59| Motivo e perigo

3.2K 283 65
                                    


   O dia amanheceu muito rápido para o meu querer, mal consegui dormir e logo eu já estava de pé, arrumada para uma reunião e logo dentro de um dos carros da organização, conduzido por Damiano.

   A cidade já estava movimentada, pessoas caminham tranquilamente em meio a nevasca da noite passada. Nunca tinha visto neve de perto, hoje era a primeira vez, mas... eu esperava que seria um encontro animado e feliz, nada como agora, tenso e preocupado. Enquanto uma nova chuva de neve começava a cair tranquilamente, tombei minha cabeça no banco e respirei fundo, fechando meu olhos por breves segundos.

   — Qual vai ser a solução? — Escutei Damiano perguntar baixo.

   A preocupação em sua voz era tão nítida que eu poderia sentir o frio em minha barriga se fazer presente mil vezes mais intenso. Minhas mãos soarem e meu coração se apertar. Aliás, eu vim decidida a trazer Kaanadan, mas a realidade é que... não tenho noção de como fazer isso sem ter que arriscar minha cabeça na forca.

   — Não tem... — Respondi tão baixo quanto tua voz. 

   O silêncio se torna presente e seguimos assim até estarmos de volta ao cassino. No lugar que já parece sinônimo de caos e problema. Entramos em passos rápidos, mas eu sentia o problema mais vivo do que nunca em uma camada externa que cobria todo meu corpo. Todo meu ar.

   A sala estava cheia, eu podia ver por fora, pelos vidros embaçados da porta dupla. Caminhava ao lado de Scott, que aparecera de repente assim que eu e Damiano chegamos no salão de jogos. Assim que abri as portas negras, todos os olhares viraram para mim. Atenciosos, sérios, curiosos, desconfiados... desacreditados.

   O que eu podia reclamar? Até eu estava.

   Um rapaz cutucou um alto que estava de costa e, ao se virar, me olhou por algum tempo, antes de apontar para uma única cadeira vaga em meio a todos.

   — Senhora Salvatore, sente-se. — Faço isso e ele ainda me olha. — Sou Rafaelle, capitão do grupo responsável por caçar o chefe.

   — Também o que quer desistir de salvar seu Capo. — Digo sem controle da minha própria boca. Mas não me desculpo. 

   O mesmo suspira. — Ele faria a mesma coisa. — Diz ao cruzar os braços. — Temos que olhar tudo em nossa volta para tomar uma iniciativa, senhora. Soldados morrem a cada segundo, perdemos poder a cada piscar de olhos, e todos que ainda se voluntariam para ir atrás do chefe, infelizmente nem voltam para o seu próprio velório.

   — E não são treinados para isso? Para uma guerra? Não conseguem nem tirar o Kaanadan de um lugar? — Pergunto de forma grosseira, não sei se foi a noite de baixo sono, ou apenas a irritabilidade de ver que o pior está acontecendo, mas não consigo soar sequer levemente gentil.

   Rafaelle me olha furioso, sei que apertei logo no ego de muitos soldados. Um tossido proposital quebra nosso olhar sério um sobre o outro, nos viramos e vemos Nico.

   — O Rafaelle não tem culpa, senhora. — Diz e então se levanta de onde estava. — Com licença... — Passa por muitos até Rafaelle, atrás do mesmo, Nico pega um tipo de mapa e o abre de uma só vez na grande mesa, empurrando mais para mim. — Este é o mapa da Sicília, em foco. Está vendo um círculo vermelho em um ponto destaque? — Assinto, vendo o destaque em um lugar longe até da cidade, isolada, um tipo de ilha. — Uma ilha. O que sabemos é que os Russos e Chineses dominaram esse pedaço já faz um tempo, tem muitos soldados armados ali para confrontar-nos... O problema principal é que não temos mais soldados para mandar. A cada ponto de Washington está tendo confrontos, os que não morrem são levados ou são feridos que estão no hospital da organização. 

PELA HONRA E PODER #LIVRO 1| TRILOGIA SAVOIAOnde histórias criam vida. Descubra agora