Nova chance para o Amor

Tia Vih

Acordei bem cedo, por volta das cinco da manhã e fui buscar Malu. Ela retornou comigo de carro dormindo praticamente a viagem toda. Quando estávamos chegando, ela despertou, estava presa ao cinto no banco de trás, eu a olhava pelo retrovisor.

- Que bom que acordou mocinha... - sorri para ela.

- Eba, eba mamãe! Estava com saudades... - a menina balançou os braços animada. Ela não tinha dado conta, pois quando a peguei na minha mãe, ela estava dormindo.

-Filha, sussega aí no banco, senão me atrapalha aqui no volante... - pedi para ela se conter.

- Vai demorar muito para a gente chegar? Onde a gente vai mesmo?

- Não vai demorar não, estamos indo para a casa daquela minha amiga que falei.

- A amiga morta?

- Filha!! Quem te falou isso?!

- A vovó...

- Meu amor, eu gostaria que você não falasse assim lá na casa, ok? Isso é grosseiro, insensível, muito feio...

- Ta bom.

- E não é uma amiga morta... O nome dela era Helena, uma pessoa querida e especial. Eu gostava muito dela, sabia?

- Mas ela não morreu?

- Sim Malu, ela morreu há muitos anos atrás, você nem era nascida. Filha, você quer seu celular? - eu estava desconfortável para explicar isso tudo para Malu, para falar a verdade, não sabia bem como fazer, era algo íntimo, que tratava de sentimentos delicados e complexos ao mesmo tempo, ela ainda não tinha maturidade para compreender. Entreguei o celular dela para que se distraisse com seus jogos e vídeos. Continuei a dirigir até que chegamos na casa. Saímos do carro, soltei o cinto da Malu e peguei sua mala. Fomos atendidas pela empregada e logo seguimos para o escritório onde eu sabia, pelo horário, que minhas amigas estavam reunidas. Malu estava vislumbrada com a "casona" como ela mesma apelidou ao chegarmos. Entramos no escritório e fomos logo recebidas pela Eloise.

- Oiii, você deve ser a princesa Malu. Como é linda!

- Oiii, você é a amiga da mamãe?

- Todas aqui somos. - Eloise apontou Vanessa, Laura e Vitória. Pois é, Vitória estava lá, "esparramada" num dos sofás, mexendo no celular. Assim que entrei no escritório já a avistei e senti minha respiração acelerar. Ela olhou para mim imediatamente e sorriu com alegria, até parecia estar me aguardando chegar. Eu apresentei a Malu para Laura e Vanessa e começamos a reunião. Vitória permaneceu quieta no sofá, ligeiramente retraída e também entretida no celular, na verdade ela não parecia querer se envolver, mas também não saía do escritório. Alternava o celular com alguns olhares discretos diretamente para mim, certamente corei uma ou duas vezes, mas consegui disfarçar.
Malu estava inquieta, demos alguns papéis para ela desenhar, eu sabia que seria difícil com ela ali, ela era uma criança enérgica. Até que em algum momento Vitória percebendo meu desespero em tentar controlar Malu e participar da reunião, levantou do sofá e se aproximou da minha filha. Ela com muito jeito inclusive começou a conversar com ela e a envolver com um papo bem didático sobre redes sociais, internet, aplicativos... Com isso elas se deram muito bem, Vitória mostrou a conta dela nas redes sociais e começou a falar de games com a Malu que estava vislumbrada. Eu olhei para a Vitória e a agradeci com os olhos, senti um enorme alívio. Consegui retomar então a reunião, algumas sacolas com coisas da Helena começaram a chegar na sala, nós teríamos que separar tudo e organizar para poder doar, seria algo muito delicado, mas era importante.
Um pouco antes do almoço meu telefone tocou, era do hospital, eu atendi prontamente. Meu paciente, o senhor Flávio havia piorado e teríamos que antecipar a cirurgia.