Como teria sido...

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A noite passada havia sido agitada, não dormi nada, fiquei pensando o tempo inteiro na Vitória, na bebê, li casos como os dela. Estudei, mandei mensagens para alguns colegas. Acordei acabada, com uma enxequeca daquelas que me fez tomar um analgésico em dose cavalar. Olhei para meu celular e não haviam mensagens, tinha um fio de esperanças dela me procurar... Claro que seria totalmente inapropriado, mas eu era dessas, romântica incurável, criava fantasias na minha mente. Levantei da cama e pensei em espairecer, isso me faria bem. Resolvi então sair para dar uma caminhada, ultimamente isso vinha me fazendo muito bem.
Retornei da caminhada, suada, revigorada, entrei em casa e meu celular tocou, era a Vanessa, atendi prontamente e Vanessa logo foi falando:

- Oi sumida! Acho que te vi na rua... - eu e Vanessa morávamos muito próximas uma da outra, às vezes nos esbarravamos pelas calçadas.

- Agora?!

- Na frente da igreja.

- Ah sim...- confirmei e fiquei em silêncio.

- Te chamei umas três vezes!

- Desculpa, eu devia estar distraída. - fiz silêncio novamente.

- Você?! Distraída??? Logo você que vive em alerta?! Não acredito, estava mesmo era me evitando...

- Ei! É verdade, pode acreditar, hoje estou completamente distraída. - silêncio novamente.

- Su, você está bem? - Vanessa indagou, provavelmente estranhou minhas pausas silenciosas.

- Acho que sim... Amiga, você vai fazer algo hoje? - perguntei, sabia que aos domingos ela não trabalhava.

- Hoje é domingo, o máximo que tenho para fazer é lavar roupas.

- Sim, eu imaginava... Bom, hoje é seu dia de sorte, porque eu tenho algo melhor para você...

- Pode mandar!

- O que acha de irmos ao cinema?

- Cinema?! Você está bem Su? - Vanessa sabia que eu não tinha nenhuma paciência para shopping e nem cinema. Ela vivia me convidando, mas eu sempre desmarcava. Na atual conjuntura eu precisava de uma boa compainha, de uma confidente, um passeio, um cinema iriam me ajudar bastante. silêncio, acho que Vanessa ainda estava processando o convite. Eu então animei e falei:

- Que tal? Sim?

- Claro que sim! Você sabe que não rejeito um convite desses... - Vanessa respondeu.

- Ótimo! Escolhe o filme e me passa o horário por mensagem.

- Pode ser ação? Terror? Sabe que romance não é minha praia...

- O que achar melhor, também não estou para "romances"... - comentei e desliguei o telefone.

Fui tomar um banho e preparar o almoço.

Enquanto preparava o almoço assistia a um vídeo de uma intervenção cirúrgica em um bebê de dois dias de vida. Era uma derivação em um bebê com cardiopatia congênita. Estava tão concentrada no vídeo que quase queimei o arroz, fui então surpreendida pela Malu.

- Mãe! O arroz! - ela desligou o fogão.

- Minha nossa! - comecei a mexer com a colher na panela para ver se tinha pegado no fundo, por sorte não, mas foi por pouco.

- Está distraída hein?!

- Pois é filha... Não sei o que está acontecendo comigo hoje.

- Quer que eu termine o almoço? Para você terminar de assistir isso daí???

- Obrigada meu amor... Ja deixei tudo engatilhado.

- Ok... Mãe?!

- Oi?!

- Você está bem? Como foi a cirurgia ontem?

- Foi ótima.

- Que bom... - Malu estava com uma expressão um pouco confusa, eu a conhecia, ela queria conversar. Dei pausa no vídeo, desliguei a tela do celular, me apoiei na bancada e enquanto ela ia preparando o almoço, perguntei:

- Malu, eu te pergunto... Você está bem?

- Não sei...

- Quer conversar filha?

- Eu estou confusa.

- Confusa?

- Ontem o Bê me beijou. - ela falou corada. Eu fiquei sem reação, não sabia ao certo se comemorava, quer dizer se ela estava bem com isso.

- Isso deveria ser bom?

- Não sei, quer dizer, somos amigos, isso é algo importante para mim...

- Você gostou do beijo?

- Acho que sim, não tenho certeza.

- Realmente você está confusa. Tem a que puxar... -  referia a mim, eu era a pessoa mais confusa do universo.

- Não estou na mesma sintonia que ele. Na verdade ainda não tinha passado nada disso na minha cabeça e o que é pior, tenho medo de colocar nossa amizade em risco, ninguém me conhece como ele.

- Já pensou que daí pode surgir um grande amor? Um daqueles que é para a vida inteira???

- Mãe... Isso é tão arcaico... Essas coisas não existem.

- Como não?!

- Quer dizer que já amou assim? Nem te vejo com alguém.

- Ja amei Malu, e vou amar a vida inteira. - fiquei pensativa, apesar de ver a curiosidade aflorada em seus olhos, obviamente não estava pronta para me abrir sobre assunto com ela. Continuei então a falar:  - Filha, eu quero que saiba uma coisa apenas. - dei uma pausa e olhei em seus olhos: - Nunca deixe de arriscar sentimentos por medo, confie na sua intuição, no seu coração. Eu estarei sempre aqui para você caso algo não saia da maneira que planejou. - seus olhos marejaram, acho que ela precisava ouvir exatamente aquilo. Nos abraçamos e então ela continuou a fazer o almoço.
Minha filha estava prestes a viver seu primeiro amor e por dentro, apesar do meu conselho, aquilo me amendontrava. Ser mãe era isso, assumir riscos dos próprios conselhos e estar pronta para acudir a qualquer momento. Pessoas eram imprevisíveis.
Respirei fundo e após almoçarmos, fui para quarto tirar um cochilo, estava cansada e Vanessa ja tinha me passado o horário do cinema, seria a noitinha.
Ao me deitar na cama, peguei novamente no celular, já não mexia nele tinha algum tempinho, o deixei de lado durante todo o almoço. Para minha surpresa, tinha uma mensagem da Vitória. Meu coração disparou, eu ficava a mil, tentei ler por alto a mensagem para saber do que tratava, mas acabei clicando e confirmando o recebimento.

" Eu queria que as coisas tivessem sido diferentes..."

Apenas isso, nada a mais. Ela havia enviado há vinte minutos atrás. Como assim??? O que ela queria dizer com aquilo? Será que ela mandou por engano? O que eu deveria responder?
Nossa, minha cabeça estava dando voltas, não fazia idéia do que responder... Digitei umas cinquenta vezes, mas logo apagava, precisava responder, estava atônita, meu cochilo tinha definitivamente ido por água abaixo. Respirei fundo e respondi a mensagem sem medir consequências, apenas segui meu conselho para Malu e meu coração:

" Sempre penso em como teria sido..."

Mandei e tentei apagar, era tarde, ela recebeu. Notei que ela ensaiava digitar algumas vezes uma possível resposta, mas desistia, apagava, por fim, não respondeu. Mas aquilo foi o suficiente para me prender no celular o resto do dia.

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