Capítulo 45: Reaproximar.

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Emma

Rever uma pessoa que deveria ser importante pra você, depois de tanto tempo, é a coisa mais estranha do mundo. Ele era meu pai. Mas eu não conhecia o tom da sua voz, porque quando convivi com ele era pequena demais pra gravar esse detalhe. E sua aparência era a mesma coisa. Tínhamos fotos com ele. Mas elas estavam guardadas no fundo de uma gaveta, a uns bons anos. Então eu não o reconheceria se fosse necessário.

Só que agora ele não estava ligando pra nós convidar pra ir até Los Angeles. Ele estava ali, na nossa frente. Pisquei várias vezes, só pra ter certeza que não estava sonhando nem nada do tipo.

—O que está fazendo aqui? —Minha mãe questionou, quando um silêncio desconfortável ficou no ar. Meu pai piscou várias vezes, sorrindo ao olhar pra Peter.

—Eu vim ver meus filhos, é claro. —Afirmou, como se fosse a coisa mais normal do mundo. Me encolhi quando os olhos dele viajaram por todos até pararem em mim. —Eu... eu queria avisar. Teria avisado. Mas Peter não atendeu mais minhas ligações e...

—Não pensou em me avisar? —Minha mãe questionou, com um tom que demonstrava o quão infeliz ela estava com aquela situação.

—Eu ia ligar pra você amanhã cedo. Mas... —Ele olhou pra ela, parando de falar ao notar a barriga dela. —Você está grávida? —Ele abriu um sorriso sem graça. —Ah, eu não sabia disso. Caramba, vocês...

Ele parou de falar, voltando a olhar de mim para Peter. O ar estava meio tenso ao nosso redor. Não era só a nossa família ali. Nossos tios estavam ali e Dafine estava ali, vendo tudo.

—Será que... —Ele olhou para Caleb no colo de Peter, parecendo ficar ainda mais sem jeito. —Será que eu posso dar um abraço em vocês dois? Eu estava morrendo de saudades...

Dei um passo para trás, batendo com as costas no tio Josh, quando ele deu um passo na minha direção.

—Emma? —Ele me chamou e eu fiquei em silêncio, não sabendo ao certo o que fazer. Tia Mariana achou esse exato momento o melhor pra falar.

—Eu acho melhor levar as crianças pra casa. —Afirmou, tocando o ombro da minha mãe. —Eu coloco Caleb pra dormir. Melhor vocês conversarem com privacidade. —Ela passou por nós, com tio Ricardo logo atrás.

—Oi, Michael. —Ele murmurou, dando um aceno com a cabeça. —Quanto tempo, não? 12 anos!

—Ah, eu não tinha visto vocês. —Ele olhou para os dois, enquanto tia Mariana pegava Caleb de Peter. —Está grávida também? Caramba, eu... eu...

—É, você perdeu muita coisa todos esses anos. —Tia Mariana afirmou, com uma risadinha provocativa no final. —Bia, Zack, vamos.

—Eu também já vou. —Dafine abriu um sorriso sem graça. —Obrigado por terem vindo.

—O prazer foi nosso, Dafine. —Tio Josh afirmou, com um sorriso forçado. —Obrigado pelo convite. Agradeça o Enzo também.

—Pode deixar. Anne? —Ela deixou um beijo na minha bochecha, fazendo o mesmo com Peter antes de ir em direção ao carro. Anne olhou pra Peter por um segundo, sem saber ao certo se ia ou se ficava.

—Mais tarde a gente conversa. —Peter deu um beijo na testa dela e veio para o meu lado, enquanto ela ia embora com Dafine. Agora estávamos só eu, Peter, minha mãe e o tio Josh, junto com o cara que deveria ser o meu pai.

—É sua namorada? —Nosso pai questionou, recebendo um olhar frio de Peter. Ele encolheu os ombros. —Eu ia avisar que estava vindo. Cheguei hoje cedo e vocês não atenderem as minhas ligações.

—E por que eu deveria? —Peter rebateu. —Quantas malditas vezes a mamãe ligou pra você, avisando que queríamos te ver e você nunca podia?

—Peter! —Tio Josh alertou, quando a voz de Peter saiu mais alta do que o normal.

—Eu falei alguma mentira? —Peter olhou pra ele, abrindo os braços. —12 anos e ele volta como se nada estivesse acontecido. —Ele voltou a olhar pro nosso pai. —Fala sério, não temos mais 5 anos.

—Eu sei que não. Mas eu...

—Não diga que está com saudades! —Peter o cortou. —É uma grande piada vindo de você.

—Não posso querer me reaproximar dos meus filhos? —Questionou, olhando pra nós dois. Eu não consiga falar nada. Minha voz parecia ter evaporado.

—É claro que pode. —Nossa mãe respondeu. —Mas essa não é a melhor forma, Michael. Deveria ter me ligado.

—Achei que podia falar direto com eles. —Argumentou.

—Ou mandar um advogado. —Peter resmungou, fechando mais ainda a cara. Soltei um suspiro frustado, me virando para tio Josh, que estava em completo silêncio, tentando não se meter.

—Eu quero ir pra casa. Estou cansada. —Afirmei, vendo ele me lançar um olhar carinhoso.

—Claro, querida. —Ele olhou pra nossa mãe.

—Ligue pra mim amanhã cedo, Michael. A gente resolve o que for fazer. —Afirmou, passando o braço ao meu redor. Ele ficou em silêncio, olhando pra nós e então assentiu, parecendo resignado.

—Tudo bem. Amanhã eu ligo. —Concordou. Antes que ele pudesse falar qualquer outra coisa, Peter já havia agarrado minha mão e me puxava pela calçada, em direção ao carro. A volta pra casa foi em completo silêncio.

Quando chegamos, não me preocupei em fazer qualquer coisa a não ser em esconder embaixo das cobertas, como se isso fosse me salvar da tempestade que estava a caminho.



Continua...
.....
Tá acabando....

10 Maneiras de Sobreviver as Férias / Vol. 2Onde histórias criam vida. Descubra agora