Entrei na casa pela ponta dos pés, apesar de ser uma mansão e os quartos ficarem espaçados, não queria correr o risco acordar alguém. Passei pelo hall de entrada, fui direto na cozinha para pegar um copo de água e subir para meu quarto. Fui surpreendida pela Eloise, ela estava sentada em uma banqueta na ilha central da cozinha.
- Que susto! Não esperava encontrar alguém aqui... - falei ofegante com a mão no peito.
- Não consegui dormir... Vocês chegaram agora??? - Eloise indagou surpresa.
- Sim... - respondi desviando o olhar, apesar da Eloise não saber o motivo, senti um certo constrangimento pelo que aconteceu no carro.
- Vitória não veio falar comigo. - Eloise comentou inconformada.
- Ela deve ter ido direto para o quarto dela, estava cansada... - falei ainda desviando o olhar, tinha medo de encara-la nos olhos.
- Porque chegaram tão tarde?! - Eloise usou um tom desconfiado para falar, eu não poderia demonstrar minha vulnerabilidade, ela não poderia imaginar o que acontecera no carro.
- É porque aproveitei para visitar uma amiga que mora aqui perto. - respondi firme, agora olhei nos olhos dela com confiança queria findar ou mudar o rumo da conversa.
- Ela fez mesmo? - Eloise indagou incrédula.
-Como? - franzi a testa sem entender a pergunta.
- A Vih, ela fez o vestibular?
- Sim. - sorri.
- Graças a Deus! Não acredito que você conseguiu...- Eloise levantou e me abraçou aliviada, eu retribui ao abraço.
- Não tem sido fácil não é? - saí do abraço e olhei nos olhos da Eloise, pude sentir o fardo que ela vinha carregando desde que sua irmã falecera.
- Desde que Helena partiu, me sinto sozinha com os dois, com a casa...
- E o pai deles?
- Rodolfo?! Ele aparece aqui quando quer e nem fala direito com as crianças... Acha que mandando o dinheiro está tudo resolvido. - Eloise lamentou colocando a mão na cabeça.
- Deve ser difícil para eles, perderam a mãe, o pai é ausente...- Suzana... É difícil para mim, já viu meus cabelos brancos?
- Não são mais "crianças" Eloise... - me referi ao fato dela ter utilizado da palavra para se referir aos sobrinhos.
- Agem como se fossem, principalmente a Vitória! - Eloise se exaltou.
- Ela só precisa de um pouco mais de cabresto. É uma boa menina, mas está perdida... - comentei.
- Eu faço o melhor que posso. - Eloíse encolheu os braços desanimada.
- Não tenho dúvidas minha amiga. Se precisar de algo, pode contar comigo.- a abracei novamente e pisquei para ela.
- Hum... Você é que teria sido um bom "pai" para eles... - Eloise sabia que eu e a Helena tínhamos tido um envolvimento, ela insinuou e eu fiquei sem graça, corei, ajeitei o cabelo, voltei a desviar o olhar e desconversei:
- Como foi a reunião hoje?
- Laura e Vanessa propuseram de recolhermos algumas coisas da Helena para doar, comprarmos outras coisas e buscarmos uma instituição de caridade para doarmos. Vamos fazer uma obra de caridade em nome da Helena.
- Que incrível! Ela ficaria muito feliz, não teria uma forma melhor de homenageá-la... Ela que era tão caridosa, empática e sempre pensava no próximo. - respondi animada.
- Amanhã vamos nos reunir cedo la no escritório para começar a separar algumas roupas, objetos e também vamos fazer ligações para tentarmos levantar fundos.
- Já escolheram a instituição?
- Ainda não, vamos fazer isso amanhã também.
- Perfeito! Vou dormir, estou cansada... - me despedi da Eloise.
- Também vou dormir, só estava aguardando Vitória chegar.
- Eloise?! É...Eu poderia trazer a Malu para ficar esses dias aqui?
- Claro querida! Uma criança vai dar vida para essa casa. - Eloíse respondeu com um sorriso acolhedor no rosto.
- Ok, obrigada.- sorri de volta com gratidão. - Bom... Dorme bem. - me despedi e subi as escadas. Entrei no quarto, fechei a porta, fechei os olhos e escorei na porta cansada, respirei fundo e soltei o ar lentamente pela boca, em seguida acendi a luz e dei pulo assustada.
-Jesus que susto!!! - coloquei a mão no peito e ofegante. O segundo susto da noite, pensei. Vitória estava sentada na poltrona que ficava de frente para a cama.
- Não sabia que tinha medo de fantasmas... - Vitória levantou e debochou de mim sorrindo.
- Fantasmas?! Não... Tenho medo é dos vivos. - coloquei a mão na cintura e perguntei ainda me recuperando do susto: - O que está fazendo aqui???
- Não acha que precisamos conversar? - Vitória se aproximava cada vez mais de mim, eu recuava dando passos para trás.
- Acho que precisamos dormir e esfriar nossas cabeças. - desviei o olhar. - Estou cansada Vitória... - pedi arrego.
- Eu não vou conseguir dormir sem antes conversar com você. - Vitória insistiu.
- Não temos nada para conversar...
- Não?! Aquilo que aconteceu no carro não significou nada para você??? - Vitória cruzou os braços e deu um jeito de olhar nos meus olhos, mesmo que eu tentasse desviar dos dela, eles pareciam ter imãs, me atraíam.
- Eu não quero falar sobre isso agora, gostaria muito que você me respeitasse... - pedi.
- E quando? Quando você vai querer falar sobre?
- Vitória, aquilo foi um erro, um mal entendido e não vai se repetir. - respondi confiante olhando dentro dos seus olhos, queria encerrar o assunto e quebrar qualquer expectativa.
- Você não sentiu nada??? - Vitória franziu a testa indignada e um tanto incrédula. Eu não sei se conseguiria convencê-la, o beijo tinha tido de fato muita energia e química. Eu fiquei em silêncio, não a respondi. Ela respirou fundo e deu para sentir sua fúria por eu não corresponder ao interrogatório. Ela me olhou mais uma vez e falou: - Ok, você não quer falar, mas vou te provar que está enganada...
- Enganada?! - franzi a testa confusa.
- Não foi um erro... - antes que eu pudesse responder, Vitória foi embora do quarto batendo a porta. Assim que ela saiu, olhei para cima e passei a mão na minha cabeça. Meus olhos marejaram e eu não podia acreditar que estava me envolvendo naquilo. Eu que sempre me blindava... A verdade era que não podia deixar de pensar na Helena, no que ela iria pensar disso. Após um tempo refletindo, fui tomar um banho, troquei de roupa e tentei dormir um pouco, teria que despertar cedo para ir buscar a Malu.
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Nova chance para o Amor
FanfictionSuzana (Suranne Jones) amou sem limites sua melhor amiga a Helena. Na época era um amor proibido, Helena teve medo de assumir o romance e deixou Suzana para casar e ter filhos. Suzana seguiu a vida, formou em medicina e reencontrou com Helena alguns...