Capítulo 26 - Meu nome não é Elsa.

5 2 0
                                    

André já estava praticamente bem e bebia algum tipo de sopa, e sua expressão confirmava o mito de comida de hospital não ser das melhores, mas precisava comer, se sentia um pouco fraco e estava com muita fome.

A televisão ligada bombardeava informações sobre musica, crimes e novela. Nada importante, sempre a mesma coisa, o que entrava em contraste com uma matéria um tanto diferente. Um assassino serial fazia suas vitimas pela cidade de uma forma bem peculiar, fogo. Suas vitimas já ultrapassavam dez, todas carbonizadas e se não fosse pela arcada dentaria seriam enterrados como indigentes. Todos foram reconhecidos como membros de gangues, então André não deu muita importância. Todo dia morrem pessoas, pensou, e esses com certeza não fariam falta na sociedade.

Sua atenção foi roubada por uma enfermeira que entrava em seus aposentos.

─ Trouxe mais sopa para o senhor. ─ Disse a enfermeira enquanto pegava a tigela.

─ Não precisa. Estou satisfeito.

A enfermeira deu de ombros e caminhou até a porta e a trancou por dentro com a chave. O que chamou bastante a atenção de André que agora em estado de alerta reparou, que se tratava da mesma mulher de tez morena e cabelos negros que apareceu no exato momento em que estava prestes a desmaiar depois da alucinação que teve.

─ Quem é você? ─ Perguntou André aflito lembrando do momento de terror que passou na noite anterior.

─ Eu que pergunto. Quem é você moleque? ─ Perguntou de forma ameaçadora.

─ Eu me lembro de você... ─ Disse André inquieto em sua cama.

─ Ninguém nunca sobreviveu a um encontro com ela. ─ Disparou enquanto passava os dedos pelos eletrodos presos ao peito de André.

─ O que foi aquilo? Então eu não estava delirando? Aquilo realmente aconteceu? ─ André estava tremendo. Não de frio, mas de medo.

─ Pobre rapaz ─ Disse sarcástica ─ cometi um grande erro em te – lo deixado vivo. Vim aqui para corrigir isso.

André tentou se levantar mas estava fraco e com bastantes fios preso ao corpo e sabia que algo ruim poderia acontecer caso aqueles fios se soltassem. Mas estar presente com aquela louca que não falava coisa com coisa o deixava bastante nervoso. Ela falava sobre o evento nada comum que quase o matara e só de relembrar as sensações vividas, fazia com que temesse por sua vida.

─ Parece até um ratinho com medo. Não se preocupe, sua aflição logo terá um fim, assim como sua miserável vida patética.

Em instantes o ambiente era tomado por uma sensação de frio e morte. Os cabelos da estranha esvoaçavam feito seda com a ação de uma leve ventania que era formada no interior do aposento. O medo voltava a tomar conta do semblante de André ao ver uma imagem tomando forma atrás daquela estranha. A imagem não era nítida mas aquela presença esmagadora da aparição lembrava com certeza a mesma que tentara tomar sua vida no térreo do edifício.

─ SHIVA. ─ Pensou.

─ Será a ultima vez que presenciará esse fenômeno. ─ Disse com uma voz nada humana.

De repente a morte lhe assombrava mais uma vez. Seu corpo voltava ao mesmo estado de dormência que fora tomado anteriormente, e a sensação de impotência lhe assaltava, mostrando o quão era frágil diante ao incomensurável poder da morte sobrenatural. Temeu mais ainda ao ver algo que a mente humana jamais poderia presenciar e continuar sã. Algo que não existia de fato em nossa realidade.

─ Kate (lê – se Keite). Lembre – se desse nome no além.

Uma forte rajada de vento ia se formando em volta do corpo de Kate, pedaços de granizos se formavam como se desenhasse os anéis de saturno. Kate ergueu sua mão direita em direção a André e uma pequena estaca de gelo começava a se formar em sua mão. Algo semelhante a uma faca de quinze centímetros pontiaguda, de forma que perfuraria facilmente a carne humana. A carne de André.

─ Desculpe. Não é pessoal. Quer dizer, só um pouquinho. Nenhum humano sobreviveu a presença da minha deusa, ou seja, você não é humano. Não posso deixar que continue vivo, aberração. ─ Disse de forma maligna e debochada.

─ Pare com isso, você é maluca. Enfermeira. Seguranças. Alguém... ─ André gritava descompassado temendo por sua vida.

─ Não adianta gritar. Ninguém irá te ouvir...estamos no meu mundo.

Kate disparou sem hesitar contra o peito de André que permanecia imóvel agora devido a dormência que tomava conta de seu corpo. Era seu fim, pensou. Se não fosse aqueles fios que ele achava que o matinam vivo e seu estado lamentável devido ao poder sobrenatural que o envolvia, arrebentaria a cara daquela lunática. Mas aquilo tudo estava muito além de sua capacidade.

Suas esperanças já haviam chegado ao fim. Não entendia o que estava acontecendo. Quem era aquela mulher que parecia dominar o frio e nem o porque de suas intenções. A única coisa que estava clara é que iria padecer encima daquela cama de hospital. Talvez Deus o estivesse punindo pelo assassinato da pobre menina. Nunca foi santo mas também não era nenhum vilão. Nunca roubara. Nunca matara. Não ia a igreja mas também não a desrespeitava. Era seu fim e sua vida agora passava como um filme em sua mente.

Quando Kate e Shiva estavam prestes a lhe tirar a vida, algo finalmente conspirou ao seu favor. Kate interrompeu seu ataque tendo sua atenção roubada por uma reportagem que passava na televisão. O clima ia voltando lentamente ao normal e a imagem fantasmagórica de Shiva desaparecia como a imagem de uma televisão ficando fora de sintonia.

A reportagem que passava naquele momento mostrava ao vivo um pequeno incêndio que acontecia nas proximidades em uma pequena fábrica de papel. As ruas estavam tomadas por viaturas policiais, repórteres e curiosos. Dizia – se que o maníaco do fogo fazia mais vitimas como vinha acontecendo nos últimos dias e finalmente, a policia o conseguira encurrala – lo. Mas não foi só isso que chamou a atenção de Kate. Um leve sorriso estampava em seu rosto como se desejasse tal ocorrência.

─ Finalmente te encontrei. ─ Disse.

Kate rodou nos calcanhares e quando se preparava para sair dos aposentos André lhe surpreendeu com uma pergunta nada comum.

─ Pelo visto ainda não é minha hora de morrer não é mesmo? ─ Perguntou André de forma sarcástica.

─ Você tem muita sorte por minha atenção estar sempre voltada a assuntos mais importantes moleque.

─ Não sei quem ou o que é você. Mas acha que alguém iria acreditar em qualquer coisa que eu dissesse sobre isso? ─ André sibilou as palavras. Seu medo estava claro e como se fosse um pedido de suplica demonstrou que seu segredo estaria bem guardado.

─ Nos encontraremos de novo...

Kate deu de ombros e saiu do aposento sem mais palavras.

Quando André viu que finalmente estava sozinho, gritou pelas enfermeiras que em alguns segundos chegaram em seu apelo. Seus batimentos caiam rapidamente para em seguida o levar a um súbito desmaio. Mais uma vez os profissionais da saúde não entenderam o que havia acontecido. Novamente André estava quase congelado e o ambiente resfriado a uma temperatura que nem mesmo o melhor e mais potente ar condicionado poderia proporcionar. Porém, mais uma vez a sorte o salvou de um trágico e misero fim.

Os Escolhidos - A Missão do Anjo LilielOnde histórias criam vida. Descubra agora