Confissões

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- O que você... - Levantei e andei até ela que estava bem arrumada, perfumada, nem parecia a mesma de hoje mais cedo.

- Vim para assinar alguns papéis da residência e fiquei fazendo hora para esperar seu plantão acabar... - ela sorriu me olhando nos olhos.

- E a Helena? - indaguei preocupada.

- Ficou com a tia Elô.

- Achei que não queria deixar ela com ninguém. - comentei surpresa.

- Acho que eu precisava descansar. Aliás eu vim falar com você justo para isso, queria te agradecer pelo que fez hoje mais cedo...

- Não se preocupe, eu sei muito bem como funciona o puerpério. - respondi sorrindo com empatia e carinho. Nos olhamos em silêncio, até que Vitória falou:

- Ainda tenho algum tempo, quer ir jantar ou não sei, ir a algum lugar... - Vitória fez o convite com timidez, seu rosto corou.

- Eu... - estava terminando minha frase quando Alex nos abordou no posto de enfermagem.

- Ah, você esta aí! Estava te procurando... Demorou, fiquei preocupade. - Alex olhou desconfiade para Vitória que retribuiu o olhar da mesma forma. Eu precisava apresentar Alex e Vitória, não tinha como evitar:

- Alex essa é a Vitória, e Vih, esse é Alex.

- Muito prazer. - Vitória estendeu o braço para cumprimentar Alex. Eu fiquei sem graça.

- O prazer é meu. - Alex cumprimentou Vitória.

- Alex é residente e vai se especializar em cardiologia, estou como tutora delu aqui no hospital. - expliquei para Vitória.

- Delu??? - Vitória indagou confusa.

- Sou gênero fluído. - Alex explicou.

- Ah sim, que legal Alex! Su, também era minha tutora, ela não curte muito residentes, você sabia disso? - Vitória usou tom de deboche, olhei para ela irritada por estar depreciando minha imagem.

- Pode ser, mas com a gente rolou uma química quase que inevitável. - Alex retrucou sorrindo.

- Química?! - Vitória cruzou os braços e comentou surpresa, de fato ela notou algo a mais, pois Alex passou a mão pela minha cintura, marcando território.

Comentei sem graça:

- Elu quer dizer que temos projetos juntes, estamos até elaborando um artigo. - tentei desviar do abraço, mas Alex me apertava mais forte, era evidente que tinha percebido alguma coisa entre eu e Vitória.

- Ok... Bom, eu preciso ir, já está dando hora da mamada da Helena.  - Vitória jogou a desculpa sem graça.

- Você é a mãe da bebê que a Su operou??? - Alex juntou os pontos e comentou animade.

- Você está por dentro de tudo mesmo. Vejo que têm passado bastante tempo juntas, quer dizer, juntes... Foi um prazer Alex. - Vitória cumprimentou Alex e virou para ir embora.

Eu fiquei petrificada, pois era verdade que ambas notaram que tinham papéis na minha vida.

Vitória demonstrou que também estava com ciúmes, mas sabia que não podia interferir. Já Alex marcou território como um animal.

Não podia deixar Vitória partir, mas não consegui manifestar nenhuma reação.

- Que foi? Você está bem? - Alex perguntou preocupade, eu não respondi, queria correr atrás da Vitória, mas estava completamente travada. Alex passou a mão na frente do meu rosto para me chamar atenção. - Su?!

- Me desculpa Alex, mas preciso ir. - finalmente comsegui me mexer, deixei Alex e fui atrás da Vitória. Apressei o passo pelos corredores do hospital e só consegui alcança-la no estacionamento.

- Vitória! - chamei em voz alta, ela virou, eu dei uma corrida curta e terminei de me aproximar dela.

- O que está fazendo aqui? Deixou Alex sozinhe? - ela indagou com um sorriso contido.

- Eu que te pergunto... Porque me procurou? - perguntei confusa.

- Já falei, vim para assinar os documentos da residência e...

- Fala a verdade Vih, por favor, eu estou ficando maluca. - cortei Vitória.

