10 Maneiras de Sobreviver as Férias / Vol. 2

Capítulo 50: Almoço.

Peter

Sai do quarto ao ouvir o som da campainha. Respirei fundo e desci as escadas, vendo tio Josh abrir a porta e Michael passar por ela, com uma expressão ansiosa no rosto. Revirei os olhos e desci os últimos degraus.

—Seja bem vindo. Fique a vontade. —Tio Josh abriu espaço para ele passar, enquanto fechada a porta. Hoje é o dia do casamento. E deveríamos estar nos preparando pra ele, e não almoçando com esse cara.

—Oi, Peter. —Ele abriu um sorriso pra mim, enquanto minha mãe saia da cozinha e aparecia na sala, ao lado dos meus tios.

—Michael, que bom que chegou. Estávamos apenas te esperando. —Minha mãe afirmou. —Pode ir chamar seus irmãos, Peter?

—Já estamos aqui! —Zack exclamou, descendo as escadas ao lado de Bia, com Emma, Kyle e Caleb logo atrás.

—Olá, crianças. —Michael cumprimentou, parecendo sem jeito. Eles murmuraram um oi e nós nos sentamos ao redor da mesa. Michael ficou sentado ao lado do meu tio e de do tio Josh. E pro meu azar, bem na minha frente.

—Então, Michael, o que anda fazendo? —Tio Ricardo indagou, quando um silêncio estranho caiu sobre a sala. Enfiei uma garfada na boca, ignorando a presença dele.

—Ah, tô trabalhando na contabilidade de uma empresa em Los Angeles. Mas consegui uns dias de férias e aproveitei pra vir aqui ver as crianças. —Comentou, como se fosse a coisa mais natural do mundo.

—E nas outras férias, o que fez? Viajou pra algum lugar? —Indaguei, soltando o garfo e o encarando.

—Não, eu não viajei. —Ele pareceu sem jeito. —Na verdade eu não costumava tirar muitas férias.

—Claro. —Murmurei, voltando a atenção pra comida, sentindo o olhar de quase todos na mesa em mim. Emma estava do meu lado e me deu uma cotovelada, como se quisesse que eu me segurasse.

—E vocês dois, como estão? Vão se formar o ano que vem, já pensaram no que querem fazer depois da formatura? —Indagou.

—Vamos pra Nova York provavelmente. Bia e Zack vão pra universidade lá, e provavelmente vamos ficar juntos. —Emma murmurou.

—Collin vai pra Nova York também? —Mamãe indagou, parecendo curiosa. —Lembro de Dafine dizendo que ele ia cursar gastronomia.

—Ele ainda não decidiu, mas acha que sim. —Emma deu de ombros. E pra mim era óbvio que ele iria. Não acho que Collin vá querer ficar longe da minha irmã, do jeito que o namoro deles está.

—Collin? —Michael olhou da nossa mãe pra Emma. —Você tem namorado?

—Tenho. —Emma respondeu na maior naturalidade, enquanto ele juntava as sobrancelhas.

—Você não é muito nova pra isso? —Emma parou com o garfo no meio do caminho. Mordi o lábio para não retrucar. Mas Emma mesmo se ocupou de fazer isso.

—Não tenho 5 anos. —Ela voltou a comer, ignorando ele. Vi o momento que os ombros dele baixaram em frustração e ele soltou os talheres.

—Olha, eu sei que vocês não tem 5 anos mais, okay? E eu sei que a pior burrada da minha vida foi não ter participado do crescimento de vocês como deveria. Não sou o melhor pai do mundo. Mas estou tentando concertar as coisas. —Michael afirmou, enquanto todos pararam de comer e olhavam pra ele.

—Não tem nada pra ser concertado aqui. —Afirmei. —Estamos muito bem sem você, tá legal? Nem lembrávamos da sua existência até aquele advogado ligar.

—Peter. —Minha mãe chamou e eu soltei um suspiro frustado.

—Desculpa, mãe. Não quero estragar o almoço. Mas também não posso fingir que tá tudo bem, quando não está. —Me virei pra ele de novo, vendo seus olhos inexpressivos. —Não é só a questão da distância. É que você se casou de novo e ignorou completamente a nossa existência. Tentávamos ter contato com você em todos os feriados e em todas as férias, implorando pra nossa mãe ligar pra você. Mas adivinha? Você estava sempre ocupado.

—Peter...

—Não, agora eu vou falar. Você não veio concertar as coisas? Então, vamos concertar as coisas. —O cortei, vendo ele engolir em seco. —Me diz, pai, por que você decidiu aparecer agora? Foi por que seu casamento não deu certo de novo e aí você se lembrou de nós?

—Eu nunca esqueci vocês! —Retrucou, e Emma soltou uma risada do meu lado, parecendo incrédula.

—Então por que não veio nos ver? Por que não ligou nos nosso aniversários ou em qualquer merda de dia, pai? —Questionei, fechando minhas mãos embaixo da mesa. —Por que você nunca se importou com a gente!

—Filho, por favor... —Balancei a cabeça negativamente, enquanto ele parava de falar. Meus olhos começaram a arder e minha garganta parecia estar em chamas.

—Você não estava aqui quando a Emma quebrou o braço no meio da educação física. Não foi você que saiu no meio do trabalho correndo pra ir até o hospital ver como ela estava. Você também não estava aqui pra me levar no meu primeiro jogo do colégio. Não estava lá torcendo por mim. —Afirmei, abrindo um sorriso e negando com a cabeça. —Você nunca esteve aqui, pai. Em nenhum momento. Você não sabe a metade das coisas importantes que já passamos. Quer saber? Ele é meu pai! —Apontei para tio Josh, que estava em completo silêncio, ao lado da minha mãe. —Foi ele que me levou no meu primeiro jogo. Que saiu no meio trabalho pra ir no hospital, porque estava desesperado pra saber se a Emma estava bem. Você perguntou se ela tem namorado. É, ela tem. E adivinha? Você também não estava aqui quando ela foi no primeiro encontro com ele. Não foi você que ficou preocupado se ele iria respeitá-la e trazê-la de volta em segurança.

Me coloquei de pé, empurrando a cadeira pra trás, vendo ele me olhar sem dizer nada.

—Hoje era um dia super importante. É aniversário de casamento da nossa mãe com o tio Josh. —Esclareci, tentando manter a calma. —E você podia ter dado uma de pai ausente por mais alguns dias. Porque está conseguindo estragar um dia que era pra ser incrível pra eles!

—Eu não sabia. E... eu...

—É claro que não sabia! —Rebati, revirando os olhos. —Cansei dessa palhaçada.

—Peter, espera, por favor! —Virei as costas, ignorando ele, que se colocava de pé pra vir atrás de mim. —Eu te entendo. Mas quero tentar ser um pai de verdade.

—Eu já tenho um pai. Ele se chama Josh Carson! —Exclamei, indo em direção a escada.

—Peter? —Tio Josh chamou, mas eu ignorei. Nada me faria ficar naquele almoço com aquele cara.

—Josh! —Minha mãe soltou um grito estridente e eu me virei pra trás, vendo ela exibir uma expressão de dor e levar a mão a barriga.

Continua...