Não dormiu em casa. Uma típica reação de quem se sente culpado ou simplesmente começou um drama para a manipulação psicológica.
Talvez estivesse dando certo.
Um certo alívio me dominou ontem, ao me libertar das palavras que em dias vem entaladas em minha garganta, mas junto dela, a sensação de que nada vai melhorar ainda me corroem. Respiro fundo e chuto mais uma vez o boneco de borracha que em seguida balança para os lados antes que o chutasse novamente, mantendo minhas mãos com punhos fechados em frente ao meu rosto.
Isso está me mantando e, nem o treino da manhã me ajudou a descarregar a raiva que estou sentindo. Sim, por isso estou no meio da tarde chutando um boneco, soando como se estivesse a horas em uma maratona e com as juntas do tornozelo quase roxas de tanto socar algo.
Esmurro várias vezes o rosto do boneco, grunhindo nervosa, antes que meu corpo cedesse e encontrasse o chão amaciado.
Levei meus pulsos aos olhos, tentando aliviar essa coisa ruim que me atormenta.
— Coitado desse que for o boneco.
Abro meus olhos e me ergo, virando para trás ao notar a voz de Ada. A loira sorri, vindo com uma bandeja onde visualizo um copo de suco, um de água e um sanduiche fresco. Me direciono a mesma.
— Não precisava, Ada. Obrigada. — Digo ao me sentar no banco grande onde também a bandeja se repousa. Pego primeiro o copo de água e bebo.
— Bem, acho que precisava. Já faz horas que está aqui.
Suspiro. — Nem vi as horas passarem...
Balanço meu rosto para espantar o clima ruim, mas Ada se senta ao meu lado, me olhando com um dócil olhar gentil e preocupado.
— Tem algo te atormentando... — Afirma. — Quer conversar?
A encaro por alguns segundos e assinto.
— É o Kaanadan. — Digo e suspiro. — Eu cansei de agir de um modo para tentar convencê-lo que pode confiar em mim. Eu pedi trégua, eu aceitei vim para Bethesda, eu aceito todas suas falas que me repudiam e... e nunca parece ser o suficiente, Ada. O problema é que isso cansa, a gente briga, resolve, briga, resolve... mas no fim ainda estamos lá atrás, onde não sabemos se realmente o outro é confiável, ou se é e a gente que não quer isso.
A mesma assente, olhando para as mãos no colo como se pensasse sobre o que foi dito. Ada parece que realmente entende, já que balança a cabeça positivamente várias vezes, voltando a me olhar assim que capta minhas palavras.
— Kaanadan sempre foi complicado a respeito de confiar em alguém. — Começa, me olhando calmamente. — As vezes suponho que nem mesmo aqueles que ele diz confiar, realmente tem a confiança dele.
— Então eu nunca vou conseguir a liberdade pelo caminho da confiança... — Suspiro e passo a mão pelo meu cabelo preso em um alto rabo de cavalo.
— As vezes suas atitudes estejam mais faladas do que demonstradas. Jogar coisas na cara do Kaanadan é a mesma coisa de jogar nada no nada. — Ada diz e me faz olhá-la. — Estou dizendo que as vezes o Kaanadan precisa ouvir, mas ao mesmo tempo ele precisa falar. Você tem que fazer ele perder o juízo, ele fica tagarela.
Rio anasalado, vendo a mesma sorri. Mas nego.
— Do tanto que já fiz ele ficar nervoso e nada saiu... não acredito mais nisso, Ada. Ele me pede para ficar, esperar por ele, mas ele não ajuda! Eu só quero entender o motivo que ele tem essa insistência em se manter longe toda vez que peço algo que todos tem menos eu.
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PELA HONRA E PODER #LIVRO 1| TRILOGIA SAVOIA
Roman d'amourNascida em uma das principais máfias brasileiras, Celeste Brandão luta para fugir do destino que a aguarda. Porém, aos dezesseis anos, a mesma foi a escolhida para ser a aliança que uniria duas maiores máfias americanas, em uma luta de honra e poder...