Biscoitos

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....

- Sabe o que eu fico mais intrigada em relação a você?

- O que? Minha pontualidade inglesa? - comentei um tom provocativo.

- Não importa o quanto eu esteja brava com você, mas basta te ver que tudo desaparece. - ela me desarmou, abri um sorriso bobo e tímido.

- Eu não sabia que ainda estava brava... - me aproximei dela com alguma timidez, ela ficou nervosa e se afastou, respirei fundo e falei: - Como cresceu ... - olhei para sua barriga.

- Nem me fala, minha coluna está quebrada... Por falar nisso, podemos entrar? Preciso sentar na minha poltrona de grávida.

- Minha nossa! Linhas de crochê e uma poltrona de grávida? Onde vamos parar...

- Boba... - a respondeu sem graça.

- Vamos, vamos entrar... - apontei com a mão em direção a porta e entramos na casa. Por dentro estava mais moderna, obviamente Vitória fez algumas adaptações, mas preservou algumas coisas. Eu vislumbrei com essa mistura do antigo com o moderno, ela conseguiu fazer uma combinação muito acertada na decoração.

- Essa é a sua poltrona de grávida? - apontei para a poltrona que era a própria da senhora Silvana.

- Não é linda? Mandei reformar, troquei o estofado, mas é muito confortável.

- Não me diga que guardou os álbuns de fotografia com as viagens para Grécia?

- Bem que você gostaria... - ela sentou-se na tal poltrona e continuou: - Mas os parentes levaram.

- Porque comprou essa casa?

- Não vai sentar? É uma longa história... - Vitória apontou o sofá que ficava próximo a poltrona. Eu sentei.

- Começa bem do começo... Estou com tempo e curiosa.

- Não é tão complexo assim, mas posso dizer que já comprei essa casa tem algum tempo. Um dia eu retornava da faculdade e vi o cartaz enorme de "vende-se."... - ela contou como tudo aconteceu, desconversou um pouco sobre o real motivo, mas eu acho que poderia imaginar. Enquanto falava, prestava atenção, mas também me concentrava em cada detalhe do seu corpo, seus lábios se mexiam lentamente, seu olhos me encaravam, seus cabelos e pele estavam com um brilho especial, o brilho de grávida. Seu perfume era o mesmo de sempre e inundava a sala. Me perdi em sua beleza, e talvez eu tenha me desligado por alguns segundos.

- Su?!

- O-oi! Perdão... - respondi desconsertada.

- No que estava pensando? Não estava me escutando?

- Pensando?Estava escutando você.

- Fala a verdade... Você estava com o olhar perdido. - ela insistiu, acabei de cedendo.

- É que todas as vezes que te encontro, percebo o quanti sinto a sua falta. - ficou um silêncio, percebi que Vitória ficou desconcertada, triste, se ajeitou na poltrona e arrumou o cabelo, como ela não falou nada, eu quebrei o silêncio: - Então, o que me trouxe aqui hoje? Acredito que não me chamou para falar da história sua casa...

- Espera aqui, vou buscar algo para você... - ela levantou empinando a barriga e eu preciso admitir que achava aquilo extremamente sensual. Respirei fundo e perguntei preocupada:

- Quer ajuda? - não fazia idéia do que ela iria buscar se era pesado.

- Não, só fique aí sentada que ja volto... - ela pediu e deixou a sala pro alguns minutos. Eu levantei e circulei pelo espaço, algumas fotos dela, da Helena, do Júnior, Eloise... Nenhuma foto do pai, e apenas uma foto dela com o Rodolfo. Bom, as outras fotos dos dois poderia estar espalhadas pela casa, pelo quarto dos dois pensei. Escutei passos, era Vitória que retornava, tratei então de retornar rapidamente para o meu lugar. Ela entrou na sala munida por uma bandeja com chá, duas xícaras e um prato com biscoitos. Eu imediatamente levantei e ajudei ela com a bandeja. Repousei sob a mesinha de centro.

- Obrigada... - ela sorriu e continuou: - Chá?

- Sim, obrigada. - agradeci e peguei uma xícara, ela tocou em minha mão para me servir e nos olhamos, nesse momento notei que ainda não havíamos perdido nossa conexão. A conexão era tão intensa que Vitória transbordou o limite da xícara e caiu água quente na minha calça.

- Desculpa!!! - ela correu para pegar algum pano para secar, estava realmente queimando, mas tudo bem, eu estava ligeiramente anestesiada pela Vitória que pegou um pano e começou a enxugar a água na minha perna. Como sentia falta do seu toque. Toquei em sua mão para pegar o pano e nos olhamos de novo. Levantei do sofa e ficamos na mesma altura, próximas, ela sorriu tímida e eu toquei em seu cabelo. Ela abaixou o rosto que corou, eu toquei em seu queixo para tentar levantar seu rosto, procurando pelos seus olhos. Senti sua respiração acelerada e reparei que seus olhos encaravam minha boca. Me aproximei um pouco mais e tirei o cabelo do seu pescoço, deixando seu pescoço descoberto. Ela não recuou, ficou parada como se tivesse me dando sinal verde para avançar. Então peguei em seu pescoço e levei minha boca até seus lábios. Toquei seus lábios com um beijo suave, sem invadir. Ela retribuiu com os olhos fechados, ela sentia falta, era como nossos lábios tivessem uma espécie de imã, se atraiam de forma que transcediam qualquer coisa. Nos beijamos carinhosamente, contidas, sem que nossas línguas se encontrassem. Eu então saí do beijo encostando minha testa na dela curtindo aquele momento nosso. Nossas mãos tocavam os pescoços uma da outra. Ficamos assim por algum tempinho. Até que ela se afastou com cuidado e falou desconcertada:

-  Nao vai comer os biscoitos?

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