EXTRA 2

284 27 18
                                    

Capítulo 55: O homem fardado

Jung Wooyoung não se lembrava de muitos episódios envolvendo a sua vida quando era mais jovem.

Ele estava sozinho e infelizmente isso lhe dava tempo para refletir. Estranhamente viajou por memórias amargas.

Yeosang e ele estavam almoçando em silêncio. Até que escutaram o som do motor de um carro desligar do lado de fora da casa e Yeosang engoliu em seco, encarando Wooyoung com um teor amedrontado. Wooyoung imaginava o porquê, mas ele não disse nada e as portas se abriram, revelando a aparência austera de seu pai vestindo a farda do exército repleta de insígnias e condecorações.

Sem pedir para se juntar à mesa, ele puxou uma cadeira e se sentou, sendo cumprimentado educadamente por seus filhos.

— Como foi o treino ontem, Wooyoung? — o Tenente-Coronel perguntou rigidamente, servindo-se.

Wooyoung parou de comer imediatamente, era como se a comida não pudesse mais passar em sua garganta, então ele abaixou a cabeça e sentiu o olhar pesado de seu pai mover-se para si.

— Foi bem, senhor — respondeu baixinho, engolindo em seco.

Havia uma particularidade na relação deles: era como se estivessem cem por cento do tempo sendo regidos pela hierarquia de patentes do exército.

— Yeosang, como o seu irmão se saiu no treino de resistência? Você pode se sair bem também?

— Eu dei o melhor de mim, assim como sempre — quem respondeu foi Wooyoung, assim que notou que Yeosang estava hesitando.

Repentinamente o tenente levantou-se e golpeou Wooyoung com um soco que lhe arremessou contra o chão.

— Isso é por tentar proteger o fracote do seu irmão — ralhou furioso, porém seguindo uma linha autoritária e fria, observando o seu filho no chão. Chutou-o no estômago, escutando-o urrar e se encolher no segundo chute certeiro.

— Pai! — Yeosang ergueu-se assustado e com os olhos marejados, assistindo Wooyoung apanhar por mentir na tentativa de encobri-lo para o Tenente-Coronel.

— Seu irmão não foi para os treinos nos últimos dias — o senhor Jung estava se dirigindo a Wooyoung, chutando mais uma vez. Ele chutou com mais força, pisando contra o seu peito — E ao invés de você ser obediente e disciplinado para contar ao seu pai o que estava acontecendo, preferiu acobertá-lo?

Grosseiramente, puxou Wooyoung do chão pelo colarinho para encará-lo, escutando no fundo Yeosang lhe pedir para parar. Ele estava em uma posição impotente como em tantas outras vezes que assistiu o seu irmão apanhar ou ele mesmo era alvo de todas aquelas agressões que visavam discipliná-los.

— Eu sinto muito. Eu sinto muito! — pediu Wooyoung um pouco grogue por conta das pancadas, o nariz sangrando e a boca ferida. — Ele não fez por mal, ele só... não estava disposto nesses dias, então...

— Então você achou que era melhor jogar o nome da nossa família na lama do que agir como o bom filho que eu te ensinei a ser? Já não bastava ele ser um bastardo, ainda não consegue se aplicar a coisas simples que impactarão no futuro dessa família — vociferou, largando Wooyoung e lhe acertando com outro soco, agarrando seus cabelos. Encarou nos olhos cheios de medo de Wooyoung, soando alto e claro: — Eu sei que ele tem faltado para ir às aulas de dança como uma bichinha! Sei que ele tem perdido tempo provavelmente sendo uma meretriz como a puta da mãe dele, e você também sabia e não me disse nada!

— Não fale assim dele — Wooyoung proferiu entredentes, sentindo tanta dor que era difícil explicar como ele ainda estava se suportando em pé, com suas costelas rangendo e sua pele, seus músculos, pulsando dolorosamente. — Ele só... ele só... não se interessa por... — desistiu de falar, perdendo a coragem perante a autoridade esmagadora de seu pai.

