Capítulo 57 - Morte dourada

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Enquanto isso bem longe dali....

André continuava em estado critico após o encontro com Kate e Shiva, como se o fato de ter assassinado a pequena Eliza não fosse nada comparado ao terrível fenômeno que presenciara, antes no edifício e agora dentro da enfermaria. Mantido a base de tranquilizante, André agora descansava em sua cama, porém, não tão calmo como deveria estar. Imagens da aparição da mulher do gelo e da morte de Eliza causada pelas suas mãos, assombravam seus sonhos, agravando seu estado físico e mental, dificultando assim, sua recuperação.

Os médicos por sua vez, acharam um milagre que o rapaz ainda continuava vivo. Fora exposto misteriosamente a uma temperatura incrivelmente baixa, seu corpo estava praticamente congelado mas que por uma benção, seus órgãos internos não foram afetados. Milagre ou não, os médicos conseguiram socorre – lo antes de uma possível hipotermia, que por sorte, mesmo no estado em que se encontrava, não havia sofrido tal desgraça. Dentro de alguns dias estaria completamente recuperado e já teria alta.

Nas câmeras de emergência, alguns guardas riam e debochavam do estado critico de André. Deitado sozinho naquele pequeno quarto da enfermaria, o mesmo se debatia e falava sozinho, alucinado. Gritava descompassado, pedia socorro e clamava ajuda. Chamava pelos nomes Shiva e Eliza. Dizia que não tinha culpa de nada, que foi tudo um acidente. 

Seu estado era deplorável e os guardas da segurança assistiam como se fosse um quadro de comédia, enquanto comiam pipoca e bebiam refrigerante. Porém, havia algo naquele quarto que eles não conseguiam ver.

Deitada na mesma cama que André, havia uma mulher, morena e de cabelos lisos de cor escura. Estava completamente ensanguentada, varias perfurações em seu diafragma faziam litros e mais litros de sangue escorrerem pelo seu corpo nu. Era Eliza, ou melhor, o espirito de Eliza.

Muitos espíritos, tendem a não querer partir para o outro mundo, principalmente no caso de Eliza, que teve sua vida roubada prematuramente no auge de sua juventude pelas mãos de André. Isso fez com que seus instintos ficassem presos ao seu algoz. A principio a mesma procurava vingança contra aquele que a assassinou, mas lembrou – se que algumas horas que antecederam sua morte, o mesmo havia sido o primeiro homem com quem havia se deitado, com quem havia transado, perdido sua preciosa virgindade. 

Isso fez com que seu espirito desejasse "viver" sua outra vida para sempre junto do rapaz – mesmo sem saber que sua presença estava agravando ainda mais o estado de saúde de André.

Eliza se agarrava com força e desejo no corpo do rapaz e só o soltava, quando era tomada violentamente pelas dores dos golpes que a levaram a falecer. Eliza, não entendia porque André não lhe ouvia, não lhe sentia, isso fazia com que ficasse transtornada, liberando uma grande onda de energia fúnebre e pesada sobre o rapaz.

– Você me tirou a vida. – Falou com desprezo e amargura – Agora, pouco a pouco, irei acabar com sua sanidade por completo, e por ultimo, com a sua própria vida, assim como fez com a minha. – Assim como seu ferimento que escorria interminavelmente, seus olhos esvaiam lágrimas como uma cachoeira. Dor. Tristeza. Não sabia. Mas sabia, que iria passar sua pós vida ao lado de André. MAs bem no seu interior, a mesma sabia e se lembrava, que ela mesma pediu, implorou a André que acabasse com o sofrimento de estar sendo tomada por aqueles espiritos malignos. 

Mas ela não estava nem ai para isso. Queria vingança.

De repente as luzes começaram a piscar lentamente, até se apagarem por completo. Eliza se agarrou com força ao corpo de André e tentava acorda – lo,  sem êxito, sabia que algo ruim estava para acontecer, ainda era uma menina apesar de tudo e estava bastante assustada. 

