Adrenalina

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Nota Autora: Trazendo o capítulo do parto bem rapidinho, pois sei que deixei vocês aflites. Ja aviso que vai ser um parto tenso, se preparem e bom domingo. =)

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A cirurgia começou, eu estava ao lado da Vitória, no entanto paramentada para acudir a Helena assim que nascesse.

A obstetra encontrou dificuldades no parto, pois o útero da Vitória estava extremamente contraído, endurecido, a bebê estava em expulsão. Eu a vi suar para tirar a bebê, estava apreensiva, por dentro eu fiquei da mesma forma, mas o tempo inteiro tentava passar confiança para Vitória.

Apesar de estar anestesiada, Vitória estava relatando dor, e era comum pois realmente estavam fazendo  manobras agressivas para retirarem a bebê. O parto havia entrado em complicação. Olhei no monitor e a pressão da Vitória estava subindo.

- Ei... Já vai acabar... Tenta ficar tranquila. - falei dando carinho em seu cabelo que estava preso em uma toca hospitalar.

- Su, porque esta doendo tanto??? - ela estava com expressão de dor.

- Estão tendo que fazer alguns movimentos para tirar Helena e mesmo anestesiada, isso machuca um pouco, mas logo vai acabar. - respondi confiante.

- Eu não aguento mais... - nesse momento a pressão Vitória subiu muito e me afastaram para medica-la.
Eu fiquei extremamente assustada, até que a obstetra conseguiu retirar a neném.

- Nasceu!!! - eu exclamei olhando para Vitória que sorriu aliviada.

Em seguida olhei para a equipe, eles estavam com uma expressão ruim, então olhei a bebê e ela estava desfalecida na mão da obstetra, completamente roxa, sem nenhum movimento.

Eu corri, peguei ela "molenga" nos meus braços e fui até o berço aquecido que ficava no canto da sala.

Comecei com o protocolo de reanimação neonatal, tinham dois pediatras e uma enfermeira comigo, eles estavam sem ação. Enquanto isso Vitória perguntava pela bebê, ela estava aflita pois entendia que algo acontecia.

Helena nasceu com batimentos fraquíssimos, mal conseguia respirar e de repente os batimentos cessaram, ela parou. Eu senti meu corpo inteiro gelar, fiquei por milissegundos paralisada. Mas então me recompus e respirei fundo, em fração de outros milissegundos olhei para frente, juro que vi a Helena, era como um espírito, ela estava no meio da equipe. Ela mandava eu continuar, não desistir da bebê. Cada segundo era crucial para agir.

Eu olhei para a neném sem respirar, morta e comecei a fazer as compressões cardíacas, enquanto outra pediatra a ventilava. Todos me olhavam sem esperança. Pedi para infundir adrenalina, no entanto a equipe se afastou e um dos pediatras falou:

- Ela partiu, não tem mais o que fazer... - eu estava focada, não me dei por vencida. Olhava o espírito da Helena que de alguma forma sussurrava no meu ouvido "não desista".

Eu nunca fui de acreditar em espíritos, mas aquilo era muito claro para mim, ou eu estava em surto diante da situação. Todos me olhavam, Vitória indagava e chorava pela bebê. Estava passando mal, a pressão não cedia.

Eu estava suada, nervosa, a bebezinha estava morta nas minhas mãos, e não queria desistir, não podia aceitar... Infundi a adrenalina e persisti sozinha na massagem cardiaca, até que um milagre aconteceu...

De repente a bebê começou a respirar, sua cor mudou e ela chorou muito forte. Todos olharam incrédulos e emocionados. Eu mesma não podia acreditar, comecei a chorar de alegria.

Os pediatras voltaram a se aproximar e iniciaram os primeiros cuidados na bebê. Eu por minha vez me afastei e recuperei minhas forças. Andei até a Vitória que ainda estava sendo costurada e falei:

- Ela é linda! Vocês são duas guerreiras. - lágrimas desciam pelo meu rosto.

