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Capítulo 31: Não há misericórdia

Park Seonghwa contemplava uma escultura na sala ampla enquanto na companhia de uma taça de vinho francês. Ele não possuía uma expressão, não permitia com que seus sentimentos ficassem aparentes por muito tempo em uma medida de precaução. Estava reflexivo, subindo seu olhar pela escultura do dorso de Hades e Cérbero esculpidos de pedra e bronze. Devia ter custado milhões de dólares, mas ele conhecia a sutileza de Juyeon para saber que ele não se importava, e por isso possuía uma relíquia daquelas em sua sala particular.

Hades era impiedoso, repugnante e monstruoso. Qualquer adjetivo para descrever o que de pior há no mundo não estava a altura dele, não era o suficiente. Mas, de qualquer forma, ele era majestoso e temido. O cetro estava em sua mão esquerda, a corrente de Cérbero à sua direita, a coroa em sua cabeça, e ele guardava consigo a chave do submundo para onde iam as almas de pessoas ruins que não mereciam misericórdia. Juyeon o admirava porque, segundo sua crença, Hades dava para as almas dos mortos o que elas mereciam, senão não teriam sido mandadas para o submundo para serem torturadas.

Ele era fruto da relação de Reia e Cronos, que devorava seus filhos no nascimento com receio de ser destronado. Um pai definitivamente horrível. Seonghwa se cansou de ouvir Juyeon repetir essa história, maravilhado com a forma que Cronos foi pulverizado com as chamas do submundo.

Juyeon fazia uma comparação frequentemente: Zeus ficou com a posse do céu e da Terra, e Hades dono da alma dos mortos e do mundo inferior, equiparando que assim funcionava sua irmandade. Seonghwa cuidava do céu, e Juyeon do inferno.

Como seu braço direito, ele servia quase que como o seu conselheiro. Juyeon era eficiente em resolver as questões que Seonghwa não estava disposto a lidar, ou simplesmente estava fora de seus planos. O que queria dizer que Juyeon tinha o poder de selecionar a dedo de que maneira os seus inimigos iriam morrer ou a forma que queria puni-los, torturando-os para o seu bel prazer. No fundo, isso nunca trouxe problemas. Ele não era completamente sádico, seu profissionalismo não permitia, contudo, possivelmente o alto posto que possuía na hierarquia da Quincy complicasse a limitação de seus poderes como braço direito do líder e isso posteriormente trouxesse problemas.

Seonghwa ponderou acerca disso diversas vezes, contudo, nunca encontrou um motivo sórdido que o fizesse se preocupar em delimitar o que Juyeon podia ou não fazer. Como principal mandante dos assassinatos realizados por aquela corporação, ele mais do que ninguém precisava saber empregar valores à vida, e se relacionar perfeitamente com a morte, algo que não era muito apreciado por Seonghwa. Ele não gostava desse tipo de política, porém, é como o mundo funciona e mudar uma lei secular é uma tarefa complexa e ineficiente.

— O que traz você aqui? — Juyeon finalmente adentra pelas portas em uma pose rígida, cumprimentando Seonghwa respeitosamente antes de seguir até a taça de vinho disposta para ele em sua mesa.

O terno cinza o qual Juyeon vestia caía alinhadamente em seu corpo esguio, elegante e esbelto. Os fios negros milimetricamente calculado penteados para trás e mergulhados em gel; a colônia preenchendo cada centímetro de sua pele era forte do tipo que deixa sua marca era memorável e incomparável, de aroma cítrico natural e leve com especiarias orientais, lembrando vagamente erva-cidreira e hortelã.

— Eu quero conversar com você sobre algo — Seonghwa disse sem que um único traço de sua face mudasse, retirando um fio negro da frente de suas pálpebras. — Caso contrário, não estaria te importunando.

Seonghwa tinha seu próprio método para ser temido. Ele estava se comportando como se estivesse muito confortável em um território que ele sabia não ser dele, tomando sua taça de vinho como se tivesse o domínio da eternidade em suas mãos, calmamente apreciando o sabor da uva em seu paladar.

CASHIT | MAFIA ATEEZ |  TEMP IOnde histórias criam vida. Descubra agora