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Capítulo 38: Família

Choi San golpeou o bastão de metal que segurava com as duas mãos impiedosamente no notebook que fazia parte de todo o material que ele usava para realizar o seu trabalho. Depositou ainda mais a pressão em seus dedos pálidos e feridos, não se incomodando com a dor e sim sendo anestesiado pela raiva e pela culpa que dizia que onde ele estava, algo horrível iria acontecer.

Era como carregar uma corja nos ombros desde o dia em que nasceu. E ele já não sabia até quando era possível sustentar aquele peso sem que seus joelhos acabassem cedendo. Usava tanta força para segurar o bastão de metal, que coibia a corrente sanguínea de suas mãos que estavam trêmulas, protestando com uma espécie de câimbra dolorida que tomava os seus braços e músculos por inteiro.

O curativo que ele mesmo fez na região onde raspou a bala já estava sujo e manchado com suor e sangue, contudo, absolutamente nada era capaz de chamar a sua atenção que não estivesse no fato de ter vivido aquela noite que iria marcar a sua existência para sempre.

Golpeou com toda a sua força, assistindo sem sentir alívio o computador ser reduzido à partes quebradas de placas, componentes eletrônicos despedaçados. Então bateu de novo, soltando um grito agoniado que emergiu do fundo de sua garganta. As palmas das mãos ardiam, seus ossos protestavam, mas San continuou usando tudo o que podia visando destruir junto ao computador todo o seu ódio, desejando aliviar toda aquela carga emocional estressante

Repetiu as mesmas ações incontáveis vezes, até que se esgotasse e caísse de joelhos na areia, ofegante e sem conseguir respirar devidamente, com a água de seus olhos misturando-se com o seu suor gotejante. Estava ainda mais trêmulo, o estômago embrulhado e com o enorme desejo de vomitar, mas sem conseguir expelir o que estava lhe fazendo mal para fora.

San sentiu que era a criatura mais miserável no mundo.

O seu coração estava doendo. Ele agarrou o tecido da blusa que vestia como se estivesse desesperadamente arrancando o coração do próprio peito. Apertou as pálpebras e expressou dor, agarrando os dois lados da cabeça para em seguida vociferar à uma altura que pensou que sua garganta houvesse rasgado. Enterrou os dedos entre os seus fios de cabelo molhados e puxou para causar mais dor, para que uma dor sobrepusesse à outra e ficasse apenas a que fosse mais suportável. San engasgou com o próprio choro e socou a terra com os punhos fechados, sufocando sem ser capaz de desatar o nó em sua garganta.

Socou até que o rastro de seu sangue impregnasse os grãos de terra com o seu vermelho metálico. Com os olhos inchados e cheios de água, fitou as costas das mãos feridas, a pele esfolada e agonizante. Não se sentiu mais calmo, ele só ficou mais desnorteado, a um passo de desejar a própria morte a fim de fugir de tudo.

— San!

Escutou outro som se materializando no ambiente cercado pela vegetação alta, terra, e os gemidos e soluços que emergiram de sua boca. Ele congelou sem poder distinguir a quem pertencia por vir à distância, então ergueu a cabeça apressadamente enquanto uma das palmas raspavam no chão em busca de agarrar o bastão a alguns centímetros de onde estava caído.

Segurou com determinação de se defender, ou de morrer lutando, ele não estava em condições psicológicas de julgar qual era a atitude mais adequada. Não houve tempo para que se levantasse, mas os seus ombros foram segurados pelas costas e o movimento que brandiu contra o vento do bastão indo de encontro à alguém, foi impedido rapidamente, sem que San tivesse chances de lutar.

— San! Choi San! Mas... que merda aconteceu?

Era Wooyoung. San reconheceu no momento imediato que voltou para si e sua lucidez foi suficiente para discernir o timbre rouco e assustado de Wooyoung de qualquer outro.

CASHIT | MAFIA ATEEZ |  TEMP IOnde histórias criam vida. Descubra agora