O olhar do homem a minha frente não demonstra nada a não ser ódio. De certa parte o entendo, mas pelo outro não há motivos. Nos fitamos em silêncio e eu engulo em seco.
— Parece que você se adaptou muito bem no mundo que nunca desejou. — Quebrou o silêncio com amargura no tom da voz.
— Algumas coisas acontecem. — Digo e sinto uma dor na garganta.
Lucca Berruti, o homem que me odeia até o infinito, me encara com rancor. Seu rosto se contrai e ele dá um passo para frente, mas não movo um dedo para trás. Ele é mais baixo do que eu por poucos centímetros, mas agora com salto, pareço bem mais alta. Abaixo apenas meu olhar, o fitando.
— Me recuso a acreditar que Gabriel tenha se iludido por uma falsa como você. — Cospe as palavras. — Chorava por ter que se casar com Kaanadan mas parece incrivelmente feliz ao lado dele.
— Primeiro: Não sou falsa. Segundo: Nunca menti para seu filho. — Encaro seus olhos. — Gabriel queria sair desse mundo tanto quanto eu... não tenho culpa que ele não desejava seguir a carreira do pai.
O mesmo começa a envermelhar. — Por sua culpa meu filho morreu! Por culpa desse seu desejo, por culpa da sua aproximação!
— Ele que se aproximou de mim! — Digo firme. — E eu sofri muito... muito pela morte dele. Sabe disso.
Berruti me deu mais uma olhada. — Mas parece que já passou...
O mesmo sai e eu fico parada — travada — olhando para o piso ilustrado. Eu deveria supor que Berruti estaria aqui. Deveria estar de olho. Suspiro e então vejo a porta do fundo se abrir, Fiore sai dali, me olhando com certa curiosidade. O homem me fita sério e logo um certo sorriso surge em seu rosto enquanto passa por mim e sai. O acompanho com o olhar e logo desisto de ir ao banheiro. Acho que já estou tensa demais.
***
Horas se passaram e o salão voltou a se encher. Minha quinta taça de vinho estava pousada em minha mão, enquanto eu tentava acalmar meus nervos. Gina já tinha vindo me acordar para a realidade, porém não consigo mais sorrir falsamente.
Berruti dança com a esposa, no meio do salão junto com outros casais. Seus olhos sempre me fitam e eu suspiro, virando mais um gole da bebida na boca.
Por mais que minha vontade é de virá-la toda de uma só vez.
— Pode me dizer o que está havendo? — Marga aparece, deixando Silvério a sua espera lá atrás. — Você não para de beber...
— Estou cansada. Sabe se já posso ir?
— Não pode. Kaanadan é o Chefe, ele tem que estar até o fim da festa...
— E eu ao lado. — A completo e viro a taça, terminando a bebida. — Então vou sair para tomar um ar.
A mesma me olha preocupada e eu saio. Sinto um nó na garganta ao lembrar das palavras de Berruti.
"Por sua culpa meu filho morreu! Por culpa desse seu desejo, por culpa da sua aproximação!"
Não nego que por horas, dias, semanas, meses, anos... eu pensei a mesma coisa. Pensei que por minha culpa a única pessoa que compreendia meus pensamentos, morreu de forma cruel. Gabriel Berruti foi o motivo da quebra da aliança entre meu pai e sua família. O mesmo era uma pessoa adorável, inteligente, gentil, mas que queria sair do nosso mundo para viver quem ele era de verdade. Algo que aqui isso nunca aconteceria. Ele tinha sonhos, e aqui nada disso seria possível realizar. Ele era alguém especial para mim... mas acabei apenas encontrando seu corpo no meio de tantos outros mortos no ataque que tivemos a três anos atrás.
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PELA HONRA E PODER #LIVRO 1| TRILOGIA SAVOIA
RomanceNascida em uma das principais máfias brasileiras, Celeste Brandão luta para fugir do destino que a aguarda. Porém, aos dezesseis anos, a mesma foi a escolhida para ser a aliança que uniria duas maiores máfias americanas, em uma luta de honra e poder...