Peter
Eu fiquei em silêncio por tempo demais até. Mas a expressão raivosa dela era indiscritível. E apesar de nós realmente sermos terroristas (coisa que eu não pretendo confirmar pra ela), a torta ter caído no rosto dela foi totalmente sem querer.
Pela primeira vez na vida, eu não havia feito algo de propósito com um vizinho. O que era praticamente um milagre.
—Você vai ficar aí, me encarando com essa cara? —Indagou, cerrando os punhos e eu senti a risada se entalando na minha garganta.
—Olha só, você tá super enganada. —Consegui falar depois do que pareciam ser segundos intermináveis. —Primeiro: você ouviu a opinião de um vizinho, que por acaso não gosta da gente. Então não pode sequer nos julgar. Segundo: a torta foi realmente sem querer. Sua mãe mesmo confirmou isso. Eu tropecei e a torta saiu voando. Poderia ter atingido o rosto de qualquer um.
Evitei a parte de colocar a culpa em Snow, já que tudo que eu tenho feito nas últimas horas é culpar o pobre do gato. E também, porque não queria ficar explicando a mesma coisa 50 vezes.
—E espera que eu acredite em você? —Indagou e eu balancei a cabeça, fazendo uma careta. Ela arqueou as sobrancelhas e eu não consegui segurar o riso.
—Na verdade, eu estava esperando só um "obrigado" pela torta, ruiva. E não uma acusação sem sentido e um olhar fulminante. —Declarei, vendo os olhos dela se arregalaram.
—Do que você me chamou? —Questionou e eu percebi que ela parecia com mais raiva ainda.
—Ruiva? —Falei, tentando soar inocente. Coisa que só a fez cerrar os olhos mais ainda.
—Meu nome é Anne. —Rebateu e minha língua solta fez questão de retrucar automaticamente.
—E o meu é Peter. —Percebi, tarde demais, que não deveria ter respondido aquilo.
—Você está de brincadeira com a minha cara, não é? —Ela cruzou os braços na frente do corpo e eu abri a boca para responder.
Mas quer saber? Ela é minha vizinha. Minha obrigação como parte da família Carson é irritar os vizinhos. E já que ela não está nem um pouco interessada em acreditar em mim, também não vou perder meu tempo tentando convencê-la. Então simplesmente dei de ombros, o que fez uma colocação avermelhada surgir nas suas bochechas.
Uou!
É possível uma garota ficar ainda mais bonita quando está irritada? Porque eu acabei de descobrir que Anne Willis fica linda coberta de glacê de torta, como fica ainda mais linda irritada.
Espera, o que eu tô pensando?
—Quer saber, minha obrigação era trazer a torta, pedir desculpas e dar boas vindas de forma direita. E foi exatamente isso que eu fiz. —Afirmei, virando a volta para ir até a porta. —Se não quer acreditar em mim, tudo bem. É você quem está perdendo uma grande amizade com os irmãos Carson.
Os olhos dela se iluminaram, como se eu tivesse acabado de acertar um ponto específico do seu ego. Anne caminhou tranquilamente, atravessando a sala até segurar o trinco da porta, mostrando que ainda sabia ser uma boa anfitriã.
—Muito bem, Peter. —Ela abriu um sorriso brilhante e cheio de promessas. —Você acabou de começar um jogo com os irmãos Willis. E saiba que nós não gostamos nem um pouco de perder.
Um jogo? Senti vontade de rir, mas por algum motivo que eu não entendi, segurei a risada para não irritá-la ainda mais.
—Vai descobrir que nós também não gostamos de perder, ruiva. —Arrastei a última parte, sabendo que aquilo atingiria ela de novo e sorri ao ver a raiva voltando para os olhos verdes. —A gente se vê, vizinha.
[...]
Assim que subi as escadas, encontrei Zack, Kyle e Bia na porta do quarto de Emma. Franzi a testa, ao ver Zack bater na porta dela e chamá-la 500 vezes, enquanto Bia tentava acalma-lo. Zack parecia ofegante e estava vermelho, como se tivesse corrido uma maratona.
—Emma, abre essa porta agora! —Zack mandou, batendo na mesma em seguida. —Juro se você não abrir eu vou chamar nossos pais agora mesmo!
—Zack! —Bia arregalou os olhos, o encarando surpresa e irritada. —Não escuta ele, Emma. Ele não vai fazer nada disso! —Bia falou, alto o suficiente para Emma ouvir do outro lado. —Zack, para com isso!
—Você não tá entendendo a situação, linda! —Zack se virou para ela com uma mistura de desespero e irritação. Mas logo já voltou a atenção para a porta do quarto de novo.
Parei ao lado de Kyle, que observava tudo como um expectador vendo uma peça super interessante. Zack e Bia não haviam notado a minha chegada, já que estavam ocupados demais na porta do quarto.
—O que tá rolando? —Questionei e Kyle ergueu os olhos até mim.
—Zack descobriu que a nossa irmã beijou um estranho no shopping pra fugir de não sei quem do time de basquete. —Kyle explicou, com a maior naturalidade do mundo.
—Ah... —Soltei uma risada, que sumiu do meu rosto a medida que eu processava o que ele tinha dito. Meus olhos se arregalaram. —É o que?
—Zack descobriu que... —Kyle começou a repetir, mas eu já estava indo em direção a Zack, entendendo completamente o desespero dele.
—Emma, abre essa porta agora! —Mandei, parando na frente da porta junto com Zack.
Continua...
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10 Maneiras de Sobreviver as Férias / Vol. 2
RomanceEmma e Peter são os típicos irmãos gêmeos que tem tudo em comum, ao mesmo tempo que são completamente diferentes. Ela é uma líder de torcida apaixonada por livros e uma fanfiqueira nata. Ele é um dos titulares do time de futebol americano da escola...