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Capítulo 33: O sentimento se baseia em um hibridismo não tão anormal entre receio e medo.

Choi Jongho estava concentrado; encarava o espelho enquanto removia as faixas brancas do entorno de suas costelas, curativo por curativo, analisando a recuperação do próprio corpo. Ele podia dizer que há dias não se sentia tão revigorado, embora emocionalmente ele seguisse letárgico, apático como o habitual, pois em algum momento de sua vida, os sentimentos desistiram dele. Não era igual a viver feito um robô, não se enquadrava em uma categoria inumana, isto é, atestou no dia em que encontrou Jeong Yunho e tudo o que ele vinha guardando especialmente para devolver para seu irmão parou de devorá-lo para rugir para fora.

Notou que a sutura realizada por Yeosang não apresentava sinais de infecção, ele havia realizado um ótimo trabalho. Os cortes ocasionados por cacos de lâmpada quebrada deixavam cicatrizes atróficas nas palmas de suas mãos com uma vasta cicatriz de queimadura como uma memória de seu primeiro encontro com Kim Hongjoong. Definitivamente não se importava com ele, mas sabia que Mingi sim e era doentio pensar que ele finalmente gostava de alguém além daqueles que realizavam suas vontades. Possivelmente, naquele meio tempo havia deixado de ser um príncipe mimado que se tornou proveniente de sentimentos verdadeiros. Então Hongjoong significava muito, e Mingi iria sofrer caso algo houvesse acontecido com ele.

Lembrava-se claramente do momento em que quase o assistiu ajoelhar para implorar a Song Minho que poupasse a vida de Hongjoong. E Song Mingi nunca implorava; ele sequer aparentava se importar com algo além de sua família e a omertà.

Olhando-se no espelho com um olhar vazio, Jongho questionou-se o que tudo isso significava. Ele precisava saber sobre tudo o que aconteceu durante o tempo em que esteve em coma induzido com extrema descrição. Contudo, tudo o que tinha era a ajuda de um rapaz francês que sequer teve o trabalho de se apresentar formalmente, sendo cauteloso em cada palavra que fosse usar.

Estava escutando-o na cozinha do que reparou ser uma casa alta em um bairro deserto — um verdadeiro esconderijo. Uma música parisiense tocava em um rádio antigo e Yeosang arremessava dardos no alvo em uma parede enquanto aguardava que Beomgyu terminasse de cozinhar o almoço.

— Se ele me forçar a comer mais uma porcaria da França, eu mato ele — Jongho murmurou entredentes para o próprio reflexo, agarrando uma tesoura disposta sobre a pia de mármore.

Mirou a tesoura primeiro em sua franja que se encontrava longa, cortando os fios pretos pouco a pouco, pacientemente, permitindo com que caíssem no piso aos seus pés, no rosado da pia em sua frente, até que o cumprimento de seus cabelos alcançasse um corte apresentável e que combinava melhor com seu rosto.

Tu es là. Ça va?— "Você está aqui. Como está?", disse Yeosang, aproximando-se do marco da porta do banheiro. Jongho não fez questão de virar-se contra ele porque não entendeu o que foi dito, e não se importava o suficiente para perguntar. — O almoço está pronto.

— Não estou com fome — disse baixinho, com uma expressão fechada e sombria, aparando os pêlos evidentes em seu rosto. — É croissant de novo?

— Não, e não se almoça croissant — pronunciou corretamente, acentuando. — Pot au Feu — viu uma ruga desenhar-se na testa de Jongho. — Eu comia o tempo todo em Marselha. É um guisado de carne francês temperado com ervas.

— Eu preferia comer Jjajjangmyun ou qualquer coisa que estou acostumado — Jongho proferiu, zangado. — Você nasceu em Marselha?

— Eu prometo que o jantar será qualquer coisa do seu país, eu não me importo.

— Não respondeu a minha pergunta. E... eu achei que aqui também fosse o seu país.

— Eu nasci em Montpellier — respondeu, cruzando os braços e apoiando o ombro na porta aberta. — Vivi toda a minha infância em Montpellier, com a minha maman. Já ouviu falar de um livro chamado "Crianças Francesas Não Fazem Manha"? Bem, é verdade. Mães francesas criam seus filhos de um jeito único — diferente da última vez que falou de sua mãe, não havia rancor em sua entonação. — A Basílica de Notre-Dame-de-la-Garde fica em Marselha, onde vivi outro pedaço da minha vida. Você deve conhecer, é bem famosa — Jongho seguiu com a gilete em seu rosto, atencioso. — E... a Coreia é o meu país também, eu querendo ou não, tenho os valores coreanos e não posso ignorar a cultura que também aprendi desde pequeno, mas eu não vivi bons momentos aqui, então não consigo sentir que pertenço a esse lugar.

CASHIT | MAFIA ATEEZ |  TEMP IOnde histórias criam vida. Descubra agora