PELA HONRA E PODER #LIVRO 1| TRILOGIA SAVOIA

60| Bem-Vinda a Máfia

   Toda aquela descoberta me deixou em choque, imaginar Gabriel vivo parece tão impossível que ainda passo horas vendo suas fotos arquivadas na pasta, tentando fazer com que a ficha caia e que não seja um pesadelo... ou uma bomba.

   No escritório, mando um e-mail para Júlio, primeiro porque conheço meu pai como ninguém  — ele não ia me atender facilmente. Pedi o soldado uma forcinha para que me colocasse na primeira chamada após o evento. Enquanto isso, eu organizei uma maleta com tudo que eu tinha achado de Gabriel nas pastas de Kaanadan. Fotos. Locais de encontros. Mapas riscados. Mortos...

   Isso ainda é tão... confuso...

    Entre tudo, não reconheci um número privado pelo qual Kaanadan ligava pelo menos umas três vezes no mês. Era algo a se buscar, mas o de Gabriel eu já tinha, e ao analisar... não, não era ele.

   Escutei a campainha, que não passava de um som de alerta de presença no elevador. Virei-me para a porta e saí do escritório, me apressando pelos corredores e pela escadaria; indo até a chave do elevador de entrada e destrancando-a. As portas se abriram normalmente, revelando Scott e Damiano, ambos confusos depois de minha ligação a uns dez minutos atrás.

   Seus olhares não fugiam disso enquanto entravam em casa.

    — Como assim sabe quem pegou o Kaanadan?  — Scott pergunta primeiro.  — Até hoje mais cedo nem sabia que estava tendo guerra por aqui.

   Não era mentira. Afirmei isso com um sobressalto de sobrancelhas. — Bem, Kaanadan manteve uma pasta no escritório...  Ai... achei.

    — E quem o pegou, Celeste?  — Damiano perguntou incrédulo.

   Imagino que incrédulo ficará quando eu dizer a resposta. Respiro e digo:

    — Gabriel... Gabriel Berrutti.

   Scott e Damiano se olham e suspiram. Antes que venham abrir a boca para dizer uma barbaridade — o que em seus lugares eu também falaria —, caminho até o sofá e pego uma foto dele com Fiore, junto, também uma foto dele comigo, pondo-as lado a lado ao mostrar os dois guarda-costas.

   Tanto Scott como Damiano me olham surpresos ao fitar as duas fotos em comparação.

    — Isso é...  — Damiano pega as fotos incrédulo.

    — Bem explicado...  — Scott finaliza. Seus olhos azulados me encontram novamente.  — E o que vai fazer? Disse que não tinha como pegar os soldados do seu pai, mudou repentinamente por quê?

    — Porque eu já tenho o "não", só vou ter que lutar pelo "sim". Mas isso é complicado... — Bufo. — Bem complicado.

    — E acha que vai conseguir?  — Damiano questiona preocupado.

    — Vai dar certo. — Afirmo. — O segredo é colaborar... aceitar qualquer proposta. Meu pai ama o poder, ele precisa estar nesse pódio para aceitar qualquer coisa... Vou ter que me humilhar? Certamente. Mas eu preciso dos soldados...

   — E se ele pedir algo impossível? — Scott pergunta e cruza os braços.

   — Nada é impossível, Scott. Não quando eu conheço a fera, e ele a mim... Isso é fato.

   Os dois se entreolham e eu olho a foto em suas mãos. Um frio cobrindo minha barriga.

   

   O primeiro evento sempre foi demorado. Eu sabia disso desde que me entendo por gente, quando já era forçada a participar daquela porcaria. Bom, descobri hoje que é bem mais demorado do que concretizava.