Questões

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Depois de visitar todos meus pacientes nos hospitais, cheguei em casa. Malu não estava, resolvi tomar um banho e deitar um pouco, estava cansada.

Assim que deitei, meu telefone tocou, eu prontamente atendi, estava atenta para qualquer ligação. Era a Vanessa do outro lado da linha.

- Oi Sumida!!! - Vanessa comentou animada.

- Olá! Olha quem fala... Não tenho te visto pela rua. - contra argumentei, pois sempre esbarramos pelas ruas, éramos vizinhas.

- Estava viajando a trabalho... Fiquei quase um mês fora, cheguei ontem. - ela justificou.

- Uau! Que pessoa Importante. - elogiei.

- Fato é que, hoje quando voltava da minha caminhada eu cheguei a uma conclusão.

- Qual? - indaguei curiosa.

- Minha amiga não quer mais saber de mim... - apelou na brincadeira.

- Ah meu Deus! Quanta carência... Posso passar aí?- pedi.

- Tenho uma idéia melhor, vamos tomar um suco na praia, a tarde está agradável e linda. - Vanessa pediu.

- Ok. Te encontro na lanchonete de sempre então. - levantei da cama, estava exausta, mas tinha que dar atenção a minha amiga, de fato com tudo que vinha acontecendo, eu andava sumida.

Eu e Vanessa chegamos ao mesmo tempo, nos cumprimentamos e escolhemos uma mesa na varanda, queríamos curtir a brisa do mar.

Fizemos um pedido, eu escolhi um suco de melancia e um sanduíche natural, Vanessa escolheu apenas um suco de manga.

Enquanto aguardavamos pelo nosso pedido, começamos a conversar...

- Por onde andou esse tempo todo? - indaguei curiosa.

- Fui para o sul ajudar na instalação de duas filiais da empresa. Muito exaustivo!

- Isso é bom, muito bom! Pelo visto a empresa está indo bem. - comentei animada.

- Sim, é uma empresa forte, acho que é a melhor que estou trabalhando em muitos anos. Possui plano de ação forte, missão, visão....- ela concordou e ficou reticente, parecia estar angustiada com algo, eu a conhecia muito bem.

- Que bom... Mas algo me diz que tem algo que não está me contando. - dei uma breve piscada com um dos olhos e soltei um sorriso.

- Não é nada... - ela virou o rosto e ficou com o olhar perdido.

- Ei?! Desde quando guardamos segredos uma da outra?! - busquei seus olhos, para que me encarasse.

- Uma pessoa que conheci no sul.

- Pessoa?! Quem? Conta mais... - indaguei animada e curiosa.

- O nome dele é Bruno, ele é o gerente de uma das filiais. Passamos bastante tempo juntos, tivemos química, um lance especial, parece que vivemos um encontro de almas. Foi único. - ela falou em tom de lástima, eu sabia que tinha algo a mais.

- Mas...

- Casado há doze anos, três filhos, o mais novo tem sete meses. - respondeu desanimada.

- Putz! Isso é praticamente um abismo de problemas entre vocês...

- Amiga, eu só me dou mal. - Vanessa reclamou, estava realmente triste. Eu senti empatia e queria poder fazer algo, mas minha situação não era muito diferente.

- Não é só com você, as coisas estão difíceis, as pessoas estão complicadas... Eu também não estou no melhor momento, aliás tudo que posso ser agora é uma boa ouvinte... - olhei para baixo desanimada.

- Ok! - ela se recuperou e ajeitou na cadeira, então continuoi a falar: - Desenbucha! Sei que tem muita coisa aí... - ela pediu.

- Tem certeza? Não quero te encher com os meus problemas.

- Isso me faz bem, me distraí.

- De fato, aconteceram algumas coisas nesse um mês. - comentei sorrindo.

- Vamos, conta logo. - Vanessa estava empolgada e ansiosa.

- A bolsa da Vitória estourou.

- Jura?! A neném nasceu!!! Como ela é??? - Vanessa disparou a perguntar.

- Ainda não... Ela está internada. - lamentei franzindo a testa preocupada.

- Su, conta as coisas na ordem cronológica, porque até onde eu sei, vocês duas estavam muito brigadas. O negócio tinha sido feio lá no bar... - Vanessa lembrou.

- E continuamos brigadas... Eu continuo. - respondi confusa.

- Ok, prossiga...

- Bom, na verdade, depois de um tempo daquele episódio no bar nos reaproximamos...

Contei toda a história para a Vanessa que estava pasma com a evolução dos fatos.

Nesse meio tempo nosso lanche chegou e devoramos tudo, Vanessa roubou até o meu sanduíche.

- Sabe qual é a minha opinião?! - Vanessa comentou.

- Qual???- indaguei curiosa.

- Que no final a Helena quis ser é operada pela mamãe Su. Essa criança nem nasceu e já é cheia de personalidade. - Vanessa comentou sorrindo.

- Que mamãe o quê?! No máximo titia... Ela tem o pai dela.

- Um babaca.

- Mesmo assim é o pai...

- Su, como você se sente com tudo isso?

- Hoje, finalmente, depois de quase duas semanas, fui visita-la no hospital. - dei uma pausa e continuei: - Antes de ir embora, ela me roubou um beijo. Ela sempre faz isso... - falei com um sorriso bobo.

- Ela te ama.

- Sera?! Sabe qual é o problema? - dei uma pausa e continuei: - É que mesmo depois de fazermos amor, ela disse que iria para Polônia acompanhando o marido. É exatamente como o Bruno que vai escolher a esposa, os filhos...

- Exatamente como a Helena fez com você... Escolheu o marido.

- Exato! Você me entende?!

- Sim, claro que sim. O Bruno nem entra em questão aqui, eu e ele tivemos um lance, e não uma história como você e a Helena ou você e a Vitória. - Vanessa deu uma pausa e continuou: - Depois ja está na hora de você parar de confundir a Helena com a Vitória, elas podem ser mae e filha, mas pessoas diferentes.

- Agiram da mesma maneira. - respondi irritada.

- Pode ser mas para mim esta evidente que as coisas fluindo ou funcionam de outra maneira. - deu uma pausa e continuou: - Vitória por exemplo, não tem medo de assumir um relacionamento gay, ela só não pode. Já a Helena escolheu o marido por covardia. - Vanessa comentou e me fez refletir, ela tinha razão.

- Eu criei um escudo interno e por mais que eu a ame, não posso, não consigo me abrir agora. - falei com lágrimas nos olhos.

- Você está magoada. - Vanessa concluiu.

- Muito magoada, a questão é que estou com dificuldade de confiar nas pessoas, no amor, me sinto insegura... - algumas lágrimas desceram pelo meu rosto, as limpei com as mãos.

Vanessa levantou e sentou ao meu lado no banco. Ficamos abraçadas por um tempo, ambas inconsoláveis, pois tinhamos questões.

- Você tem medo de ficar sozinha?- Vanessa saiu do abraço e indagou.

- Você não tem??? - devolvi a pergunta.

- Sinceramente, eu ando pensando muito no ditado de " antes só do que mal acompanhada". Para isso tenho meus amigos. - ela deu uma pausa e continuou: - Mas as vezes eu penso sobre não ter tido filhos, isso me faz sofrer.

- Sinceramente?! Não sei se filhos são a solução, Malu aprontou uma que se eu te contar você vai cair para trás. - contei sobre a Malu, Vanessa ficou pasma com o caso.

Conversamos mais um pouco, ja era tarde, retornamos para nossas casas.

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