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Capítulo 4: O músico

— Vamos recomeçar — aquele que estava do lado de fora da cabine anunciou usando um microfone, apertando alguns botões da mesa de som para que o ritmo cessasse. — Eu vou soltar a batida, e eu preciso que você a acompanhe. Relaxe. Siga o arranjo.

Recomeçaram mais umas oito vezes até que o diretor se cansasse e desistisse de terminar de gravar a música naquele dia.

— O que há com você hoje? — reclamou assim que avistou o artista retirando os fones de ouvido grandes e saindo pelas portas de vidro anti-eco, expressivamente exausto.

— Estamos o dia todo nisso — respondeu, limpando um pouco do suor que havia em sua testa. A voz rouca e falhada, a garganta doía. — São quatro horas da manhã agora.

— Você acha que eu não gostaria de estar dormindo? — ralhou, zangado, e em seguida deu de ombros. — Bem, não se preocupe tanto. Logo essa porcaria de empresa vai fechar as portas e você não vai mais precisar acordar de madrugada pra gravar álbum nenhum, Hongjoong.

Kim Hongjoong era um músico não muito conhecido. Ele começou em uma empresa pequena como compositor, ajudando os artistas já consolidados. Aos poucos, ele foi ganhando uma certa popularidade, e graças a esse reconhecimento, em alguns anos foi convidado a assinar um contrato com a gravadora que trabalhava, para se tornar um rapper e iniciar efetivamente a sua carreira na indústria musical.

Contudo, ao passar dos meses, tudo o que ele conseguiu foi treinos cansativos e pretextos ruins para que ainda não houvessem decidido por gravar um álbum. A verdade era que outros artistas tinham prioridade, e Hongjoong era como a sobra que seria usada quando necessário. Embora tivesse assinado um contrato com uma gravadora, o que lhe dava mais dinheiro ainda era vender suas composições. E isso era ridículo, porque ele não queria morrer como um compositor. Ele queria ser reconhecido, queria que todos ao redor de Seul ouvissem suas músicas e sentissem diversas sensações ocasionadas por elas.

Conforme os cantores daquela gravadora pequena foram se tornando um pouco mais famosos, outras oportunidades maiores e que lhe favoreciam mais surgiam, e eles iam embora. Com pouco dinheiro em caixa, era difícil imaginar que aquela gravadora ainda era capaz de lançar ao menos um álbum de um artista não muito conhecido e que possuía altas chances de fracassar. Sem lucro, sem chance. Hongjoong estava ciente disso, era um péssimo momento para se deixar levar por seu sonho. No entanto, ele também não podia aceitar facilmente que o melhor era desistir e fazer o que os seus pais queriam; seguir uma vida normal.

Após a declaração de quem cuidava da produção das músicas, Hongjoong decidiu ficar calado. Ele caminhou para fora da sala até chegar em uma máquina de refrigerante, depositando algumas notas e esperando até que a lata fosse empurrada pela mola e caísse no caixa. Pegou a bebida gelada, e mesmo que soubesse que não tinha permissão para tomar bebidas geladas, por precisar conservar a sua voz, ele o fez. Se sentia muito frustrado, uma pressão absurda pesava em seus ombros.

Sabia de histórias as quais muitos artistas se esforçaram para montar um álbum que jamais foi lançado. Todo o esforço era jogado no lixo.

Quando o produtor o chamou para gravar há algumas madrugadas atrás, Hongjoong sabia exatamente o que ele queria. Mas, de uma maneira ou de outra, era a sua única alternativa. Tinha que fazer o que os grandes queriam. Era isso, ou vender latinha.

Após beber todo o refrigerante, arremessou a embalagem no lixo. Retornou à sala, ainda recebendo o olhar zangado do produtor. Agarrou a alça de sua mochila e estava pronto para ir embora, quando foi interrompido:

— Você sabe que não estamos em bons termos, não sabe?

Hongjoong engoliu em seco, ainda de costas para ele.

CASHIT | MAFIA ATEEZ |  TEMP IOnde histórias criam vida. Descubra agora