80| Uma chance, talvez

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   O dia amanheceu com um sol forte vindo da janela do quarto para minha cara virada para si. Cocei meus olhos e me virei para o relógio na mesinha ao meu lado, notando as oito da manhã em ponto. Notando a falta de peso em meu corpo, me virei na crença de que Kaanadan já tinha se levantado, porém, cá estava ele, dormindo como pedra enquanto tinha um dos braços embaixo de sua cabeça e o outro com a mão pousada em sua barriga totalmente exposta.

  Com certeza é estranho acordar antes dele, principalmente nesse horário, mas então lembro do que me disse ontem no iate, sobre seu padrinho pedir que ele esfrie um pouco a cabeça sobre o trabalho. Emendando com isso, lembro do que fiz; e como tive coragem de fazer. Aposto que as taças de vinho contribuíram, mas é impossível de acreditar que enfim eu tinha soltado a língua para Kaanadan.

   Porém eu não estou furiosa com isso. Digamos que eu só estou estranhando. Estranhando muito.

   Me levantei e me enrolei em um robe preto para cobrir minha camisola um tanto que curta para zanzar em uma casa cheios de soldados, e prendendo meu cabelo em uma trança baixa, vou até o banheiro. Lavo meu rosto e escovo meus dentes. 

   O movimento na casa estava leve, por isso decidi descer. Ainda estava no robe, mas sabia que estava composta, o que não me fez voltar para me trocar. A sala estava vazia, mas as portas laterais já estavam abertas. Caminhei até a cozinha, sentindo minha barriga roncar no instante que me aproximei da porta do cômodo.

   Olhei pela janela, que dava vista para um pedaço da frente da casa e a maioria para a varanda composta por uma área externa. Soldados fazia suas rondas normalmente, sem nada de perigo em suas faces. Estranho? Bastante, mas não reclamo, voltando para o que me fez vir aqui: caçar algo para matar minha fome.

   Rodei a geladeira, não achando nada que me fizesse desejar comer, então fui atrás dos armários, me esticando para poder ver o que tinha neles. 

   — Acho que deveriam me avisar que a padaria mais próxima daqui era quase três quilômetros da casa. — Levei um susto, levando a mão ao peito no instante que me virei e vi Giovanni entrar na cozinha com algumas sacolas no braço. — Pior, eles nem falam inglês, custei fazer eles entender o que eu queria.  — Me olhou e sorriu. — Bom dia, Celeste.

   Ainda em estado de susto, passei a mão pela testa em direção ao cabelo. — Bom dia, senhor Giovanni, mas nem eu sei onde fica uma padaria por essa região. — Sorri sincera, mas ainda tinha meu coração batendo como se fosse torar todas as ligações que o prende dentro de mim.

   — Giovanni, menina. Só Giovanni. — Assenti e o mesmo retribuiu em forma de entendimento. — Pois bem, fica longe e com certeza eu não vou me aventurar de ir atrás de algo a pé novamente. — Rimos. — Agora me diga, como foi ontem no iate?

   Me aproximei para ajudá-lo com as sacolas. — Foi muito bom, devo admitir que fazer Kaanadan tirar as roupas pretas e não querer falar em guerra a cada três segundos, foi uma obra de arte. — Desempacotamos os sacos de pães e fui atrás de uma vasilha para colocá-los. — Além do mais, foi uma noite bastante agradável.

   — Para ambos?

   Peguei uma vasilha em forma de fruteira, aberta e grande, voltando em direção ao mais velho. Fitei o olhar curioso de Giovanni e assenti meio sem graça por lembrar da noite.

   — Sim, para ambos.

   O seu ar aliviado soou por suas narinas. Se escorando no balcão no centro da cozinha e se concentrando em pôr em pratos, fatias de presunto e muçarela, que também comprou nessa ida, Giovanni suspirou. 

PELA HONRA E PODER #LIVRO 1| TRILOGIA SAVOIAOnde histórias criam vida. Descubra agora