PELA HONRA E PODER #LIVRO 1| TRILOGIA SAVOIA

09| Washington

   Um zumbido terrível inundou minha cabeça. Me sentei e massageei minhas têmporas, aliviado a dor imensa em minha cabeça. Minha vista embaçada de pouco em pouco se põe no lugar, e assim observo onde estou, não reconhecendo nada. Demoro a lembrar sobre a tentativa de fuga, então quando lembro... foi um fracasso.

   Olho para meu colo e me vejo ainda com o laranja vestido. Me arrasto para fora da grande cama e sinto meu corpo pesado e exausto. Não volto a deitar, me pondo de pé e seguindo para fora do quarto.

   Caminho pelo corredor até chegar em uma escadaria, desço devagar, vendo que tudo está silencioso e vazio. Me pergunto onde estou, mas tudo dá a entender que seja a casa de Kaanadan. Não digo isso por fotos — já que não tenha nenhuma — , mas porque eu estava em movimento quando apaguei, então presumo que não me deixaram me despedir dos meus irmãos. Um tipo de castigo.

   Segui até a lateral da sala. A enorme parede de vidro dá uma bela vista da cidade em tempo noturno. As luzes vibra e encanta na bela paisagem, e olho atentamente, vendo que com certeza eu não estou em Bethesda, mas sim, em Washington DC.

   — Que bom que acordou. 

   Me viro rapidamente ao ouvir a intensa voz. Kaanadan me olha sério, enquanto suas mãos estão descansando nos bolsos frontais da calça que usa. O paletó foi retirado, e ele está apenas com uma camisa branca social, com dois botões de cima abertos.

   — Como pôde me trazer sem ao menos me deixar despedir de meus irmãos? — Pergunto nervosa, falando entre os dentes para não alterar minha voz.

   — Você ia fazer isso quando tentou fugir. Nenhum deles sabiam da sua fuga... ou sabiam?

   O seu tom desafiador me fez tencionar meus ombros. O olhei com desgosto, sabendo que suas palavras eram certas, mas meu pensamento ainda era de que eu voltaria para buscá-los... ou talvez eu não conseguiria.

   — Não sabiam... — Digo em um murmurio.

   Kaanadan se aproxima e eu me afasto, querendo ficar mais longe dele possível.

   — Você deve saber que não pode fugir de mim. Eu sempre te encontrarei, seja lá onde esteja. — Kaanadan continua a se aproximar, mas eu continuo a me afastar. — Foi uma boa jogada entrar no carro de Fiore, mas deveria estudá-lo mais. Melhor, os nossos carros.

   — Eu ainda vou conseguir. — Digo rispidamente. — Ainda vou embora desse lugar. E nunca mais eu voltarei a olhar cada um de vocês. Já era para isso ter acontecido.

    Ele se aproxima e eu vou para sair, porém Kaanadan me pausa ao agarrar meu braço. O mesmo me puxa para si, e eu o encaro com nojo. Seu olhar para mim é nervoso e irritado. Não entendo a surpresa, mas minha farsa calma chega no limite.

   — O que foi? Achou mesmo que eu tinha aceitado esse casamento porque eu estava me sentindo honrada de me casar com um Capo dei Capi? — Rio em sua cara. — Nunca, Kaanadan. Eu me casei com você para eu sair daquela casa, sair debaixo do meu pai. Mas não para ficar embaixo de você. — Solto as palavras enquanto encaro seus olhos. — Da mesma forma que saí de lá, eu sairei daqui. Esse é plano, me casar com um desconhecido para que ele permaneça assim até que meus passos estejam longes, e você nunca mais me veja. E agradecidamente não te vejo também.

   — Melhor se calar. — Sua mão se aperta em meu braço.

   — Por quê? Achei que queria a verdade. Acha que eu não tenho coragem? — Sorrio. — Você não me conhece Kaanadan, eu posso ser bem pior do que você imagina.

   O mesmo crava os olhos nos meus e respira fundo. — Sinto muito por acabar com suas ilusões, mas nunca irá fugir. Eu iria até o inferno e mataria o Diabo apenas para te trazer de volta.