06| Corte

7.5K 560 125
                                    


   Já era meia-noite quando os primeiros coros começaram a gritar para que eu e Kaanadan nos retirássemos para o quarto. 

   Os homens quase todos estavam bêbados, e gritavam coisas como "leve-a para a cama" ou "casou agora está na hora da melhor parte". Bem, eu queria morrer ao escutar isso. Olhei Kaanadan com um pingo de esperança que ele estivesse como o tio, bêbado ao ponto de nem manter os olhos abertos conseguisse. Mas não, ele estava melhor até que eu, que bebi menos que ele.

   Kaanadan se levantou da cadeira e fiz o mesmo, por mais que minha vontade é de agarrá-la. Vi Celina se levantar na ponta da outra mesa, mas Gina a puxou de volta. Assenti calmamente para a mesma, sibilando um "tudo bem".  Mas de tudo bem não tinha nada.

   Kaanadan agarrou minha mão e me conduziu atrás de si, enquanto uma multidão agora composto até por mulheres, vinham atrás de nós.

   Eu estou desesperada. Meu coração bate tão rápido que o sinto bater em minha pele. Respiro fundo e não demora até que estivéssemos em frente a dupla porta de madeira no segundo andar, onde foi arrumado desde manhã para esse momento.

   Gritos ecoavam atrás de nós e entramos ao quarto. Minha cabeça estava a mil, mas tudo embranqueceu quando Kaanadan fechou a porta trás de nós. Estávamos sozinhos...

   O tumulto acabou ao lado de fora. Bom, a não ser por alguns amigos bêbados de Kaanadan que davam sugestões obscenas para fazermos. Mas logo foi calado pelo mesmo.

   O silêncio reinou.

   Passei meus olhos pelo quarto de coloração marrom claro, em contraste com o marrom mais escuro das portas e das janelas. Meus olhos focou na cama de forro branco no centro do quarto e isso me apavorou. Envolvi meus braços em forma de proteção, tentando sufocar meu pânico.

   "Você irá agir como uma boa esposa. Irá fazer isso pela honra e pelo poder de uma organização. Mas também por sua família..."

    As palavras de papai  de anos atrás bradou em minha cabeça e meu coração voltou a acelerar. Eu teria que agradar Kaanadan, mas nada ajudava quando minha mente só passava as regras claras das mulheres: "Fique de costas e deixe que ele faça o resto", "Não peça que ele pare", "Não debata, ou pode ser pior", "Depois acostuma...". Isso estava me matando.

    Kaanadan me virou para si, me olhando como um lobo olha para sua presa minutos antes do ataque. Minhas pernas tremiam e eu me sentia sufocada, zonza, e talvez eu desejasse desmaiar. Apagar seria bom, me livraria da dor, e se mesmo assim me tocasse, eu não lembraria. Kaanadan deixou o paletó na poltrona e vi seus músculos se contraírem com seus movimentos. Vi o tanto que é musculoso e forte. Kaanadan nesse momento era a figura do poder, enquanto eu estava mais para um vidro perto de se estilhaçar. 

   Seus olhos passaram por meu corpo, dessa vez sem se apressar em voltar a olhar meu rosto. Focou em minhas pernas visíveis pelo vestido do tango, e foi subindo devagar. Meu quadril... Meus seios... Meu rosto...

    — Quando seu pai me propôs suas filhas eu não quis vê-las, sabia? — O mesmo se aproximou devagar. — Mas ele me jurou que eu me casaria com a mais bela.  Eu sabia da sua fama... Mas não acreditei nele. — Kaanadan agarrou-me pela cintura e eu segurei seu peitoral em forma de ter um pouco de espaço. Fitamos olhos nos olhos. — Mas ele estava certo. 

   Engoli em seco e meu coração palpitava bastante enquanto eu tentava manter uma respiração calma. Me pergunto por que Kaanadan tem que ser tão alto, ao contrário eu poderia tentar sair de seus braços, mas eles estavam bastante firmes em minha cintura, e os meus não tinha muito espaço para movimentos. Eu tinha medo de mexer de alguma forma que atiçasse a fera que eu não queria que acordasse.  

PELA HONRA E PODER #LIVRO 1| TRILOGIA SAVOIAOnde histórias criam vida. Descubra agora