91| Mar de sangue

2.3K 191 57
                                    


    Era como um mar sombrio invadindo as gigantes grades por trás de tiros e mais tiros que disparavam a cada segundo. De onde eu estava, conseguia ver plenamente a entrada dos soldados Norte Sul, matando qualquer soldado rival que vinha à frente. No chão. Nas varandas dos andares. Nas janelas. Nas torres. Sempre um corpo caía..., mas eu sabia, não ia demorar a ser algum dos nossos a terem o mesmo fim.

   Joguei o fuzil para minhas costas e saí de onde me abaixava, voltando-me até a moto coberta e a puxando com força o bastante para subir e mantê-la em pé ao meu lado. Larguei o capacete de lado e montei na moto, ligando e disparando-a para o morro acima; como diria o plano.

   Enquanto subia cada vez mais rápido — temendo um ataque contra mim —, estava inundada por uma trilha sonora de fundo que se resumia a gritos e tiros, o cheiro de sangue começando a reinar pelos ares. A área de entrada era um ataque cruel de soldados contra soldados, e eu podia ver claramente o banho de sangue que era aquilo.

   E não era nenhum choque, a surpresa foi um ataque cruel... Sempre é.

   Desci no fundo da arena e podia ver alguns dos meus soldados fazendo barreiras de proteção em meio as sombras. Eram os meus escudos, ou pelo menos o muro que me daria tempo para aproximar da base de comando e explodi-la.

   Acelerei a moto e somente a deixei quando meus olhos avistaram a parede da escadaria, onde encostei-a e desliguei. Nisso, desci e puxei o fuzil para meus braços, em silêncio.

   Em um total silêncio.

   Um dos primeiros treinamentos para um soldado, é a capacidade de ocultar sua presença de um local, isso envolve passos, a respiração correta, a camuflagem correta. Victório sempre afirmava algo:  O predador sempre vê a presa, mas a presa nunca deverá ver o predador; ou então não faria sentido sua morte.

   Pensando nisso que puxei uma boa quantidade de ar e tentei aliviar os pesos de meus passos a cada degrau que subia. Pelo fundo, o sinal do ataque era distante, tanto que não estranhei que nenhum alarme ainda tenha soado. Ajustei a arma em meus braços e apontei-a na porta da central — pronta para atirar em qualquer um —, mas a encontrei vazia.

   Apontei e procurei por cada canto, mas nada foi visto. Nem ninguém.

   — Celina... — Falei a procura de minha irmã pelo ponto.

   Um toc chiado soou no ponto e logo sua voz:

   — Sim?

   — Estou na Central, mas não tem ninguém.

   — Então agiliza, porque pelos cálculos de Grey, não vai demorar nem um minuto a chegada da guerra nessa região.

   Joguei o fuzil de volta a minhas costas e fui procurando as pastas de câmeras, tentando ativá-las rapidamente para Celina. Era essa a necessidade central, para que ela consiga se conectar com a central subterrânea mais rápido, depois dessa explodir.

   As telas digitais iam se revelando a cada pasta, enquanto Celina respondia "Ok" a cada carregamento com sucesso. 

   Assim que terminamos, desliguei tudo, me erguendo.

   — Exploda e chegue em segundos na área livre. Rafaelle já "limpou" o corredor. Está a poucos passos dos tiroteios te encontrar.

   Bufei e escutei o ponto chiar novamente, desconectando a ligação de Celina a mim. Puxei a granada e assim que ia puxar seu "gatilho", um tiro soou raspando minha orelha. Ao mesmo tempo que meu corpo se abaixou em reação, o vidro do comando estilhaçou a minha frente.

PELA HONRA E PODER #LIVRO 1| TRILOGIA SAVOIAOnde histórias criam vida. Descubra agora