CASHIT | MAFIA ATEEZ | TEMP I

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Capítulo 19: Jung Wooyoung

Jung Wooyoung não era exatamente o que ele parecia ser. Mas também não era como se não fosse o que parecia. Ele era os dois; possuía uma dualidade questionável que foi obrigado a adotar em razão dos caminhos que sua vida caminhava. Teve de conciliar a sua natureza doce e gentil com a de um personagem que apenas usava para se proteger e lutar. E Wooyoung realmente acreditava que todas as pessoas no mundo possuem um ou mais personagens, seja lá os motivos que as levaram a criá-los. Certas vezes era para a própria sobrevivência no contexto mais diverso que essa palavra poderia ter. Sobrevivência em um trabalho, sobrevivência em uma casa enquanto convive com os seus familiares até possuir independência para se virar sozinho, sobrevivência na escola; no ofício, ou sobrevivência no sentido literal.

O último caso era exatamente o tipo que o levou a estruturar um bom personagem para si mesmo. Outrora ele se considerava uma pessoa fraca e sem talentos, sem habilidades o suficiente para sobreviver no contexto em que vivia. Sua gentileza e seus valores não o levariam à lugar nenhum em uma terra tão nefasta, que apenas lhe cobrava o pior de suas nuances ameaçando tirar tudo o que lhe pertencia se não obedecesse; era um monte de leis que não estavam escritas, mas eram formuladas e seguidas à risca. Alguém fraco como Jung morreria muito facilmente, e ele poderia ser fraco, porém nunca iria se render à uma morte em terreno tão decadente.

O filtro número um de Wooyoung somente era usado em casos necessários.

O filtro número dois quando se sentia confortável, não estava sendo ameaçado.

O filtro número três era aquela máscara de gelo que teria que usar para esconder o seu estado verdadeiramente destruído por dentro.

San o encarava com perplexidade, Yeosang permanecia calado. Segurava o fôlego temendo que, se respirasse, iria acabar rompendo com a linha frágil que impedia que Choi expressasse ainda mais o seu susto.

Ultimamente episódios onde as pessoas se mostram como alguém que ele desconhecia, e nunca imaginou conhecer, estavam se tornando ainda mais recorrentes. Sentir como se apenas fosse caminhar para trás estava se tornando ainda mais recorrente. E San não costumava se deixar levar por esse tipo de sentimento, isso provavelmente não estaria acontecendo se ele não se visse tão desamparado.

Mas não podia se portar em frente à Wooyoung como se ele fosse o único a cometer crimes naquele recinto. Não era nenhum santo, e tanto ele quanto o Jung possuíam partes de si mesmo que não gostariam de externar sem que o laço entre eles fosse tão forte que o que descobrissem um do outro não seria capaz de partí-lo; mas, para que esse vínculo exista, era necessário que fossem verdadeiros, se abrissem como nunca antes, e assumissem que nem só de flores vive um campo rodeado por cotovias.

Wooyoung se sentia como uma canção triste e melancólica. O choque implicava com que seu peito parecesse estar vazio quando, na verdade, deveria estar transbordando tal qual sua mente. Ele não queria chorar e se lamentar, isso não mudaria nada... Lamentar não gera reações, se arrepender de algo que já aconteceu era perda de tempo. Respirou fundo, preenchendo os pulmões com o ar frio que rodeava o quarto mergulhado em um clima pesado. Não procurou pelo olhar de San, os temia naquele instante.

Era exatamente como se usar uma máscara bonita para esconder um rosto feio. E quando se tira essa máscara e revela o que há por detrás dela, se espera a rejeição e o medo. Sabia que as pessoas em situações como essas, em encarar algo que antes estava tão bem escondido, se sentiriam enganadas e iludidas, era completamente natural até esse ponto. Porém, embora tivesse isso em mente, não conseguia acalmar a si mesmo que temia decepcionar San tão profundamente ao ponto de ele jamais consegui-lo olhar sem aquele filtro. Nem todos os filtros são bons, alguns escondem, ocultam, desviam a atenção do que importa de fato.