Capítulo 38: Dr. Josh Carson.

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Peter

Sabe quando você ouve uma coisa e seu cérebro simplesmente para de funcionar? Como se estivesse entrando em pane? Foi exatamente isso que aconteceu naquele momento. Eu estava tentando fazer aquele maldito laço no saquinho quando atendi o telefone. O pior erro da minha vida, não ter olhado na tela antes de atender.

Número desconhecido — Peter? Ah, nossa! Achei que não ia conseguir falar com você. Pensei que não ia atender...

Peter — Cara, quem tá falando?

Franzi a testa, jogando o saquinho longe quando não consegui fazer o laço. A voz do outro lado da ligação era masculina. Mas diferente do dono, eu não fazia ideia de quem estava do outro lado.

Número desconhecido — Sou eu, Peter, seu pai.

Não consegui sentir nada além do meu corpo se encolhendo na cadeira. Enquanto Emma e todos na mesa viravam o rosto pra mim quando eu murmurava aquelas palavras.

Peter — Pa... pai?

Eu não conseguia me mover na cadeira. Não conseguia respirar direito. Não conseguia nem pensar. Minha mão estava tremendo ao redor do celular, enquanto Emma me encarava, mais chocada do que eu.

É claro que era ele. É claro que eu não ia reconhecer sua voz. Porque a última vez que ouvi, era pequeno demais para sequer saber qual o tom dela. Eu era pequeno demais pra inclusive me lembrar da aparência dele.

Michael — Ah, Peter, estou tão feliz por conseguir falar com você. Caramba, não vejo a hora de ver você e a Emma. Estou morrendo de saudade de vocês...

Peter — Faz 12 anos...

Falei, me colocando de pé, empurrando a cadeira pra trás com tudo e quase caindo no processo, quando tropecei nos meus próprios pés.

Saudades? Ele realmente disse que sentia saudades?

Michael — É... eu sei. Lamento por isso. Foram anos complicados pra mim. Eu estava pensando sobre meu convite de vocês virem pra cá. Imaginei que fossem recusar. Por isso eu liguei, queria saber...

Peter — E a sua esposa?

Ouve um silêncio do outro lado da linha, enquanto eu só conseguia encarar Emma, com ela sendo um reflexo do meu próprio humor, que estava péssimo naquele momento.

Michael —É... eu me separei dela a algumas semanas.

Soltei uma risada incrédula, entendendo completamente o motivo da repentina decisão dele de se aproximar de novo. Balancei a cabeça negativamente, sentindo minha garganta se apertar.

Michael — Peter? Filho, está aí? Está me ouvindo?

Sim, eu estava ouvindo muito bem. Mas ignorei isso e desliguei a ligação, antes que falasse qualquer coisa que ofenderia ele. Soltei um suspiro frustado, com meus olhos ficando embaraços.

—O que ele queria? —Emma indagou, quando um silêncio desconfortante ficou no ar. Olhei para os meus irmãos, vendo eles me encararem preocupados. Então olhei pra Anne, vendo que ela parecia também preocupada comigo, e talvez isso tivesse me feito sorrir em outro momento. Mas não agora.

—Ele se separou. Por isso resolveu lembrar da nossa existência. —Enfiei o celular no bolso, ignorando a chamada dele e dei de ombros. —No final somos só a droga de uma segunda opção.

Ela se encolheu na cadeira, enquanto eu me segurava para não chorar. Balancei a cabeça negativamente, andando até a porta e saindo de lá.

[...]

Passei pelas portas duplas, desviando das pessoas de terno e vestidos chiques que andavam por ali, com pastas e celulares no ouvido, falando sobre alguma reunião importante. Andei até o balcão, engolindo o desconforto.

—Peter! —Miguel, o brasileiro de trás do balcão abriu um sorriso assim que me viu. Ele tinha cabelos castanhos, olhos verdes e estava sempre, sempre sorrindo. —E aí, cara? Aprontando muito nas férias?

—Pior que não, acredita?. —Parei na frente do mesmo, enfiando as mãos no bolso da calça e abrindo o maior sorriso que conseguia naquele momento. —Estamos ocupados demais.

—Ah, é claro, o casamento. Eu achei maneiro a ideia de vocês. Eu e a Lina estamos ansioso pra ver qual vai ser a reação da dona Silvia. —Ele comentou, animado.

—É... —Olhei ao redor, vendo um grupo de advogados passar por ali e sair pra rua.

—Ah, tu veio procurar o seu pai, não é? —Ele abriu outro sorriso animado. —Cara, ele tá em reunião agora. Mas tu pode esperar lá na sala dele. Só não explodir nada, pelo amor de Deus.

Ri da reação dele e agradeci, já me encaminhado para os elevadores. Entrei no mesmo, junto com duas mulheres que não paravam de discutir sobre o filho de não sei quem que usava drogas e havia sido preso. Agradeci mentalmente quando elas desceram em um dos andares e me deixaram sozinho. A porta se abriu no 5 andar. Sai andando, desviando das pessoas que me olhavam, estranhando o fato de eu estar ali.

Parei na frente da porta, vendo o nome na plaquinha, Dr. Josh Carson. Bati, por precaução, mesmo sabendo que ele não estava ali. Abri a porta lentamente e entrei na sala, fechando a porta atrás de mim. Havia uma mesa, na frente de uma imensa janela de vidro. Um sofá preto no canto e alguns quadros de paisagens pelas paredes. Andei até a mesa, vendo que havia dóis porta-retratos ali. Um era dele com a mamãe, juntos em um dos dias que ele a levou pra esquiar no inverno. A segunda era com uma foto minha com meus irmãos, no último natal. Até a Bia e o Snow estavam ali.

—Peter? —Olhei pra trás, no susto, vendo tio Josh entrar na sala, vestido com um terno preto, com as mãos cheias de papéis e um copo de café. Andei até ele para ajudá-lo a colocar tudo na mesa. —O que está fazendo aqui? Aconteceu alguma coisa com a sua mãe? Com seus irmãos?

—Não, não... —Neguei com a cabeça, vendo ele soltar o restante das coisas na mesa e se virar para mim, preocupado. Mas eu estava abrindo a boca para falar, só que nada saia.

—Peter, o que foi? —Ele parou na minha frente, colocando as mãos no meus ombros. —Conta pra mim o que foi.

Soltei um suspiro desanimado e abracei ele. Tio Josh ficou surpreso, mas me abraçou de volta na mesma hora. Senti algo se apertar dentro de mim e a vontade de chorar voltar com força total.

—Ei, filho, o que foi? —Perguntou de novo, se afastando para encarar meu rosto e meus olhos vermelhos.

—Nada, é só que... —Minha garganta ardeu e eu me obriguei a respirar fundo. —Você é o melhor pai do mundo, sabia? Não sei se já te disse isso, mas amo o senhor. Eu e a Emma temos muita sorte de ter você.

Ele encolheu os ombros, surpreso e eu vi os olhos dele ficarem vermelhos também, quando ele pareceu ficar emocionado.

—Ah, vem aqui. —Ele me deu outro abraço, beijando o topo da minha cabeça. —Eu também amo você e a Emma. Vocês me dão muita dor de cabeça, mas eu não podia ter ganhado filhos melhores. Tenho muito orgulho de vocês.



Continua...

10 Maneiras de Sobreviver as Férias / Vol. 2Onde histórias criam vida. Descubra agora