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Capítulo 25: Solitário

Park Seonghwa se sentia extremamente solitário.

A solidão, segundo a sua perspectiva, não se tratava de ser querido por outras pessoas e, por essa razão, perceber-se rodeado por elas, e sim se dar conta de que, além de não ser querido por muitas pessoas, não se ter ninguém como querido. Era um vazio terrível. Ele oscilava entre abominar tal sentimento, e agradecer por passar a se livrar de seus laços mais profundos em um trabalho gradativo. Não precisava de muito esforço, de fato. Bastava ser ele mesmo, e sua humanidade interior se afastava como sujeira em contato com o cloro. Se continuasse trilhando os pés pelo mesmo caminho, terminaria sentado em um trono no topo. E o topo era solitário.

Seonghwa pensou muito sobre isso, em sua infância em uma viela pobre da grande Seul. Ele vagava descalço e faminto pelas ruas; estava cansado de implorar por algumas migalhas para os estranhos que lhe fitavam com nojo porque suas roupas não eram decentes e ele era sujo. Desanimado e sem qualquer prospecção, os mirantes opacos e vazios, vagava até o alto de um campo onde pudesse sentar e avistar os muros além de seu bairro afastado dos grandes centros e cercado pela marginalidade. Para pessoas como ele, sonhar era um luxo. Quando se é pobre, o mais conveniente é não criar expectativas; sem expectativa, sem decepções. Onde, afinal, um sujeito mal encarado como ele chegaria a algum lugar? Onde queria chegar e por quê? Seonghwa, então, chegou a conclusão de que por mais difícil que fosse, era necessário que tivesse um objetivo para continuar vivendo. Ou senão, não valeria a pena, e ele considerava que, sim, sua sobrevivência valia todo o seu esforço. Suas mãos sujas um dia chegariam a tocar uma taça de cristal e talheres de prata.

Não que sua maior ambição fosse ser rico, mas ele desejava ter dinheiro para comprar tudo o que quisesse. Seonghwa queria poder ser digno de estender a mão para um pobre coitado e tirá-lo da situação de miséria. Mas, sobretudo, ele almejava ter poder para mudar algo. Park Seonghwa ansiava o dia em que, ao menos, as paredes de sua casa fossem pintadas e ele pudesse servir o melhor prato de comida para a sua família. Ele queria poder escolher o que comer, isso para um moribundo como ele era muito. Escolher.

Park Seonghwa desejava ter o poder de escolher.

Ele construiu o seu império muito gradativamente. Era promissor, mas ninguém via futuro de início. Exatamente como a maioria das histórias dos grandes negócios do futuro; sem incentivos, sem esperanças e apenas movido pelo desespero. Esse sim foi o grande aliado de Seonghwa: o desespero. O medo, o senso de justiça e, ademais, a forte gana que tinha por, um dia, escolher. Queria escolher desde seus sapatos até sua comida, quem iria ser seu braço direito e se optaria por caminhar ou andar de carro. Ele queria ter liberdade para andar pelas ruas sem correr o risco de a polícia interceptá-lo e revistar os seus bolsos, ou lhe dar três ou quatro socos para que aprendesse que "aquele não era o lugar dele". Se tivesse que escolher, daria a melhor vida para a sua família. E sua família não se limitava aos seus pais e irmãos, ia muito além. Desde seus grandes amigos até aqueles que se aliaram florescendo a esperança de ter um futuro melhor, para sobreviver. As pessoas iam até Seonghwa com a promessa de que iriam acordar e ter o que comer no outro dia, uma casa para voltar e um lar para chamar de seu, com uma família funcional e que sempre forneceria apoio.

As pessoas almejam muito, mas poucas conquistam. Era desigual, realmente, ver que precisaria lutar para ter o que um milionário simplesmente jogava fora sem ter que passar por um terço de seu sofrimento, atravessar o mar de fogo e derramar sangue e lágrimas. Perder seus companheiros, de longe, era sua pior desgraça, o seu maior medo. A sua família, como sua prioridade, detinha de grande parte do espaço em seu peito, o seu imenso apreço. Sem eles, estava sozinho. Com eles, sendo o líder, embora acompanhado, teria que lidar com a solidão. Mas, de longe, seria útil ser quem era desde que pudesse proteger quem amava. Suas paixões, seus anseios, nada era comparado ao que nutria pela família que constituiu ao decorrer dos anos. O laço que formaram entre si era inquebrável. Lutaria como um lobo para proteger a matilha; cada um deles era uma parte de si, componentes insubstituíveis.

CASHIT | MAFIA ATEEZ |  TEMP IOnde histórias criam vida. Descubra agora