- Você salvou a vida dela, não desistiu... Eu vi tudo daqui. - ela falou emocionada, também tomada por lágrimas.

- Ela que lutou para ficar.- nesse momento a equipe levou a bebê já enrolada em uma manta até Vitória, a colocaram junto ao seu rosto.

- Oi minha vida... Eu te esperei por tanto tempo... Te amo muito. - Vitória falou com a filha e eu chorei emocionada com a cena.

Acariciava o braço da Vitória que pediu para eu me aproximar das duas, eu obedeci. Eu então comentei emocionada:

- Olha a boquinha dela, parece com a sua... -  olhei em seus olhos enebriados de amor pela filha e as admirei.

- Su, ela é perfeita, mais do que eu poderia imaginar. - Vitória falou em meio ao sorriso mais largo que ja tinha visto. Por precaução e sabendo da condição congênita da bebê, peguei o estetoscópio preso ao meu pescoço e coloquei na altura do coração da bebê para avaliar sua frequência cardíaca, era importante eu acompanhar isso, teria que levar ela para cirurgia em algumas horas.

- Como ela está? - Vitória indagou preocupada.

- Forte! Mas daqui a pouco vou precisar levar ela para a primeira cirurgia de correção.

- Su... - Vitória falou reticente, nesse momento ja estavam finalizando de suturar sua barriga e logo ela seria levada para o quarto.

- Oi? - indaguei ainda encantada com a bebê e acariciando na cabeça da Vitória.

- Obrigada por estar comigo no momento mais importante da minha vida. - nossos olhos se conectaram.

- Não queria estar em nenhum lugar que não fosse aqui. - me aproximei da Vitória e depositei um breve selinho em seus lábios, em seguida beijei a toquinha da bebê como se estivesse me despedindo.

- Vai sair?! - ela franziu a testa.

- Vocês estão estáveis, preciso ver se minha equipe chegou para começarmos a organizar a cirurgia dessa pituquinha. Também preciso falar com sua tia que deve estar aflita la fora.

- Precisa ser tão rápido, queria curtir um pouco mais a bebê... - Vitória não queria que eu levasse a bebê.

- Essa primeira intervenção precisa ... Mas não se preocupe, vai ser bem rápido e logo ela volta, vai ter que ficar na uti neonatal por um tempinho lá você vai poder visitar ela quando quiser.

- Quantas intervenções vão ser?

- A princípio duas, uma é hoje e a outra vai ser com sete a dez dias de vida dependendo da resposta dela a primeira. - expliquei.

- Será que vai dar certo?! - Vitória indagou preocupada.

- Vai dar tudo certo. Helena já provou para mim que é forte e quer viver. - dei uma pausa e falei: - Vou chamar sua tia para ficar com vocês e vou lá me preparar.

- Su?!

- Você não vai me deixar ir, não é?! - comentei sorrindo, ela sorriu de volta olhando em meus olhos.

- Não sem antes te falar uma coisa... - Vitória respirou fundo e falou de uma só vez: - Eu te amo.
- foi puro, sincero, romântico, eu sorri nervosa, mas não consegui corresponder.

Não sei se era por conta das circunstâncias, do que havia acabado de acontecer, tive uma descarga enorme de energia fazendo as manobras de ressucitação na bebê, ou pelos meus bloqueios emocionais, sentia travada e quando eu me declarasse novamente para ela, tinha que ser natural, não queria me cobrar a isso.

Vitória deu um sorriso frustrado por eu não ter correspondido e eu por dentro fiquei triste. Claro que eu a amava, mas ela falou em tom  romântico, se declarou e eu não estava preparada para isso.

Vendo que estava tudo sob controle, a obstetra já tinha terminado o trabalho, haviam tirado toda monitorização da Vitória, estavamos apenas aguardando o maqueiro para leva-la para o quarto, resolvi então sair da sala.

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