Meu único Amor

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Amanheceu, e eu pouco dormi naquela noite. Acordei como sempre com Malu agitada, ainda era cedo, eu estava cansada, morrendo de sono, Malu pulava e me chamava para levantar.

- Acorda mamãe!!!

- Filha, só mais cinco minutos. - assim como uma adolescente, coloquei o travesseiro na cabeça. Malu puxou e falou.

- Acorda ! Acorda! - era impossível continuar dormindo. Sentei na cama e falei:

- Eu fui dormir muito tarde, mamãe está com sono...

- Mas é que não pode dormir tarde mãe!

- Você tem razão meu amor. - eu sorri, era realmente o que eu ensinava para ela quando me pedia para dormir mais tarde.

- Vai escovar seu dente que eu ja estou levantando. - pedi para a menina que prontamente me obedeceu. Eu fiquei sentada na cama pensando na Vitória, precisava falar com ela, eu não agi com maturidade. Estava muito confusa, Vitória lembrava Helena e eu estava com medo de estar confundindo as coisas, não poderia magoa-la. Além do mais eu estava certa de que Helena estaria decepcionada por eu estar me envolvendo com sua filha. Estava tudo errado e eu tinha que romper com aquilo, por mais que eu estivesse profundamente envolvida naquilo. Respirei fundo algumas vezes, fechava os olhos e vinham as cenas do que vivemos na madrugada. Ainda podia sentir o gosto doce da Vitória, o quanto ela era incrível e o quanto eu desejava que ela fosse uma completa estranha, talvez eu estivesse me apaixonando. Malu interrompeu meus pensamentos e descemos para  a cozinha. Chegando na cozinha as meninas ja estavam la reunidas, menos a Eloise. Eu estranhei.

- Bom dia... - falei com Vanessa e Laura ao entrar na cozinha.

- Bom dia mocinhas! - Vanessa respondeu animada, ja havia feito sua caminhada matinal, já a Laura estava com uma expressão fechada, apenas observei.

- Eloise não desceu ainda? - eu indaguei.

- Parece que o Júnior terminou com a namorada ontem e passou a madrugada mal... Eloise passou a noite em claro consolando ele. - Laura comentou. Eu senti um frio na espinha, pensei que se tivessem estado acordado, poderiam ter dado falta da Vitória também.

- Pobrezinho... Eles estavam juntos ha algum tempo não? - indaguei curiosa.

- Pelo que soube uns 6 anos... - Laura comentou. Ficamos em silêncio que foi quebrado por mim:

- Eloise não deve acordar tão cedo então.

- Você também está com olheiras... Passou a noite em claro? - Laura comentou, ela parecia desconfiada.

- Tive insônia fiquei pensando no caso de um paciente... - dei uma desculpa apressada. Malu que até então estava quieta mexendo no celular, resolveu falar:

-  A Vih estava lá no nosso quarto de noite... Ela e a mamãe estavam abraçadas. - Malu falou e eu gelei, Vanessa e Laura franziram a testa confusas e Laura principalmente me olhou mais desconfiada ainda. Malu tinha dessas, as vezes me fazia querer enfiar a cara em um buraco. Claramente eu corei e fiquei desconcertada.

- É, isso é verdade. Ela foi me contar sobre o gabarito da prova do vestibular. Nos abraçamos, pois ela fez muitos acertos.

- Que maravilha! Ao menos uma notícia boa, a Eloise vai ficar feliz. -Vanessa comentou.

- Laura, vamos sair para comprar os brinquedos? - desconversei.

- Sim sim, só vou no meu quarto me trocar e escovar os dentes e te aguardo na porta da entrada.

- Perfeito, vamos terminar o café e te encontro.

- Mamãe eu posso ir com vocês?

- Claro filha... - respondi Malu, Vanessa engoliu minha desculpa, mas Laura estava muito desconfiada, eu tinha que sondar o que estava acontecendo. Agilizei o café, e logo fomos encontrar Laura na entrada. Fomos no meu carro, dirigi até uma loja no centro que era bem grande e vendia de tudo no atacado. Durante a viagem não conversamos muito, Malu falava bastante e isso ajudava a não ficar um clima tão pesado.
Ao chegarmos na loja pegamos a lista do que iriamos comprar e fomos direto a seção de brinquedos. Malu se distraiu e me pediu diversas coisas, eu negava uma e concordava com outra, queria que ela tivesse uma boa experiência com isso. Pedi que ela escolhesse os brinquedos para as crianças carentes. Enquanto separavamos as coisas no carrinho, eu falei:

- As crianças vão ficar muito felizes...

