Dez anos e um Funeral

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Quando soube do tumor da Helena, eu já sabia, Ela já sabia... Começou na mama direita, logo se espalhou, foi agressivo, ela lutou, uma batalha desleal, foram quase cinco anos até que a maldita doença a ceifasse. Helena lutou até o último segundo de sua vida. Olhei para seus filhos tão jovens, seu menino, de apenas dez anos, o Júnior, ele e a mãe tinham uma ligação tão especial, única e a menina, Vitória, com quatorze anos, precisou amadurecer tão rápido, tinha apenas nove anos quando a mãe lhe contou sobre o câncer. Ela desde então esteve ao lado da mãe todos os dias, dizia querer fazer medicina para curar pessoas com a mesma doença. Ela era um misto de fortaleza com fragilidade, tão doce, de olhar triste mas vivos. Os dois estavam estarrecidos naquele dia, eu tentei consolá-los algumas vezes, mas não tive muito sucesso, eles estavam inacessíveis rodeados pelo seu pai e tia.
Helena era minha melhor amiga, estive diariamente com ela nos últimos anos, como amiga e como médica. Me sentia fracassada por não ter conseguido salvá-la, àquela dor parecia assolar meu coração, lembro que na última vez que nos falamos, ela disse que faria uma viagem, uma longa viagem e que nos encontraríamos ao final. Aquilo ja era o prenúncio, eu sabia que viagem era essa...
Eu a amava, nós trocávamos tudo, na verdade fui eu quem descobriu o nódulo no seu seio direito, foi em meio a um abraço mais longo, aquele que nós davamos quando ela queria desabafar, foi na piscina e ela falava sobre o marido sempre ausente. Naquele dia ela me puxou para a casa da bomba, lá nosso abraço evoluiu e quando passei a mão por baixo do seu biquíni eu senti. Dali para frente começou a luta, médico, exames, biopsias, tratamentos, cirurgia...  A princípio ela não queria se cuidar, dizia que só iria protelar aquilo que já era previsível, eu insisti, tive inclusive que persuadi-la. Contei para a sua irmã que morava na mesma casa, a Eloise, uma mulher mais velha, sábia, foi morar com a irmã pois não queria casar, ela era uma mulher conservadora, dominante, persistente.
Nós eramos cinco, eu, Helena, Eloise, Vanessa e Laura. Cinco amigas quase inseparáveis que se conheceram desde o fundamental. Tirando a Eloise que era cinquentona, nós agora estavamos chegando na casa dos quase quarenta anos. Eu era a mais nova, tinha trinta e cinco anos a mesma idade da Helena, já as meninas Laura e Vanessa ja batiam trinta e oito anos.
Assim que o funeral acabara, nós cinco nos reunimos e conversamos.
Eloise era a dominante do grupo, aquela que não dava espaço, falava e pronto, ela que nos chamou. Eu sempre fui prática e tentava traduzir a Eloisa com atitudes palpáveis, Helena era apaziguadora, mas Eloise vivia em pé de guerra era com a Vanessa, que era uma mulher temperamental. Discordavam em tudo... Laura era nosso docinho, uma mulher gentil, delicada e sempre muito serena. No final ela acabava resolvendo todos nossos impasses com aquela voz suave e sóbria.
Éramos cinco; cinco amigas inseparáveis, agora nos tornamos quatro. Eloise que era uma mulher sábia, parecia saber o que aconteceria dali para frente, iríamos nos asfastar, cada uma iria para seu canto pois Helena era nosso elo, então fizemos um acordo inquebrável, que nos reuniriamos a cada dez anos até nosso fim. Seria impreterivelmente na data de vinte de agosto e que passaríamos uma semana sob o mesmo teto em nome da Helena. Não questionamos, apenas aceitamos o pacto. Em dez anos nos reencontrariamos na mansão das irmãs Helena e Eloise

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