Out Of Style

Capítulo 30

Dulce Maria

— Senti sua falta na cama. — disse Christopher ao se levantar e ir até mim. — Não consegue dormir?

— Não...Te acordei?

— Só senti sua falta. Vem cá, vamos olhar o céu daqui de fora. — Fomos para a sacada do quarto, Christopher se sentou em uma das poltronas e antes que eu pudesse reagir, ele me puxou para sentar em seu colo. Deitei a cabeça em seu peito e apenas suspirei, voltando a olhar para o céu. — A lua está linda hoje...

— Está. Espero que ela acalme meu coração...

— Quer conversar sobre isso? — o olhei nos olhos e apenas me prendi ali, eu sabia o que estava acontecendo, e era isso que eu temia.

— Se eu falar, você vai fugir. — Ele soltou uma leve risada e beijou o topo da minha cabeça.

— Eu nunca fugiria de você. — disse em um murmúrio.

— Nós dois...n-nós sentimos coisas um pelo outro que só amigos não sentem, né? — ouvi Christopher respirar fundo e me apertar mais em seus braços, isso não era fácil. 

— S-sim, "só amigos" nem se olham como nós nos olhamos... Mas, não precisamos fazer nada sobre isso.

— Como assim?

— Você está pronta pra assumir um relacionamento sério, Dul?

— Eu acho que não...

— Nem eu, então deixamos como está, não mexemos em time que está ganhando.

— Certo... Me desculpe por isso.

— Pelo que?

— Eu tenho bagagem, Christopher, não sei lidar com relacionamentos mais e talvez nunca mais eu consiga.

— Não tem porque se desculpar, Dul. Você é assim e tudo bem, talvez um dia você encontre um homem que queira se prender. — Senti um amargo na boca no momento em que ele disse isso, me encolhi na cadeira fazendo-o me apertar.

— Talvez... Não gosto de pensar no futuro, ele me assusta.

— Está com medo das suas decisões?

— Sim, sempre foi assim, desde minha adolescência, me arrependi de uma decisão e sofro as consequências até hoje.

— É sobre sua carreira?

— Eu fiz um aborto, Chris. — Ele ficou estático e eu o olhei para ver se conseguia decifrá-lo.

— V-você foi...violentada?

— Não! Eu engravidei do meu ex namorado, David, aos 16 anos. Eu era muito nova e estava no início da minha carreira, não podia ter um filho naquela época. Minha mãe, que já não tinha um relacionamento bom comigo, se virou contra mim, colocou toda minha família contra mim, apenas meu pai me apoiou.

— Por que sua mãe não te apoiou? — Christopher sabia que eu precisava desabafar e não me impediria, eu agradecia por isso, já que por mais estranho que nossa relação seja, eu confio cegamente nele.

— Chris, minha mãe é uma mulher extremamente gananciosa. Ela me obrigava a modelar quando eu era criança, até testes como atriz eu fiz. Quando eu engravidei, ela achou um absurdo eu não ter me cuidado, disse que eu teria o bebê e que ela cuidaria como se fosse dela, que eu faria cirurgias plásticas logo após o parto e que ninguém perceberia as mudanças no meu corpo. — respirei fundo e senti lágrimas caindo em meu rosto, Christopher acariciou meu braço me dando forças para continuar. — Eu não aceitei aquilo, eu era irresponsável e não tinha cabeça alguma. Então, conversei com David e com Anahí, e assim decidi abortar. A mãe de Annie foi junto comigo, e quando eu voltei para casa, minha mãe fez um escândalo, me chamou de diabo, falou que eu estava pecando, etc. Ela só não me expulsou de casa porque meu pai não deixou. Dois meses depois, David e eu terminamos, não tinha como continuar depois daquilo. Pouco tempo depois, meu pai faleceu, e eu saí de casa para enfrentar a vida sozinha. Minha mãe começou a passar por dificuldades, já que ela gastou toda herança do meu pai, então passei a dar dinheiro a ela.

— Dul, eu sinto muito. Você não merece ter passado por isso, meu bem.

— Tudo bem... Por isso, eu não consigo firmar relacionamentos, não consigo dormir com a mesma pessoa mais de uma vez, por medo, medo de engravidar e ter que passar por isso novamente, medo das memórias que podem me trazer. Você é o primeiro que ganha minha confiança assim, a ponto de até dormirmos na mesma cama. — ri fraco e ouvi ele ter a mesma reação.

— Eu fico feliz com isso, eu sempre estarei aqui pra você, seu futuro marido terá que me aceitar, Dulce Maria, ou a situação vai ficar feia. Juro por Deus que mato o desgraçado que te magoar. — sorri e beijei seu peito desnudo.

— Você me magoou ontem...

— E eu vou me arrepender o resto da vida por isso, sério Dul, não sei o que aconteceu e...

— Chris, eu estou brincando. — Eu disse o interrompendo. — Eu sei que você não estava consciente, eu vi como você ficou.

— Sinceramente, estou tentando entender isso ainda.

— Eu esperava qualquer coisa da Angel menos isso, ela foi muito baixa. Espero que agora eu tenha um pouco de paz já que vou me aposentar.

— Eu também espero...

— Chris? — o olhei nos olhos e acariciei seu rosto levemente. — Obrigada por me ouvir. E por...isso que temos. — Ele sorriu e me puxou para um selinho carinhoso.

— Sempre à sua disposição, Dul. — sorri e o beijei novamente, me sentia leve em contar minha história para Christopher, e mais ainda em saber que sentíamos o mesmo um pelo outro.

Resolvemos levantar dali e irmos deitar. Como toda noite, Christopher me puxou para seus braços e logo pude adormecer, nada como uma conversa sincera para acalmar o coração.