— Eu decido pelo o que ele se interessa ou não — proferiu arbitrário, apoiando uma das mãos em sua arma no coldre. Voltou-se para Yeosang que a essa altura estava em choque, temeroso e preocupado com o seu irmão. — Se não voltar a comparecer às aulas no quartel, você vai assistir cenas como essas só que muito piores. Vai querer machucar o seu irmão quantas vezes? Pode me dizer e eu desconto tudo agora. A culpa é sua por ser fraco, Yeosang. A culpa é toda sua. Veja o estado do seu irmão! Está feliz?

Trêmulo, Yeosang abaixou a cabeça e começou a chorar, sendo engolido por uma culpa monstruosa. Foi arrebatado pelo pavor, pelo sentimento de sentir minúsculo, humilhado, reduzido a merda nenhuma. Queria tirar Wooyoung de perto de seu pai, impedi-lo de receber mais socos ou chutes dele, mas simplesmente o seu corpo não se mexia, estava congelado, em pânico. Realmente acreditava que era culpa sua, que era ruim e deveria apenas... ser outra pessoa.

— Você vai vigiar ele — ordenando, o tenente foi contra Wooyoung, agarrando o seu pescoço para apertá-lo. Enforcou impiedosamente, os olhos de Wooyoung transbordavam lágrimas e ele tentava agarrar os pulsos do tenente para impedi-lo. — Se ele sair da linha de novo, me diga e eu cuidarei dele. Se não me dizer, quem vai pagar é você.

Assim o tenente deixou o ambiente com passos pesados e uma pose irredutível e implacável. Era como se ele pudesse atirar no próprio filho caso lhe fosse dada a oportunidade. Wooyoung caiu no chão enfraquecido, sofrendo com dores espalhadas por seu corpo e ainda sendo abatido pelo sufocamento, tossindo e buscando ar afoitamente. Yeosang correu até ele, ficando de joelhos e agarrando os seus ombros para tentar sustentá-lo ou ele iria desabar. Ele estava em um estado catastrófico.

— Wooyoung, eu sinto muito! Eu... Eu... — seus lábios tremiam e lágrimas corriam por suas bochechas, o arrependimento era claro em seus traços faciais. — Me perdoa... Eu não queria que ele machucasse você. Eu... Você pode me socar agora se quiser. Me desculpa, Wooyoung, me desculpa... Por favor, me perdoa...

Wooyoung o encarou após cuspir um pouco de sangue misturado com o ácido de seu estômago, usando as costas das mãos para limpar o excesso que havia em seu nariz. O inchaço de seu olho esquerdo lhe impedia de enxergar devidamente o seu irmão, mas o seu coração doía mais do que qualquer coisa apenas porque podia sentir o quanto ele estava sofrendo.

Yeosang esperou ser acertado por um tapa quando Wooyoung ergueu sua mão até o seu rosto, mas, ao invés disso, ele acariciou aquela região e logo lhe trouxe mais para perto para abraçá-lo ternamente, descansando um pouco no apoio que era o corpo de seu irmão enquanto percebia que, desde que pudesse tê-lo por perto, poderia suportar qualquer pancada.

— A culpa não é sua, Sangie — Wooyoung sorriu pequeno para tentar confortá-lo, gemendo de dor um pouco depois. Yeosang se assustou, mas Wooyoung gesticulou que estava tudo bem. — Eu... eu não me importo em levar uma surra caso eu precise te acobertar de novo.

— Eu não vou mais fazer isso — prometeu angustiado, derramando mais lágrimas. — Não significa tanto assim. Eu vou tentar não ser tão fraco. Eu vou... me esforçar para que você fique seguro. Você não tem que me proteger. Eu não quero.

Com uma risada abafada, Wooyoung negou com a cabeça.

— É mais forte do que eu, irmão — falou de maneira simples, gentilmente. Yeosang era apenas um anjo aos seus olhos, ele jamais iria merecer que algo ruim acontecesse com ele. — Quando eu vejo, já estou fazendo.

Com um suspiro pesado, Yeosang percebeu que apenas pedir não faria com que Wooyoung ficasse longe de perigo. Abraçou de novo e mais tarde lhe ajudou fazendo curativos e limpando os seus ferimentos. 

CASHIT | MAFIA ATEEZ |  TEMP IOnde histórias criam vida. Descubra agora