Capítulo 2 | É Ele, Não É?

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P.O.V MELANIE RODRÍGUEZ:
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Agora tudo faz sentido! Toda a prisão em que vivi durante 18 anos, não ter namorados, não sair para programas adolescentes, tantos seguranças, tanta vigilância e marcação cerrada dos meus pais sobre qualquer passo que eu dou.

Tantas conversas estranhas que flagrei eles dois tendo sobre meu aniversário de dezoito anos, tantas brigas em que minha mãe citava alguma "merda" que meu pai fez.
A insistência do meu pai para que eu aprendesse italiano, e sempre que eu me recusava a ir às aulas ele brigava comigo.

E mais uma coisa está fazendo sentido, o maldito sonho de hoje cedo!
Foi um aviso do que estava prestes a acontecer, uma lembrança; me recordei que o maldito garoto de olhos acinzentados realmente existe.

E tudo isso por que? Porque o meu pai é um viciado de merda que coloca a cocaína acima da própria família.
Ele devia me proteger, cuidar de mim, e querer mais do que tudo me livrar dos perigos do mundo, é o que os pais fazem.
Mas não, ele me vendeu como uma mercadoria, como um simples objeto para alguém certamente perigoso.
A pessoa que devia me amar incondicionalmente me enganou por toda uma vida.

Me lembro até hoje da primeira vez que vi meu pai cheirando cocaína na vida, eu tinha apenas seis anos.

Corro para o escritório do papai, o carro do sorvete está passando na rua, eu preciso de quatro dólares! Mamãe disse que só isso dá para comprar.

Entro no escritório e meu pai está com a cabeça baixa perto da mesa, e tem sal em cima dela. Pera, ele ta comendo sal pelo nariz?

— Papai, por que o senhor tá comendo sal pelo nariz? – Pergunto confusa, e ele olha pra mim com os olhos esbugalhados.

— F-filha, não é isso, papai só… papai não tá comendo o sal, esqueça isso – Ele esconde o sal com a mão — O que veio fazer aqui? – Ele parece assustado.

— Quero dinheiro para comprar sorvete para mim e para Scar, o carro tá passando! – Deixo pra trás a cena do sal quando escuto o som do carro do sorvete de novo.

Meu pai me dá o dinheiro, e corro para fora de casa puxando Scarlett comigo.

Óbvio que na época eu não entendi, mas uns anos depois teve umas palestras na escola contra o uso de drogas, e quando eu descobri o que era cocaína tudo fez sentido na minha cabeça.

Depois disso nunca mais peguei meu pai usando drogas, mas sabia quando ele tinha usado, pois quando estava sob efeito dela agia de maneira diferente, ou nervoso demais, ou calmo demais.

Eu sempre achei estranho meu pai ser mais exigente comigo do que com a Scarlett — tudo bem que ela é mais tranquila do que eu — mas enquanto ela podia sair para um shopping, eu tinha que ficar em casa, a única coisa que não me privaram de fazer foi dançar, mas me fizeram prometer que nunca me envolveria com nenhum dos bailarinos —  eu nunca liguei para meninos, meu foco sempre foi a dança, sempre coloquei na cabeça que um relacionamentos e sentimentos me atrapalhariam, me desconcentrariam — então nunca discuti sobre o assunto, mas por dentro achava que tinha algo de errado em toda essa proteção — e eu estava certa.

Minha mãe sempre me apoiou no ballet, dói muito saber que ela estava ciente disso tudo, sabia que eu não poderia seguir meu sonho por causa do meu pai, e fingiu me apoiar, estou muito decepcionada com os dois.
Sempre me esforcei para ser a filha perfeita deles, sorrindo de frente as câmeras, tirando boas notas, afinal sou a filha do deputado, uma garota exemplar — escondendo meu verdadeiro eu, forçando simpatia para todos — sempre fui boa em fingir por eles, para no final descobrir que minha vida no geral foi uma mentira incabível, nasci para ser um simples objeto de alguém.

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