- Helena que talvez não esteja, não é?- Laura finalmente soltou algo.

- Do que você está falando??? - indaguei curiosa.

- Não adianta me enganar Suzana... Sabe que sempre estive do seu lado quando você e a Helena ficavam.

- Shiiii... - fiquei preocupada da Malu ouvir. - Laura, eu não estou te entendendo.

- Eu vi a Vitória saindo do seu quadro ontem...

- Sim, ela foi la para me contar o resultado da... - fui interrompida pela Laura que completou:

- De cabelo molhado as três da manhã...

- Ok... - puxei Laura para um canto com medo que Malu nos escutasse. - Você me pegou.

- Suzana! Ela é uma criança...

- Adulta Laura, ela tem vinte e quatro anos.

-Nós a vimos nascer... Ela é filha da nossa melhor amiga. - Laura deu uma pausa e sussurrou: - Sua ex amante!

- Ela me provocou Laura, o que queria que eu fizesse?!

- Que não alimentasse isso.

- Eu... eu... Você tem razão. Sei que estou errada.

- Ela é jovem, tem uma vida inteira pela frente, além do mais a Helena não iria querer isso para ela.

- Desde quando você sabe o que a Helena queria para os filhos? - indaguei irritada.

- Desde que ela me contou... Suzana, Helena tinha planos importantes para os filhos.

- Eu sei disso e por isso eu levei Vitória para fazer a prova.

- Helena não iria gostar de saber que você está "comendo" a Vitória.

- Isso é grosseiro Laura! Não é assim...

- E como é então? O que Eloise pensaria? - Laura estava extremamente inquieta, eu respirei fundo recuperando o fôlego e falei:

- Ok... Se te deixa mais tranquila, eu vou conversar com a Vitória, não vai se repetir. Sei que estou errada, mas fui fraca, acabei me deixando levar, elas são tão parecidas...

- Ela não é a Helena. Suzana, nossa amiga se foi...

- Para você era "apenas" nossa amiga, para mim, o meu único amor.

- Eu sei... Não imaginava que você ainda sofria com isso.

- O que achava? Nao notou que nunca mais eu consegui me comprometer com ninguém?

- E a Malu?

- Já te contei sobre isso, ela é resultado de uma loucura, uma noite. Não gosto de homens e nem sei qual é o nome dele. - falei sussurrando para a Malu não escutar.

- Amiga... Olha, você precisa ser forte, não está sozinha, só não deixa mais isso ir para frente.

- E se eu estiver gostando dela? Se eu estiver me apaixonando mais uma vez na vida?

- Voce está se escutando?! Não! Não pela Vitória, filha da nossa falecida melhor amiga... Isso não é certo. Se quiser passo o número da minha terapeuta. - Laura bateu na mesma tecla, não adiantava conversar, insistir. A verdade era essa, eu não tinha controle dos sentimentos que estavam aflorando dentro de mim.
A  conversa terminou e era isso, Laura sabia de tudo, e não só sabia como também era terminantemente contra. Certamente Eloise iria se unir a ela e a única a ficar do meu lado talvez fosse a Vanessa, isso porque ela tinha essa cabeça mais moderna.
Compramos os brinquedos e voltamos para casa, as coisas entre eu e Laura estavam desconfortáveis, não trocamos muitas palavras, no trajeto de volta conversavamos com a Malu que sempre estava com aquele sorriso animado no rosto. Eu sentia uma angústia que parecia estrangular meu coração.
Assim que chegamos, deixei Malu com as meninas que estavam no escritório e fui para meu quarto. Eu tinha um nó na garganta. Assim que fechei a porta do quarto, me certificando que estava sozinha, caí em um choro copioso. Peguei a jóia que eu peguei no outro dia, a mesma que eu havia dado a Helena e pensei tantas coisas. Eu e Helena éramos tão felizes, unidas eu a amava tanto e eu tinha muito medo de estar realmente confundindo as coisas com a Vitória, eu jamais iria querer prejudicar ou fazer mal a ela. Pensei no beijo da Vitória, no seu toque e sua entrega ontem e por hora estava tão confuso para mim. Eu a desejava tanto que não podia imaginar que isso iria acontecer. Me recuperei do choro, enxuguei as lagrimas e saquei o celular no bolso da minha calça e resolvi mandar mensagem para ela...

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