Capítulo 32: Entre o porto-seguro e o além-mar.
Dar alguma chance para que os últimos acontecimentos pudessem desvanecer não passava de uma hipótese vagando pelos pensamentos de Kim Hongjoong. Era como tentar dissolver água e trigo, e adicionar um pouco de óleo. Água era a via por si só, e o trigo era a fuga do hospital, para terminar, vinha o óleo graças à Park Seonghwa e sua inimizade com o lado dos Song.
Estava a encarar um quadro no seu quarto onde era mantido em um cárcere não especificado. Com relação a sua saúde, podia dizer que com o passar dos dias, fisicamente ele vinha se regenerando com grande progressão, embora não pudesse dizer o mesmo de sua mente. Era fim de tarde quando a apatia tirou um pouco do sentimento ansioso e ao mesmo tempo angustiante que tomava a sua alma; não havia conseguido ingerir um único grão de comida e a ideia de se movimentar além do básico o deixava nervoso. Preso em seu próprio espectro de consciência, ele se viu confinado em sua própria cabeça. O fato de pensar muito não queria dizer que estivesse em condições de executar esses planos processados, e apenas pensar o faz ficar hesitante ao ponto de evitar fazê-lo por medo de fracassar.
Retirou seu foco do quadro com tons majoritariamente dourados sem conseguir descrever o que a variável de formas e cores formava, fitando a janela de esguelha para em seguida se culpar por não saber como está o mundo lá fora. Certamente estava menos desesperado, mas não menos aturdido.
Carregava uma premissa que era o seguinte: já que não estava morto, então que vivesse. Mas viver se tornou tão difícil como se as engrenagens em sua cabeça fossem incapazes de girar em um ritmo aceitável, igual a se ter cordas segurando seus braços e pernas e redes prendendo suas vontades. Algo forte, ainda que invisível, estava transformando Hongjoong no que ele não conhecia, e essa de longe não é uma metamorfose bem-vinda. Ele esperava evoluir para alguém melhor do que era ou foi um dia, orgulhar-se de si mesmo ao ponto de alcançar as próprias expectativas altas. No entanto, atualmente ele havia travado, praticamente congelado, e toda a chama e febre benevolente que o aquecia por dentro havia esfriado, deixando para trás um rastro gelado de destruição.
Sua alma foi definitivamente massacrada.
Ele havia sido morto da pior forma possível; morto de espírito, de vontades e de desejos. Ganhou uma mente cansada e algemas invisíveis em torno dos pulsos.
A natureza negativa que o cercava era tóxica. E havia tanto para sentir, mas ele havia escondido todas as suas emoções mais intensas em um núcleo em seu peito para não ter que senti-las até que desaparecessem.
Um pensamento pontual que o virava do avesso era a lembrança de perda. Hongjoong se perguntava se era igual ao sentimento de perder uma guerra, uma espécie de luto, vergonha por ter sido derrotado e não ter feito tudo o que podia ao ponto de chegar a vitória.
Já havia passado pelo estágio da inconformidade, da raiva e incredulidade, se perguntando porquê não poderia ser outra pessoa senão ele. Sentindo-se sem espaço como em uma caixa preta sem janelas. Deixado ali para sufocar sem um pingo de compaixão.
Esperar que alguém fosse salvá-lo era uma perda de tempo, porque ninguém que conhecia tinha tamanho poder ou interesse. Se seu irmão não tivesse aparecido ainda, sua família estava focada nisso conforme o histórico que bem conhecia. Ele vivia sozinho e não tinha alguém para sentir sua falta. Definitivamente a única pessoa que iria notar o seu sumiço seria Mingi.
Mingi que agora também estava desaparecido. Ou, neste caso, a depender da sorte e de Choi Jongho.
Obsessivamente, manhãs e tardes, Hongjoong se remoía por não ter conhecimento do paradeiro dele.
— Eu trouxe suco — alguém havia entrado pela porta após bater duas vezes, com dois copos nas mãos.
Sobre Wooyoung. Certo, Hongjoong não tinha um julgamento sobre ele. Tudo o que ele esboçava era gentileza, e logicamente não estaria se recuperando bem se não fosse por ele, então devia sentir gratidão por ter a sua ajuda. No entanto, existia um fator em peso que influenciava Hongjoong a não se sentir confortável sobre essa relação como num tudo. Na realidade, ele se imaginava como um cachorro de rua que foi resgatado e agora estava sendo digno de compaixão e viveria acorrentado pelo resto de sua vida, ou algo do tipo.
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CASHIT | MAFIA ATEEZ | TEMP I
FanfictionEm um mundo de poder e ganância, Seonghwa busca incansavelmente elevar seu grupo ao topo da hierarquia na Coréia. Choi San, especializado em negócios ilícitos, cruza caminhos com Mingi, Jongho e Hongjoong, formando uma teia mortal de rivalidade e in...