63| O erro de subestimar

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   Cheiro de fumaça inunda minhas narinas quando um forte zumbido incendeia minha cabeça, abro os olhos lentamente, piscando algumas vezes para conseguir acordar de fato. Sei do acidente, ou do proposital, e por isso observo tudo antes de me levantar. O carro parece totalmente estragado, focando mais na porta do motorista, onde um carro acertou com tudo...

   Ivan...

   Me levanto rapidamente, sendo pega por uma forte dor no ombro direito e costelas. Gemo, olhando meu ombro e notando facilmente o local do tiro; e a bala. Levo meus dedos para tocar o ferimento e arde, me fazendo recuar imediatamente. Tentando ignorar a dor, me ergo nos bancos de trás. Olho para trás e os carros do fundo estão em chamas. A rua isolada de qualquer ar humano.

   Me volto para o banco do motorista.

    — Ivan. — Chamo o homem desacordado no banco da frente. — Ivan!

   Ivan está com a testa sangrando. Preso no cinto, seu corpo está firme no banco, mas desacordado demais. Não quero imaginar o pior, por isso o toco, balançando um pouco seu corpo e voltando a chamá-lo:

   — Ivan! Acorda! Ivan!

   O balanço e dou leves tapinhas em seu rosto. — Precisa acordar! Ivan!

   O mesmo mexe o rosto, me dando uma certa esperança. Seu rosto se vira para mim e me inclino para chegar mais perto de si.

   — Ivan, me ouve? — Questiono, o soltando do cinto.

   — Sim... — Diz fracamente.

   Respiro fundo para tentar cortar a dor em todo meu corpo e vou para trás, passando pela porta do fundo e saindo do automóvel destruído. Uma fumaça começa a surgir visivelmente no capô do carro e me apresso a ir para o lado do passageiro a frente. Assim que abro a porta e vejo Ivan, me inclino para dentro.

   — Ótimo, precisa vir comigo... o carro vai pegar fogo a qualquer momento. — Digo e pego-o pela braço.

   Ivan assente e se esforça para vir comigo. Sente uma forte dor pelo gemido que faz, porém insiste, me ajudando também a trazê-lo para fora do carro junto a mim.  Ao sair totalmente, se joga no chão, é o tempo exato para o capô explodir e "Boom!" fogo surgir dali como consequência de uma bomba. Tanto eu como Ivan, olhamos horrorizados para a cena, nos arrastando para trás.

   — Eles sabem do acordo... Ou da tentativa. — O mesmo diz baixo, tocando a testa sangrenta. Seus olhos me encontram, e logo depois meu ombro. — Foi atingida. — Toca e arfo, recuando pela dor. — Precisa tirar a bala, pode inflamar.

   — Já está... — Digo baixo. — Acha que só a gente foi atacado? — Pergunto.

   Ivan desce o meu sobretudo na parte do ombro e analisa o tiro. Ainda olhando o buraco cheio de sangue, nega.

   — Com certeza não. 

   — Quanto tempo acha que dormimos? — Pergunto novamente.

   — Não faço a mínima ideia.

   Ivan respira fundo e se força a levantar até ficar de pé. Estende a mão para mim e faço o mesmo.

   É então que vemos o estrago. Todos os carros estão em chamas, e nos de trás, pessoas já não tem mais vida. É assustador. Tenso e sombrio. Não faço ideia de onde estamos, Ivan parece estar pior do que eu.

   — Precisamos ir ao Miraggio. — Digo baixo, ainda olhando os carros.

   — Precisamos é de um médico, Celeste. 

PELA HONRA E PODER #LIVRO 1| TRILOGIA SAVOIAOnde histórias criam vida. Descubra agora