Capítulo 102

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– Mãe? Falei com a voz embargada.

– Estevam, meu filho! Ela deixou o rodo e a vassoura caírem no chão e se aproximou, me fazendo dar alguns passos para trás.

– O que... Olhei para ela dos pés a cabeça, mas as palavras simplesmente não saíam da minha boca.

– Meu filho! Ela deu mais alguns passos a frente e pegou em meus braços. – Que saudade! Me abraçou.

– Saudade? Funguei com o choro iminente e a afastei, segurando-a pelos braços. – Você me abandonou.

– Meu filho! Me perdoa... Começou a chorar e se ajoelhou no chão, abraçando minhas pernas.

– Me solta! Suspirei, tentando me afastar.

– Me escuta, por favor. Eu não te abandonei, nem você, nem sua irmã... Se sentou no chão e passou o braço pelos olhos, limpando as lágrimas.

– Eu não tenho nada pra ouvir de você. Desviei da mesma e fui em direção a porta, com as pernas trêmulas.

– Eu estive doente, Estevam! Abaixou a cabeça.

– Aqui não... Apertei a sobrancelha e continuei olhando para a porta. – Onde posso te encontrar? Neguei com a cabeça.

– Estou num alojamento para mulheres. Ele fica ao lado da praça na saída da cidade. Meu filho, eu te explicarei tudo se você me der essa oportunidade.

Suspirei profundamente e abri a porta, saindo do banheiro e a deixando lá sozinha. Meu coração de filho pedia para que eu retornasse e ficasse com ela por horas, abraçados naquele chão. Mas meu coração de homem orgulhoso abandonado, me fez partir e pensar se seria uma boa ideia reencontra-la.

Que motivos faria uma mãe abandonar seus dois filhos adolescentes? Se eu fosse pai, não abandonaria meus filhos por nada nesse mundo.

Voltei para o lado de Ana e ela me olhou, arqueando a sobrancelha.

– Você demorou... Falou baixo próximo ao meu ouvido e apertou minha perna. – Aconteceu alguma coisa?

– Está tudo bem... Falei com a voz embargada e engoli em seco.

– Não está não. O que houve? Pressionou mais seus dedos sob o tecido da calça.

– Depois conversamos... Esse desfile é importante para você. Sorri forçado e ela suspirou, voltando sua atenção ao palco.

Após algumas horas entre desfile, coquetel, entrevistas e troca de contatos, me dirigi apressado para o estacionamento do lugar, temendo encontrar aquela mulher nos corredores.

– Pare de correr! Ana me puxou pelo braço. – Eu estou de salto. Murmurou brava.

– Desculpe! Preciso sair daqui... A peguei no colo e continuei firme em meus passos.

– Estevam, me coloca no chão!!! Tentou se desvencilhar de meus braços, o que me fez a apertar. – Todo mundo está olhando. Sussurrou ríspida.

– Quando chegarmos na moto, eu te coloco no chão. Entrei no estacionamento procurando apressado por minha moto.

Coloquei Ana no chão e peguei os dois capacetes, entregando um para ela e subindo na moto.

– O que aconteceu??? Ana colocou as mãos na cintura. – Do que estava fugindo?

– Vamos embora e eu juro que te explico em um lugar mais tranquilo. Olhei aflito para ela e liguei a moto.

Ela suspirou e colocou o capacete, subindo na garupa e se agarrando em mim. Saí rápido do estacionamento e respirei aliviado, abaixando a viseira e acelerando a moto.

Levei Ana para meu apartamento, pois era o único local onde poderíamos conversar com calma e privacidade.

– Agora me cont... Agarrei Ana pela cintura e a beijei, passando a outra mão por sua nuca.

Era um beijo fogoso e apressado. Eu sabia exatamente o que ela ia perguntar e não estava nem um pouco a fim de ter essa conversa agora.

A levei para o quarto e caímos juntos na cama, sem que nossos lábios se afastassem.

– Estevam... Murmurou entre o beijo.

– Agora não... vamos fazer amor. Desci os lábios por seu pescoço.

– Você não vai ter meio centímetro do meu corpo se não me contar o que está acontecendo. Me empurrou para o lado e se sentou na cama.

Suspirei e passei as mãos no rosto, me sentando na cama também.

– Minha mãe apareceu. A olhei de soslaio e ela me olhou boquiaberta.

– Como assim, apareceu? Arqueou a sobrancelha.

– Apareceu... Suspirei. – Ela estava trabalhando na limpeza do evento que fomos... A encontrei no banheiro.

– E aí? Se ajeitou na cama e olhou fixamente para mim.

– Ela disse que não abandonou a mim e a Estefani e que estava doente. Mas eu não quis ouvir. Engoli em seco.

– Por que não? Apertou os olhos.

– Porque ela com certeza esta mentindo. Mexi os dedos inquietos.

– Como você pode ter certeza? Ana pegou em minhas mãos e me olhou.

– Que mãe abandona seu filho, Ana? Você abandonaria o seu, se tivesse um? Por qualquer motivo que fosse...

– Não, mas não sei pelo que ela passou Estevam. Não posso julga-la. Se sentou em meu colo, de frente para mim e passou as pernas por meu quadril. – Eu no seu lugar escutaria o que ela tem a dizer. Falou baixo.

– Eu não sei se quero saber... Desviei os olhos marejados e ela passou as mãos por meu rosto.

– Você não precisa perdoa-la, mas deve escuta-la. Se não, vai se remoer até a morte procurando uma resposta que somente ela pode te dar. Me olhou nos olhos.

– Por que essas coisas só acontecem comigo? Afundei meu rosto em seus seios e funguei, tentando não chorar.

– Essas coisas podem acontecer com qualquer um... Sussurrou e afagou meu cabelo. – E sempre que você precisar eu estarei aqui. Beijou o topo de minha cabeça.

– Obrigado! Envolvi seu corpo em meus braços e a abracei com força.

– Eu te amo, Estevam. Falou baixo. – Eu sei que sempre falo isso depois que a gente transa, mas eu te amo de verdade.

– Eu também, minha princesa. Passei a mão em seu rosto. – Você definitivamente foi a melhor coisa que me aconteceu nesse último ano. Obrigado por ficar comigo, mesmo eu sendo um bruto ou grosso as vezes.

– As vezes eu também sou. Começou a rir. – Então estamos quites. Beijou minha testa e depois a ponta do meu nariz, chegando em minha boca, onde selou nossos lábios. – Agora sim podemos fazer amor. Sorriu ladino.

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