᴇ: ᴇɴᴛʀᴇɢᴀ

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Trancou a porta e voltou para o quarto, tomou um longo banho, colocando jeans e camiseta xadrez. Ligou para a diarista e pediu que ela fosse ao apartamento no meio da tarde, só precisaria dela pra lavar roupa. Colocou a carteira e celular no bolso. Então se lembrou que tinha trocado de chip antes de ir para Forks, para evitar ligações. Primeiro passou todos os contatos de Forks para a memória do celular, para não perder quando trocasse de chip, tirou o chip que usou em Forks, guardando-o, e colocou o chip original, com todos os contatos. Várias ligações perdidas e mensagens, que apagou sem nem se dar ao trabalho de ler.

Fechou o apartamento e desceu de elevador para a garagem. O Volvo estava ali estacionado em sua vaga. Prata e reluzente como sempre, Christopher sorriu animado e desativou o alarme.

— Ai bebê, que saudades! — falou pro carro, acariciando sua lataria. Tinha uma real paixão por aquele carro. Abriu e entrou, respirando fundo o cheiro do estofado, fechou a porta e colocou a chave na ignição. — Os carros em Forks não são tão espetaculares quanto você, você iria se sentir o mais foda lá. — após escutar o motor roncar com suavidade e o carro começar a se movimentar, se tocou do quanto estava patético. — É, você realmente tem que parar com essa mania de falar com coisas inanimadas.

Riu e seguiu dirigindo. Foi até o supermercado perto do prédio, pegou um carrinho e o encheu de comida congelada para fazer no microondas (lasanhas, refeições prontas, pizzas, tortas), pegou dois potes de sorvete, salgadinhos e bolacha, passou na parte de bebidas alcoólicas e abasteceu o carrinho (refrigerante, cerveja, vinho, vodka, além de energético). Pagou tudo com cartão, colocou no carro e voltou pra casa.

Almoçou uma lasanha congelada que preparou no microondas com coca-cola. E só depois arrumou o que tinha comprado na geladeira e armários.

Sentou no sofá com um grande pote de sorvete e ficou comendo, vendo televisão, um filme tosco qualquer. Estava se sentindo em uma daquelas comédias românticas onde a mocinha se separa do galã e fica chorando no sofá, comendo sorvete. Mas no caso, ele era a mocinha. Patético.

Menino! — escutou uma voz conhecida.

Olhou para trás assustado e deu de cara com Marcia, sorriu ao revê-la e ficou em pé, deixando o sorvete no sofá, indo a sua direção, desejando seu abraço.

Marcia era sua diarista. Christopher não a contratou para ser sua empregada fixa apenas por não ter certeza que conseguiria mantê-la, então preferia assim, mas tinha uma certeza, se o livro fosse um sucesso, iria contratá-la. Marcia, era uma mulher corpulenta pra lá dos seus quase 60 anos, com cabelos loiros com cachos volumosos até o ombro. Usando uma saia laranja extremamente longa com alguns desenhos que ele não entendeu e babado na barra, um casaco de crochê, sobre o ombro uma enorme bolsa feita à mão e no rosto seu habitual sorriso maternal.

Christopher abraçou Marcia, se abaixando um pouco, por ser mais alto que ela. Sentiu seu cheiro de rosas e comida caseira, era muito bom.

— Como você está menino? — ela perguntou carinhosamente acariciando seu rosto.

— Estou bem, Marcia. — mentiu, mas sorriu sinceramente, pegou a mão dela e beijou-a, respeitosamente. — E você? E como entrou?

— O porteiro já me conhece e ele nem ousa me parar mais, então subi e eu tenho uma cópia da chave, lembra? Estava morrendo de saudades, menino. Esse seu sorriso me fez falta, mas não me parece tão animado ou cínico como antes, o que aconteceu?

— Às vezes você me assusta. — ambos riram. — Eu estou bem, sério. E obrigado por ter vindo, acho que surtaria se tivesse que cuidar das minhas próprias roupas.

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