- O que quer ouvir? Que estou apaixonada por você?! Que te amo?! Sim, isso tudo é verdade, mas não muda nada... - ela se declarou olhando nos meus olhos. Meu rosto corou e não pude conter minha alegria.

- Você está apaixonada por mim? - indaguei sorrindo.

- Sempre estive Su, isso ainda não é claro para você? - ela cruzou os braços indignada.

- E porque vai me deixar?

- Eu... - Vitória respirou fundo e notei que uma lágrima desceu dos seus olhos, ela elevou os olhos e tentou secar as lágrimas com as mãos.

Me aproximei dela e limpei a lágrima insistente com meu polegar. Ela sorriu, eu sorri, nos olhamos emocionadas, ela me deu carinho na bochecha, aproximou seu rosto até o meu e me beijou. Eu correspondi ao beijo. Nos beijamos com paixão, tinha química, pegava fogo, segurei firme em seu pescoço, e ela segurou no meu acariciando minha nuca, nossas línguas se entrelaçaram em uma sincronia perfeita, não queríamos parar e quase perdemos o ar.

Fomos interrompidas por Alex que assistia a tudo em silêncio e puxou uma tosse para chamar atenção. Nos afastamos e eu gelei, Alex estava olhando para mim brave, com decepção.

- Alex... Eu... - me aproximei delu.

- Tudo bem, não precisa me explicar nada. Você sempre foi muito clara. - o rosto de Alex estava vermelho e seus olhos marejados. Meu coração estava apertado, estava posicionada exatamente entre ela e elu, Vitória de um lado, Alex do outro. Não sabia como agir, baixei a guarda e fiquei de cabeça baixa em silêncio.

- Eu tenho que ir, vocês precisam conversar... - Vitória quebrou o silêncio, abriu a porta do carro e deu partida. Eu concordei com a cabeça e me aproximei de Alex. Elu estava de braços cruzados, eu toquei em seu braço franzindo a testa. Alex recuou e tirou meu braço chateade.

- Posso ao menos explicar??? - pedi.

- Acho que não precisa, eu enxerguei o que precisava ver. - ela falou olhando para mim.

- Queria que você tentasse entender meu ponto de vista. - insisti.

- Olha, por incrível que pareça, eu entendo. Repito que você sempre foi clara comigo. Mas ver com meus olhos, foi mais difícil do que eu imaginava que seria... - ela falou e eu fiquei em silêncio, não tinha o que falar.

- Um dia você vai me perdoar? Ou melhor, será que você consegue apagar o que viu? Não queria perder sua amizade...

- Su, eu vou precisar de um tempo, ok? Realmente gosto de você, eu me apaixonei... - Alex falou com lágrimas no rosto, elu tentava desviar o olhar e eu insistia em tentar encarar elu.

- Se tem uma coisa que posso afirmar com todas minhas forças, é que se não fosse essa situação amorosa mal resolvida que assola minha vida, eu também estaria apaixonada por você. Alex te acho incrível, inteligente, esforçade, sexy e eu vou sentir muito a falta de estarmos juntes. Eu quero muito ser sua amiga... - me abri para elu.

- Preciso mesmo de um tempo, talvez no futuro, mas agora não posso prometer nada. - elu falou ainda com tristeza, algumas lágrimas desciam pelo seu rosto. Meu coração estava dilacerado, isso era tudo que eu não queria que acontecesse...

- Tudo bem, você tem todo direito. - nos olhamos nos olhos e eu falei: - Posso te abraçar? - elu conssentiu, e eu abracei com carinho, elu não retribuiu. Logo em seguida nos despedimos e seguimos nossos rumos.

Isso iria acontecer em algum momento, enquanto a situação com a Vitória não se resolvesse por completo, não estava pronta para viver um relacionamento com ninguém. Alex era a pessoa perfeita para mim, eramos compatíveis, mas tinha essa questão e eu não poderia usar elu.  Respirei fundo, peguei meu carro e fui para casa.

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