Atrás das câmeras de vigilância, os guardas notaram que a imagem começava a falhar, chuviscos e interferência, até que enfim, desligaram. Um deles tentou ajustar a configuração e a sintonia no painel de controle, mas nada adiantou.

– Relaxa cara. – Mal conseguia falar com a boca transbordando de pipoca. – Deve ser uma interferência boba como de costume. Depois volta. – Ligou a televisão e ficou atento aos noticiários do dia.

Dentro da enfermaria, novamente voltava a se criar aquela ventania sinistra e misteriosa, e isso fez com que André despertasse incontrolavelmente. Gritava e tentava se levantar, mas o mesmo estava preso à cama com tiras de couro nos punhos e tornozelos – talvez uma alternativa caso o mesmo perdesse ainda mais o controle devido as suas alucinações.

Algo similar a um buraco negro envolto de raios, formava – se no centro do quarto sem ao menos causar danos ao interior, mesmo com aquela forte descarga elétrica que emanava do fenômeno.

Um clarão.

Uma forte e ofuscante luz, irradiou do buraco negro cegando temporariamente André e o espirito de Eliza. Alguns segundos depois, via - se uma figura sinistra e um tanto peculiar a frente de ambos. Seus contornos masculinos desenhava – se em uma bruta e fantástica armadura dourada que vestia todo o seu corpo. Longos cabelos loiros desciam por seus ombros, e seu rosto, não havia necessariamente uma face, e sim a imagem de uma galáxia inteira por dentro de seu elmo completo. 

Era uma visão completamente grotesca mas ao mesmo tempo fascinante. Sua armadura brilhava como as estrelas e sua face, era como se realmente transportasse galáxias, constelações e nebulosas.

Uma das imagens mais fascinantes e esplendorosas já vista por aqueles dois, era praticamente hipnotizador. O material daquela armadura era como ouro maciço e as pedras brilhantes que adornavam aquela escultura, pareciam pedaço dos astros. Homem, anjo ou demônio? Não sabia – se, mas era certo que não pertencia aquele mundo. E pior, não parecia nenhum pouco amigável.

O ser mantinha - se imóvel.

Alguém bateu na porta.

Uma enfermeira entrava de costas arrastando um carrinho com o almoço do paciente sem se dar conta daquela criatura que estava nos aposentos. Seu corpo atravessou o ser misterioso como energia e estacionou o carrinho ao lado da cama de André, que ainda bastante dopado e em estado débil, apontava com a mão tremula e os olhos esbugalhados para tal criatura.

A enfermeira olhou na direção que apontava mas não viu absolutamente nada. Acomodou o paciente em sua cama e lhe aplicou mais uma dose de calmante na veia. André por sua vez, fingiu ter sido afetado pelo medicamento, afim de que a pobre enfermeira saísse logo, temendo por sua vida. Nessa altura, André já estava praticamente imune aos efeitos dos medicamentos. Que na verdade, não lhe afetavam mais do que ja estava.

Tarde demais. O ser dourado, esticou sua mão esquerda na direção da enfermeira e lentamente fechou os punhos.

O corpo daquela pobre mulher começou a ter espasmos. Seus braços. Suas pernas. Seu pescoço e seu tronco, se contorciam violentamente. Músculos e ossos se partiam. De seus olhos, bocas, narizes e dos demais orifícios escorriam sangue. Bruscamente a velocidade de seus espasmos e contorções aumentavam a um nível extraordinário, transformando - se em apenas um saco de pele vazio, implodindo em seguida. Sangues e tripas grudaram no teto e nas paredes daquela enfermaria.

─ Sua vez. ─ Resolveu falar e apontou para André. 

Sua voz era diferente de tudo que já ouviram. Não era de homem nem de mulher. Nem mesmo se parecia com quaisquer efeitos especiais ouvido em filmes.

Era como a explosão de mil estrelas.

Os Escolhidos - A Missão do Anjo LilielOnde histórias criam vida. Descubra agora